Leia Mais
Documentos mostram que Operação Condor começou antes da criação oficialAcervo da ONU reforça elo de países na Operação CondorComissão da Verdade cria grupo para investigar Operação CondorSaiba mais sobre a Operação CondorSenado aprova projeto que tipifica crime de desaparecimento forçadoComissão da Verdade registra que Brasil criou e comandou Operação CondorMário Marcos de Souza, jornalista, relembra histórias com o amigo de infância: “A minha rua era de terra batida em Criciúma, na chamada Vila Operária, com uma fila de casinhas todas iguais, de madeira, de quatro peças, feitas apenas para trabalhadores e nós morávamos em uma daquelas. No fim dessa rua, tinha a casa do médico, onde o pai do João Batista era caseiro, e tinham um filho da idade dele. Nós três convivíamos muito, brincávamos de bola nos terrenos da redondeza, corríamos pela rua, jogávamos bolinha de gude, conversávamos e estudávamos juntos, éramos amigos de infância.”
Depois, João Batista seguiu para Porto Alegre para estudar. Foi então que ele ingressou no movimento político de esquerda M3G – Marx, Mao, Marighella. O irmão Romilton Rita conta o medo que João tinha de expor a família por ter se tornado um militante de esquerda na época. “Quando ele vinha visitar família aqui, vinha no fim de semana e chegava no meio da madrugada. Nunca dizia o nome quando batia na porta. Ele batia na porta e não dizia que era o João. Ele falava com voz alterada . Ele achava que podia ter alguém na rua esperando ele chegar para visitar a família.”
Em 1970, João Batista foi preso após tentativa frustrada do sequestro do então cônsul norte-americano na capital gaúcha. No ano seguinte, fez parte do grupo de militantes políticos libertado em troca de um embaixador suíço que havia sido sequestrado. Em seguida, recebeu asilo político no Chile. Quando o presidente chileno Salvador Allende é deposto, em 1973, João fugiu para a Argentina. Na capital argentina, Buenos Aires, desapareceu junto com o ex-major Joaquim Pires Cerveira, também militante do movimento de esquerda. Os dois são considerados vítimas da Operação Condor. Desde então, as famílias nunca mais tiveram notícias dos dois.
Segundo o presidente do Movimento de Justiça e Direitos Humanos, Jair Krischke, ainda pairam dúvidas sobre o desaparecimento de 13 brasileiros fora do país, por causa da Condor. O número é reconhecido pelo governo federal. “Todos foram vítimas. Porque se pode ver por meio de documentos como eram monitorados.”
Para Maria Rita, a falta de respostas sobre o que aconteceu com o irmão é um de seus maiores sofrimentos. “A gente precisa ter um final, um corpo, saber o que aconteceu, ter um retorno disso. A gente não tem. O que dói é que ele deu a vida pela democracia, e ficou por isso. Até hoje a gente não tem um corpo para chorar, não sabe o que aconteceu.”