A capital federal será sede na primeira quinzena de dezembro da última reunião do Diretório Nacional do PT no ano em que o partido sentou no banco dos réus do Supremo Tribunal Federal (STF) para ser julgado pelo escândalo do mensalão. Antes do encontro, que reúne todas as tendências e correntes partidárias, a Construindo um Novo Brasil (CNB) – antigo Campo Majoritário – vai fazer uma reunião própria para avaliar 2012 e discutir a sucessão interna na legenda em 2013. Sob a influência do réu condenado José Dirceu. “Ele tem o DNA do que o PT é hoje e ainda orienta nossos passos”, disse um petista com cargo de destaque em um governo estadual comandado pelo partido.
Mas até mesmo esse respeito fiel tende a desaparecer com o passar do tempo e será praticamente nulo quando o PT estiver elegendo o futuro presidente, em novembro do ano que vem. Pelo caminhar do julgamento, a eleição interna petista, provavelmente, coincidirá com a fase de execução das penas. Apesar de a dosimetria de Dirceu não estar ainda definida, poucos acreditam que ele escapará de cumprir parte da pena em regime fechado.
O mesmo petista que “bateu continência” para Dirceu admitiu que ele dificilmente estará na reunião da CNB em dezembro. “Ele tem se resguardado. Apareceu no Diretório Nacional em setembro, pouco antes do segundo turno das eleições municipais. Mas não deve participar deste de agora”, completou o aliado. A expectativa é de que no encontro em Brasília o PT discuta o mensalão e, quem sabe, divulgue uma nota sobre o julgamento, algo que não aconteceu até agora.
Pessoas próximas ao ex-todo-poderoso general petista lembram que o mesmo constrangimento vivenciado pelo aliado foi sentido pelo candidato eleito do PT à Prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad. Ao longo de todo o segundo turno, o candidato do PSDB, José Serra, lembrou que o petista estava ligado aos mensaleiros. “Haddad não podia renegar Dirceu. Mas também tomava o cuidado de não incensá-lo”, lembrou um interlocutor do partido.
A perda de espaço de Dirceu na legenda não será abrupta, e sim gradual. Na base partidária, ele ainda é reverenciado. “Zé Dirceu, Genoino (José Genoino) e Delúbio (Delúbio Soares, ex-tesoureiro) saltaram do patamar de militantes para o de heróis. Mas isso só os petistas entendem”, declarou um militante ferrenho do antigo campo majoritário do PT. Mas esse grau de heroísmo começa a ser suplantado pelo novo momento. Há duas semanas, o ex-presidente Lula convenceu Dirceu e Genoino a reembainharem as armas. Eles queriam fazer gestos públicos e manifestações contra o julgamento do Supremo. Lula achou uma péssima ideia.
Pesa ainda contra Dirceu a necessidade de o PT virar a página. “Precisamos, a exemplo do que fizemos em São Paulo, renovar nossos quadros. Falo isso com a dor de quem está vendo companheiros condenados injustamente em um julgamento ao vivo, midiático, que está assustando especialistas jurídicos internacionais”, disse ao Estado de Minas o governador da Bahia, Jaques Wagner.
Em relação às futuras eleições partidárias, ainda é cedo para definir nomes de pré-candidatos ao comando da legenda. Por já ocupar o cargo e ter sido presidente durante a vitória do partido na disputa pela Prefeitura de São Paulo, Rui Falcão larga na frente. “O futuro presidente terá que ter a habilidade de unir o time de Dilma e o time de Lula”, explicou um analista político do partido. Por esse quesito, Falcão tem totais condições de permanecer no cargo. “Mas o CNB ainda não escolheu seu nome”, apressou-se em afirmar um petista brasiliense.
Outro nome que surge espontaneamente é o do ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho. Ele admitiu a amigos que esse pode ser um sonho de futuro, mas que não há condições de exercê-lo neste momento. Para isso, teria que deixar o posto ministerial, algo que não está em seus planos nem na cabeça da presidente Dilma. Pelo menos, por enquanto.
Agenda da Corte
Os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) terão duas reuniões esta semana para continuar a definição de penas dos condenados no processo do mensalão. Nas cinco sessões já realizadas para calcular a dosimetria, o STF determinou o tempo de punição para somente três dos 25 condenados. Os encontros serão hoje e quarta-feira e marcam também a despedida do presidente da Corte, Carlos Ayres Britto. Como completa 70 anos na semana que vem, o ministro se aposenta compulsoriamente, deixando o cargo para Joaquim Barbosa, relator do julgamento.