Jornal Estado de Minas

Mensalão demonstra falta de força nas urnas

Helena Mader
A repercussão do julgamento do mensalão levou à crença de que o caso teria um impacto considerável nas eleições municipais. A análise da Ação Penal 470 começou apenas dois meses antes do primeiro turno e o mais célebre caso de corrupção da recente história política brasileira virou munição para os rivais de candidatos petistas ou de aliados do governo. Mas de forma surpreendente, à medida que o julgamento avançava, com número expressivo de condenações, a influência do mensalão sobre os rumos da política municipal caía de forma proporcional.
Na largada das campanhas, não foram poucos os candidatos que levantaram o tema para tentar sensibilizar o eleitorado. Em São Paulo, o tucano José Serra tentou por sucessivas vezes vincular o rival, o petista Fernando Haddad, ao mensalão. Em Salvador, o candidato do DEM, ACM Neto, explorou tanto o julgamento da Ação Penal 470 que a Justiça Eleitoral teve que intervir e proibir que seu programa eleitoral fizesse qualquer menção ao caso. O petista Nelson Pelegrino ainda conseguiu direito de resposta de seis minutos.

O cientista político Fábio Wanderley Reis, professor emérito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), acredita que as tentativas de usar o tema nas campanhas foram fracassadas. "Claramente, não houve nenhum efeito apreciável do uso do mensalão nas eleições", garante. Por outro lado, ele acredita que o julgamento terá um reflexo político. "Os partidos vão rever suas práticas com relação a alguns temas, especialmente sobre o caixa dois".

Para o cientista político Rafael Cortez, analista da Tendências Consultoria Integrada, a renovação dos quadros do PT é um dos sinais de que o mensalão teve efeitos políticos. Mas ele concorda com o fato de que o julgamento causou impacto eleitoral mínimo. O especialista lembra que o tema já é explorado exaustivamente nas campanhas desde 2006, portanto esta é a quarta disputa eleitoral desde que o escândalo estourou. "Boa parte do efeito já havia sido sentido". Segundo ele, os principais efeitos foram percebidos em disputas anteriores. "O mensalão quebrou a aura do PT e levou o partido a se repensar. Surgiram novos quadros, como o próprio Haddad, e o partido teve de rever estratégias".

GERAÇÃO O presidente do PT em São Paulo, deputado estadual Edinho Silva, nega que o surgimento de novos nomes tenha relação com o mensalão. "O que ocorre no PT é a ascensão de uma nova geração, mas ruptura ou sem descontinuidade". Ele reconhece que havia um receio de que o mensalão influenciasse negativamente as campanhas petistas e conta que o partido se surpreendeu com 'a ausência completa' de influência nas eleições. O deputado federal Walter Feldman (PSDB-SP), coordenador de mobilização da campanha de Serra, reconhece que os tucanos apostavam no mensalão para alavancar as votações.