Jornal Estado de Minas

Um terço do eleitorado não votou no segundo turno

Amanda Almeida
Seja por não ter comparecido às sessões eleitorais ou por ter votado branco ou nulo, cerca de 30% do eleitorado brasileiro não participou da escolha dos 50 prefeitos eleitos em segundo turno. Para cientistas políticos, a alta taxa de abstenção e de votos considerados inválidos é resultado de um conjunto de fatores, que inclui desilusão política, falta de renovação de lideranças e até a crença absoluta na vitória ou na derrota de seu candidato. Apesar de divergir sobre a manutenção do voto obrigatório, eles apontam a necessidade de uma reforma política.
Embora a presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministra Cármen Lúcia, tenha reagido com preocupação aos 19,11% de abstenção – ou 6.054.580 faltosos –, o segundo maior índice da história, o cientista político e professor da Fundação Getulio Vargas Francisco Fonseca lembra que a média histórica de falta nas urnas é alta no país. “Com os brancos e nulos, temos sempre um índice grande, o que inclui parcela de protesto”, diz. Ele atribui o resultado a três fatores: “O sistema político é confuso, com muitos partidos; a vida política é privatizada; e o eleitor só vê notícias que ligam a política à sujeira”.

Para Fonseca, é hora de uma reforma política. Nas redes sociais, muitos eleitores defenderam, no domingo, o voto facultativo. O professor é contra. “A obrigatoriedade ainda é importante, porque tira uma camada importante da passividade política. Caso contrário, correríamos o risco de ter uma eleição elitizada”, avalia Fonseca. Opinião contrária à do professor emérito da Universidade Federal de Brasília (UnB), David Fleischer. “O brasileiro já está muito mais informado. Algumas pesquisas mostram que o pobre não deixaria de votar, porque tem noção de que é uma arma para lutar por melhorias.”

Fleischer explica a alta abstenção pela ideia de “já ganhou” ou “já perdeu”. “Em muitas cidades, como São Paulo, as pesquisas eleitorais mostravam vitórias com folga. Então, muitos eleitores não viram necessidade de seu voto. Em outras, como Fortaleza, a disputa acirrada favoreceu o comparecimento”, diz. A Comissão de Reforma Política do Senado, por ora, defende o voto obrigatório, temendo alta abstenção nas urnas.