Jornal Estado de Minas

Disputa em segundo turno segue acirrada em quatro municípios de Minas

Reta final da campanha nas quatro cidades mineiras onde haverá eleição no domingo é marcada por ataques entre os candidatos e seus padrinhos

Daniel Camargos, Juliana Cipriani, Leonardo Augusto, Luiz Ribeiro e Marcelo da Fonseca

Apoios, visitas a regiões importantes do município, ataques e muita argumentação. Em comum, os oito candidatos que disputam o segundo turno das eleições em Minas Gerais têm o tempo apertado para tentar inverter ou definir suas situações. Em Juiz de Fora, na Zona da Mata, o deputado estadual Bruno Siqueira (PDMB) e a ex-reitora Margarida Salomão (PT) terão uma série de debates em que o primeiro vai enfatizar o apoio dos governos federal e estadual e a segunda tentar ligar o adversário ao prefeito Custódio Mattos (PSDB), derrotado nas urnas no primeiro turno. Em Contagem, Durval Ângelo (PT) quer minimizar o peso da entrada do governador Antonio Anastasia (PSDB) e do senador Aécio Neves (PSDB) na campanha de Carlin Moura (PCdoB). Em Uberaba, no Triângulo Mineiro, os candidatos também apostam na força dos caciques partidários.

O deputado estadual Lerin (PSB) terá no palanque o ex-craque de futebol Romário, hoje deputado por seu partido, e o deputado federal Paulo Piau (PMDB) contará com o vice-presidente Michel Temer (PMDB). Sem visitas de padrinhos na reta final, em Montes Claros, Norte de Minas, a briga é acirrada para conquistar os indecisos. Os ataques de lado a lado marcam as investidas do deputado estadual Paulo Guedes (PT) e do ex-deputado Ruy Muniz (PRB) para comandar a prefeitura.

Contagem - Diga-me com quem andas

Os últimos dias da acirrada campanha eleitoral em Contagem, na região metropolitana, devem ser pautados por uma briga em razão de apoios políticos. Enquanto o candidato Carlin Moura (PCdoB) vai explorar os novos aliados do PSDB, com a exibição de um depoimento do senador Aécio Neves em seu programa de televisão e um ato com o governador Antonio Augusto Anastasia, o adversário, Durval Ângelo (PT), vai trabalhar para que essas presenças no palanque adversário pesem negativamente. O petista vai ligá-los ao ex-prefeito da cidade Ademir Lucas (PSDB), rejeitado pelas urnas no primeiro turno.

A adesão dos tucanos à candidatura de Carlin foi formalizada ontem, em reunião do conselho político da campanha. O presidente estadual do PSDB, Marcus Pestana, assinou um documento chamado pacto por Contagem, pelo qual foram acordados 10 pontos programáticos, incluindo a união dos governos municipal, estadual e federal por ações para a cidade. No texto, os partidos colocam ainda como prioridade as áreas da educação, saúde, desenvolvimento econômico e sustentabilidade. Carlin coloca ainda como objetivo uma ação integrada entre os municípios da Região Metropolitana de Belo Horizonte.

Amanhã, Carlin faz uma plenária com a participação do governador Anastasia, do prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda (PSB), e do prefeito eleito de Betim, Carlaile Pedrosa (PSDB), para pregar a ideia de um pacto metropolitano. “Isso reforça a nossa linha de conduta no primeiro e segundo turno, que é a união de esforços de todos a favor de Contagem. Estamos fazendo uma campanha suprapartidária, pensando no interesse da cidade e não dos partidos”, afirmou o candidato. Carlin também exibiu no programa o apoio do deputado federal George Hilton (PRB), que concorreu à prefeitura sem chegar ao segundo turno.


Durval Ângelo segue com a participação da prefeita Marília Campos (PT) nos grandes atos de campanha, mas terá o desfalque da presidente Dilma Rousseff e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que não vão aparecer em Contagem. A estratégia do candidato é vincular Carlin Moura a políticos com grande rejeição na cidade. Na mira estão o deputado federal Newton Cardoso (PMDB), cujo partido apoia a campanha de Carlin e o tucano Ademir Lucas. “É até melhor para mim que fiquem claros esses apoios, porque fica evidente que eu não estou no passado. Está arrepiando o povo de Contagem saber que o Newton e o Ademir vão voltar à prefeitura, através desse pseudo discurso de novo”, afirmou o petista.


Outra pulga que Durval pretende colocar na orelha do eleitor é o fato de vários partidos estarem aderindo à campanha de Carlin. Na visão do petista, isso pode levar a um loteamento de cargos na administração. Outra frente é se defender dos ataques sofridos ao longo da campanha por sua participação à frente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia. Para defendê-lo da pecha de “defensor de bandido”, ele traz hoje a Contagem o teólogo Leonardo Boff, conhecido por sua atuação na área dos direitos humanos. Ele participa o dia todo de ações com o candidato.


Durval participou ontem de reunião da comissão da verdade na Universidade Federal de Minas Gerais, onde cobrou a postura do adversário comunista. “Estamos em uma homenagem a sete alunos mortos, três do PCdoB. Essa atitude em Contagem devia envergonhar esses estudantes. Não vi nenhum dirigente do PCdoB presente”, disse. O candidato disse ter gravações de Durval, Tilden Santiago (PSB) e Mário Caixa (PCdoB) no primeiro turno da eleição, dizendo que ele seria defensor de bandido.

Juiz de Fora - debates dão o tom

A última semana da campanha em Juiz de Fora, na Zona da Mata, será marcada por debates. Serão três, dois em redes de televisão e um em uma emissora de rádio. O confronto direto ganhará relevância, já que os caciques políticos que apoiam os candidatos Bruno Siqueira (PMDB) e Margarida Salomão (PT) não vão até a cidade fazer campanha para seus afilhados.

Bruno, que declara estar à frente nas pesquisas, garante que manterá o tom “light” da campanha, sem críticas a Margarida. “Vou continuar divulgando as propostas, principalmente, as mudanças em relação à administração municipal”, frisa Bruno. A tentativa de se desvincular do atual prefeito, Custódio Mattos (PSDB), é uma resposta às declarações de Margarida, que buscam ligar o peemedebista ao tucano.

Custódio foi rejeitado pelas urnas e teve apenas 60.378 votos (21,09% dos votos válidos). No primeiro turno Bruno ficou na frente, com 115.267 votos (40,26%), Margarida teve 106.487 (37,19%). Juiz de Fora é o quarto colégio eleitoral de Minas Gerais, com 386.662 eleitores. Bruno recebeu o apoio do PSDB, mas não terá a presença dos principais líderes tucanos: o governador Antonio Anastasia e o senador Aécio Neves.


“Não sei se ele (Bruno) é o candidato do Custódio, mas ele é o candidato do PSDB e usa como argumento sua relação com o governador Anastasia (PSDB)”, afirma Margarida. “Ao fazer essa associação é lógico que ele tem vantagem de um lado, mas desvantagem de outro”, complementa. A petista também cogitou a presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na cidade, porém a viagem foi descartada para não melindrar o PMDB, aliado do governo federal e partido do adversário de Margarida.

Bruno, por sua vez, destaca que tem o apoio do governo estadual e também do governo federal, pois seu partido é o principal aliado da presidente Dilma Rousseff. “É muito importante para a cidade o apoio do governo federal e do governo estadual, principalmente, do Anastasia”, afirma. Já Margarida vai intensificar a divulgação de sua última proposta, uma redução de 10% no IPTU e de 2% do ISS. A petista afirma que o tracking encomendado por sua campanha aponta um crescimento da candidatura, que se aproxima do adversário.


Montes Claros - Panfletos apócrifos


A campanha de segundo turno em Montes Claros, travada entre os candidatos Paulo Guedes (PT) e Ruy Muniz (PRB), esquentou com a presença de ministros e maior número de cabos eleitorais, bandeiras e cavaletes nas ruas. Todo o esforço é feito em busca de conquistar os indecisos, cujo percentual estaria acima dos 10%, de acordo com pesquisas recentes. O aparente clima de tranquilidade do primeiro turno foi trocado pelo vale-tudo, com a distribuição de panfletos apócrifos. Os ataques aos candidatos nas redes sociais se multiplicaram.

Ainda no início da campanha, simpatizantes da candidatura de Guedes garantiram que se ele fosse para o segundo turno, receberia a visita do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Como Lula, assim como a presidente Dilma Rousseff, decidiu priorizar apenas algumas capitais, o jeito de tentar compensar a ausência dos caciques petistas foi garantir a presença dos ministros nesta semana que antecede a eleição. Anteontem, Paulo Guedes recebeu o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, que participou de uma carreata. Ontem à noite, foi a vez do titular da Saúde, Alexandre Padilha, que participou de um encontro com líderes políticos e a militância no espaço de eventos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), no Bairro Ibituruna.


Ainda do lado petista, ficou visível o reforço do trabalho dos cabos eleitorais. “Não existe nenhuma ofensiva, mas sim um planejamento feito do início da campanha para reforçar o trabalho nas ruas na reta final, assim como ocorreu no primeiro turno”, salientou Alec Duarte, da equipe de comunicação de Paulo Guedes. O deputado também passou a fazer uma campanha mais agressiva, tentando colar o nome do seu adversário, Ruy Muniz, ao do prefeito Luiz Tadeu Leite, pelo fato de o representante do PRB ter o apoio do PMDB, partido do atual chefe do Executivo.


Ruy Muniz também reforçou a propaganda nas ruas. Ontem foi feito um grande encontro com líderes e moradores da Zona rural no Parque de Exposições de Montes Claros. A coordenação da campanha de Ruy Muniz reclamou da distribuição, nos últimos dias, de panfletos apócrifos, com ataques pessoais ao candidato, reproduzidos também em mensagens enviadas por telefone celular e pelas redes sociais. O comando da campanha petista nega a autoria de material ofensivo ao adversário. “O que sabemos é que estão circulando panfletos, falando absurdos contra o Paulo Guedes, também divulgados na internet. Mas não atribuimos a origem a ninguém. Apenas supomos de onde pode estar vindo esse tipo de ataque”, insinua Alec Duarte.


Uberaba - Vice-presidente X craque de futebol


A última semana da campanha de segundo turno pela Prefeitura de Uberaba, no Triângulo Mineiro, terá, de um lado, o ocupante do segundo cargo público mais importante da República e, do outro, um dos maiores jogadores de futebol da história do país. O deputado e ex-craque Romário (PSB-RJ), atacante da seleção campeã da Copa do Mundo de 1994, desembarca na cidade até sexta-feira, para pedir votos ao candidato do seu partido no município, o deputado estadual Lerin. O ex-jogador vai medir forças com o vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB), que desembarca hoje para participar de caminhada com o concorrente de sua legenda à prefeitura, o deputado federal Paulo Piau.

O parlamentar anunciou na tarde de ontem apoio do PPS à sua candidatura. O partido ficou em sexto lugar na disputa, com Edson Santana, que não compareceu ao ato de adesão à campanha do PMDB. Os outros três concorrentes que não conseguiram ir ao segundo turno, Adelmo Leão (PT), Wagner do Nascimento Júnior (PTC) e Fahim Sawan (sem-partido), já haviam declarado apoio a Piau.


Lerin amenizou a ida de adversários para o lado do peemedebista. “Os candidatos foram, mas os eleitores ficaram comigo”, disse. Ao lado do candidato ficou o PSDB, que teve Fahim Sawan como candidato. As duas principais lideranças dos tucanos em Minas, o governador Antonio Augusto Anastasia e o senador Aécio Neves, no entanto, apoiaram Lerin desde o início da campanha, o que provocou a saída de Sawan da legenda.


A agenda de Michel Temer em Uberaba terá, além de encontro com lideranças, caminhada pelo bairro Girassol, onde o governo federal construiu um conjunto habitacional do Programa Minha Casa, Minha Vida. No sábado, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel (PT), esteve na cidade. Já a participação de Romário na campanha de Lerin ainda não foi definida. Na sexta, o senador Aécio e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), pediram votos para o candidato.