Jornal Estado de Minas

Desempate e análise das penas marcam final do julgamento do mensalão no STF

Empate poderá absolver réu

Ana Maria Campos

Na reta final do julgamento do mensalão, com 25 dos 38 réus condenados, ainda há questões fundamentais a serem resolvidas pelos ministros antes do veredicto sobre quem vai ou não para a cadeia. As dúvidas sobre como proceder em casos de empate e como calcular as penas ainda precisam ser dirimidas. Os debates devem ocorrer na sessão desta terça-feira, convocada na tentativa de encerrar a análise da denúncia nesta semana, depois de quase três meses dedicados ao tema. O presidente do STF, Carlos Ayres Britto, dono do voto de qualidade, segundo prevê o regimento da Corte, declarou nessa segunda-feira que, em sua convicção, o empate beneficia o réu em matérias penais, mas que o tema terá que ser discutido com a Corte.

A tese da aplicação do princípio in dubio pro reo vem sendo defendida por especialistas na área, como fez ontem o ex-presidente do STF Carlos Mário Velloso, em almoço-palestra na Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) sobre “A ética na política e nas empresas privadas”. “Se fosse presidente, eu daria o meu voto condenando ou absolvendo. E, depois, no voto de qualidade, entenderia que se há empate é porque há dúvida. E a dúvida deve favorecer o réu”, considerou Velloso.

O voto de minerva já ocorreu em um processo relacionado a questão de matéria constitucional, durante a análise da aplicação da Lei Ficha Limpa, quando o então presidente, Cezar Peluso, fez valer a previsão regimental, desempatou e possibilitou a posse do senador Jader Barbalho (PMDB-PA).

No caso de condenações penais o debate é inédito, mas em habeas corpus já é pacífico que o empate leva à revogação da prisão. Em tribunais, quando há chance de impasse, o presidente da turma dá um voto, sem participar anteriormente.

Ao comentar a possibilidade de ter de desempatar seis casos, Ayres Britto disse ontem: “Em pronunciamentos outros já me manifestei no sentido de que o empate opera em favor do réu”. E acrescentou: “Lógico que isso será objeto de debate e posso até refluir”.

Estão em jogo as sentenças do deputado federal Valdemar Costa Neto (PR-SP), do ex-tesoureiro do PL (hoje PR) Jacinto Lamas e de Vinícius Samarane, do núcleo financeiro, no crime de formação de quadrilha, e dos ex-deputados José Borba (PMDB-PR), Paulo Rocha (PT-PA) e João Magno (PT-MG), além do ex-ministro dos Transportes Anderson Adauto, por lavagem de dinheiro.

Ainda não há definição sobre quem vai participar do cálculo do tempo que os acusados vão passar na prisão. O revisor do processo, Ricardo Lewandowski, declarou anteriormente que não acompanharia o debate sobre as penas a serem aplicadas aos réus que absolveu em seus votos. Essa posição, no entanto, ainda será discutida. Para alguns ministros, não há lógica que magistrados votem sobre o tempo de cadeia de um réu que considerou inocente. Também falta bater o martelo sobre como será a chamada dosimetria, o cálculo das penas: uma média do voto dos ministros ou votação sobre qual punição aplicar. (Colaborou Bertha Maakaroun)