A luta para conhecer o paradeiro de uma irmã e dois sobrinhos presos durante o regime militar contada por Ângela Pezzuti emocionou desde antigos colegas de militância política – que já conhecem bem sua história – até estudantes secundaristas que ouviram pela primeira vez o relato de alguém que viveu de perto a repressão. Nessa segunda-feira, em audiência pública da Comissão Nacional da Verdade (CNV) na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) o depoimento da aposentada foi um dos pontos altos do encontro, que reuniu ex-estudantes da instituição vítimas da ditadura, familiares que sofreram violações de direitos humanos e alunos da universidade e de outras escolas mineiras.
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O tom emocional começou na homenagem feita na abertura, quando imagens de 11 estudantes mineiros mortos ou desaparecidos durante o regime militar receberam aplausos e gritos de agradecimentos dos estudantes presentes. Em seguida, Rosa Maria Cardoso, integrande da CNV, apresentou os trabalhos que estão sendo feitos pelo grupo desde sua criação em maio e destacou a importância da participação da sociedade para a construção do material final da comissão que será entregue em maio de 2014. “Viemos para uma audiência temática para ouvir e debater a violência vivida dentros das universidades, contra estudantes, funcionários e professores. É uma das nossas frentes de trabalho que ajuda a construir esse nosso passado, ao lado da sociedade civil e das instituições. A outra frente está em andamento com nossos grupos de trabalho, com levantamento de informações sobre temas específicos como os fatos no Araguaia, os locais e aparelhos de repressão e os mortos e desaparecidos”, explicou Rosa.
Memoriais
Hoje, os integrantes da comissão – além de Rosa Cardoso, estão na capital mineira José Carlos Dias e Maria Rita Kehl – se encontram com representantes da sociedade civil na sede da seção mineira da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-MG) para solicitar que os prédios utilizados pelo regime militar no estado sejam transformados em memoriais, como é o caso da sede do Dops, na Avenida Afonso Pena. A entidade assinou ontem um convênio com a CNV para participar na troca de informações e de arquivos reunidos no estado. Depois, os representantes da comissão serão recebidos para um almoço pelo governador Antonio Anastasia (PSDB). Um dos temas em discussão é a parceria já em andamento para a digitalização do acervo do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos Humanos (Conedh), que recentemente revelou documentos até então desconhecidos sobre locais de tortura usados pelos militares durante o período.
Vínculo com dilma
Ângelo Pezzuti da Silva, filho de Ângela, foi um dos líderes do Comando de Libertação Nacional (Colina), grupo de combate à ditadura que a presidente Dilma Rousseff fez parte, quando morava em Belo Horizonte. As ligações dela com Pezzutti foram os principais motivos da tortura que a presidente sofreu em Juiz de Fora, conforme revelado pela série de reportagens A tortura de Estela contada por Dilma, publicada pelo Estado de Minas e finalista do Prêmio Esso de Jornalismo. “Não era sobretudo sobre minha militância em Minas Gerais. Supuseram que, tendo apreendido documentos do Ângelo (Pezzuti) que integram o processo, achavam que nossa organização tinha contatos com a PM ou PC mineira que possibilitassem fugas de presos. Acredito ter sido por isso que a tortura foi muito intensa, pois não era presa recente; não tinha ‘pontos’ e ‘aparelhos’ para entregar”, conta Dilma em parte do depoimento revelado pelo EM. Um dossiê encontrado no Arquivo Nacional, em Brasília, guarda um depoimento de Pezzuti, que confirma ter escrito um bilhete solicitando a Dilma ajuda para fugir da prisão.