Brasília – O julgamento do mensalão no Supremo Tribunal Federal está na fase final, mas a proclamação do veredicto e a definição das penas dos acusados não serão o desfecho do caso, que poderá ter novas investigações. À medida que a Ação Penal 470 se aproxima do fim surgem novas denúncias envolvendo o empresário Marcos Valério. Ele é considerado o operador do esquema e um dos principais líderes da quadrilha que desviou recursos públicos para comprar apoio político para o PT. Diante de novos fatos e novos nomes, restam dúvidas: o STF e a Procuradoria Geral da República (PGR) ainda não definiram o que fazer com as denúncias que Valério promete fazer, caso seja beneficiado com redução de penas graças à delação premiada. Pelo menos em um ponto, magistrados da Suprema Corte e integrantes da PGR são unânimes: novas apurações não vão influenciar a conclusão do julgamento. O ministro Marco Aurélio Mello garante que nada pode afetar o andamento da Ação Penal 470. "Para não criar esperança vã, é preciso dizer que novos fatos podem frutificar em outros processos, em outras áreas jurídicas, mas não na AP 470. Em direito, não se volta a uma fase ultrapassada, a não ser que haja previsão na lei. E no caso, não há nenhuma previsão", explica". O ministro lembra da tentativa da defesa do ex-deputado Roberto Jefferson de incluir o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva entre os réus na fase de sustentação oral. "O advogado de Roberto Jefferson insistiu na chamada do ex-presidente Lula no processo e dissemos que a iniciativa não seria nossa, a titularidade da ação é do MP, já tínhamos decidido e proclamado isso", lembrou. "O ministro Joaquim Barbosa já comentou que Marcos Valério gosta de manter a turma meio em suspense. Mal comparando, é como Durval Barbosa (delator da Caixa de Pandora), que vai soltando informações aos poucos", comentou. Extorsão Na edição que começou a circular ontem, a revista Veja afirma que, em novo depoimento prestado ao Ministério Público, o Marcos Valério contou ter informações sobre o assassinato do prefeito de Santo André, Celso Daniel, em 2002. Segundo a publicação, Valério teria afirmado à PGR que Lula e o ministro Gilberto Carvalho, hoje secretário-geral da Presidência, foram extorquidos por um empresário de Santo André envolvido no pagamento de propina a integrantes da prefeitura. O empresário Ronan Maria Pinto teria se encontrado com o então secretário-geral do PT, Sílvio Pereira, e com Valério para negociar o pagamento exigido por ele. Marcos Valério teria se recusado a arrecadar recursos para repassar a Ronan, mas garante que um amigo do ex-presidente Lula teria acertado o valor. A assessoria do ministro Gilberto Carvalho desmente as afirmações da publicação e garante que ele nunca teve conhecimento de qualquer extorsão praticada por Ronan. O advogado de Silvio Pereira, Gustavo Badaró, negou que ele tenha envolvimento com o caso: "Meu cliente está com o processo contra ele suspenso e não figura entre os réus da Ação Penal 470".