Jornal Estado de Minas

Dilma passou no teste do carisma

A presidente, que chegou a ganhar um bambolê de um aliado por não ter "gingado eleitoral", mostrou que está mais à vontade no palanque

Paulo de Tarso Lyra
A presidente Dilma Rousseff está no palanque do candidato do PT à prefeitura, Márcio Pocchmann. Ao seu lado, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O jingle do candidato toca no alto-falante: "Todos da família votam no 13". De repente, um militante estende os braços para o palco e grita: "Dilma, Dilma! Meu pai é 13, minha mãe é 13, meu irmão é 13, eu sou 13, minha mulher é 13. Lá em casa só a minha sogra é tucana!".
O envolvimento dos militantes nos comícios petistas, tão comum na época do Lula presidente, está sendo retomado nos eventos que contam com a presença de Dilma Rousseff. A líder política dura, até meio sem jeito para encarar essas manifestações partidárias, que chegou a ganhar um bambolê do líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), para "ter mais jogo de cintura", está aprendendo os passos do gingado eleitoral. "A Dilma de hoje é muito diferente da Dilma da campanha presidencial de 2010. Ela está muito mais à vontade para fazer discursos em público", disse um aliado.

Também passou, surpreendentemente, a ser requisitada. No primeiro e, especialmente, no segundo turno das eleições municipais, uma avalanche de pedidos chegou ao Diretório Nacional do PT e ao Palácio do Planalto. Não havia um candidato da base que não quisesse ter a presidente ao lado para pedir votos. Justamente ela, que passou 2011 e boa parte de 2012 sendo demonizada por congressistas, que não se cansavam de expor as saudades que sentiam de Lula e de seu jeito de negociar com os aliados, de repente passou a ser vista pelos mesmos políticos, muitos travestidos de candidatos, como alguém capaz de decidir uma eleição.

Para o presidente nacional do PCdoB, Renato Rabelo, que não sossegou enquanto não levou a presidente ao palanque de Vanessa Grazziotin, candidata dos comunistas à Prefeitura de Manaus, o sucesso de Dilma está muito atrelado aos índices estratosféricos de aprovação que ela coleciona nesses 22 meses de governos. "Ela conseguiu um capital político que não pode ser dispensado por nenhum candidato", sentenciou Rabelo.

Na opinião dele, essa relação é de mão dupla, boa também para a presidente, não apenas para os políticos. Daqui a dois anos, ela será candidata à reeleição e precisará de uma rede de apoios que a ampare nessa caminhada. "Dilma é muito sagaz, percebeu que o estilo inicial precisava ser adaptado", acrescentou.

Outro aliado "encantado" é o vice-presidente do PSB, Roberto Amaral (RJ), que lembra: "Todos ganham com isso. E não há como negar que ela está muito mais solta, mais desenvolta".

Maternal O fato de ser a primeira mulher a presidir o país também confere a Dilma um tratamento diferenciado. Quando esteve, ainda no primeiro turno em Belo Horizonte, para ajudar o amigo e companheiro de partido Patrus Ananias (PT) - Marcio Lacerda (PSB) acabou reeleito em primeiro turno -, Dilma desceu do palanque oficial para encontrar-se com algumas mulheres que tinham sido removidas de áreas de risco e ganharam moradias do Minha Casa, Minha Vida. "A presidente está muito identificada com as mulheres e começa a se aproximar cada vez mais dos eleitores, em uma relação quase maternal", declarou ao Estado de Minas um interlocutor do PT.

É bem verdade que a mãe acolhedora, na visão dos eleitores, ainda tem seus rompantes de mãe brava com aliados. E nem sempre está aberta a brincadeiras ou piadinhas. No comício em Manaus, por exemplo, segundo relato de quem estava no palanque, Vanessa Grazziotin empolgou-se e queria que todos cantassem o jingle da campanha. Passou o microfone de boca em boca até chegar a vez da presidente. Sem a menor disposição para cantar em público, Dilma olhou para a candidata, olhou para o microfone, e não teve dúvidas: empurrou o equipamento para a ministra da Articulação Política, Ideli Salvatti, já acostumada a socorrer a presidente quando a paciência dela com os políticos acaba.