Jornal Estado de Minas

Brasileiros ainda estão usando pouco o Facebook e o Twitter para o debate político

Levantamento feito por site que monitorou as postagens de cunho eleitoral durante a campanha

Não é de hoje que números os mais variados apontam para o desinteresse do eleitor com as disputas pelas vagas no Parlamento e no Executivo. Neste ano, outros dados vêm se somar ao "rosário de estatísticas" das eleições país afora. A exemplo dos 30% dos eleitores que deixaram de votar no segundo turno, chama a atenção também que nem nas redes sociais as campanhas dos candidatos empolgaram os internautas brasileiros, se comparados ao número de usuários ativos nas redes sociais. "Os números verificados ficaram bem aquém", atesta Wagner Meira, coordenador do site Observatório das eleições – uma parceria dos departamentos de Ciência da Computação, História e Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Vale lembrar que o Brasil tem 54 milhões de usuários no Facebook e 19,6 milhões no Twitter, ocupando o segundo e quarto lugares no ranking mundial, respectivamente. "Por uma questão cultural, que é falta de interesse de uma maneira geral pela política, os candidatos ainda não conseguiram levar o debate, de forma vigorosa, para a rede", avalia Wagner Meira.

O Observatório das eleições monitorou, entre 31 de julho e 7 de outubro, a repercussão da campanha eleitoral de candidatos a prefeito em 14 capitais – Belo Horizonte, Belém, Cuiabá, Curitiba, Florianópolis, Fortaleza, Goiânia, Manaus, Natal, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo. Nem mesmo a capital dos paulistas, que ocupa o primeiro lugar nos dados coletados pelo Observatório das eleições, conseguiu um público significativo nesse período de pouco mais de dois meses de monitoramento. No Facebook, 113.519 usuários se ocuparam com mensagens relacionadas à campanha eleitoral. No caso do Twitter, esse número foi ainda menor, exatos 94.785.

Outra informação que comprova o baixo interesse relativo no debate político durante as eleições é revelada pelo conteúdo postado pelos internautas. O site ainda não transformou esses dados em números, mas Meira pontua que o acompanhamento diário não deixou dúvidas de que a piada, a troça e o escárnio envolvendo os candidatos ganharam disparados. "Tanto é verdade que um dos usuários campeões de audiência e com maior influência (medido pelo compartilhamento das mensagens) é o Zé Simão", afirma Meira, se referindo ao jornalista que faz sátira sobre o cenário político em uma coluna de um jornal paulista.

Outro conteúdo também constante, segundo o coordenador do site, diz respeito a denúncias, em geral envolvendo mensagens relativas a conteúdos classificados de "baixarias". Em Belo Horizonte, dos sete candidatos que disputaram a prefeitura, o prefeito reeleito Marcio Lacerda (PSB) foi o que mais ataques sofreu durante as eleições. No Facebook, foram 26.860, contra 7.356 sofridos pelo candidato Patrus Ananias (PT). No Twitter, 14.276 ataques foram desferidos contra Lacerda, além de outras 7.132 mensagens ofensivas cujo alvo era Patrus. "O debate de propostas observado é insignificante," afirma Meira. Assim mesmo, informa ele, a discussão partia dos internautas e não das assessorias dos candidatos.

Filtro Por meio do site Observatório das eleições (https://observatorio.inweb.org.br/eleicoes/destaques/) é possível filtrar os dados por cidade, candidato, partido e evento. Outra funcionalidade foi o acompanhamento em tempo real dos tweets e facebooks relacionados à disputa eleitoral. Os eventos de campanha (debates televisivos e dias de votação) também foram monitorados pelo site, de modo que foi possível acessar, mesmo depois de tais eventos, as postagens feitas nas redes sociais. Há também links de notícias e dos vídeos postados no YouTube mais compartilhados pelas redes sociais e a "nuvem de tags", que apresenta as expressões mais utilizadas pelos internautas em suas publicações.

Em 1º de janeiro do ano que vem, o Observatório das eleições vai inaugurar mais uma ferramenta para monitorar, desta vez, as administrações municipais. A partir dessa data, que coincide com a posse dos prefeitos das 14 capitais, alguns temas mais relevantes das gestões dos municípios serão acompanhados, entre eles saúde, educação, mobilidade urbana e segurança pública. "Queremos avaliar o desdobramento das eleições nas redes sociais, de promessas em ações concretas", disse Meira.

Saiba mais
Facebook e Twitter


O Facebook, rede social mais utilizada no mundo, atingiu mais de 1 bilhão de contas ativas em 14 de setembro de 2012. O Brasil ocupa o segundo lugar na lista de usuários, com 54 milhões (até o mês de junho), atrás apenas dos Estados Unidos, que tem 160 milhões. A marca mundial inédita foi anunciada no próprio site de relacionamento, pelo fundador Mark Zuckerberg. Criada em 2004, a rede social levou seis anos para chegar a meio milhão de usuários, mas apenas dois para dobrar a quantidade de pessoas conectadas. No ano passado, o crescimento total foi de 30%, mas o número de brasileiros aumentou 146%, o maior percentual do mundo. Em relação ao Twitter, o Brasil está em 4º lugar no ranking de maior número de usuários ativos. De acordo com estudo publicado pela Global Web Index, na primeira quinzena de outubro o Brasil tinha 19,6 milhões de usuários. A China ocupa o primeiro lugar, com 35,5 milhões de usuários, seguido por Índia, com 33 milhões, e Estados Unidos, com 22,9 milhões.

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