Nem os resíduos hospitalares são recolhidos em Matozinhos - Foto: Fábio Oliva/Divulgação Sem obter sucesso nas urnas em outubro, prefeitos de diversas regiões do estado estão suspendendo serviços essenciais em suas cidades, punindo os eleitores que não garantiram a eles mais quatro anos de mandato. Em algumas cidades, principalmente do Norte do estado, a coleta de lixo foi interrompida, funcionários foram demitidos, incluindo médicos, servidores estão sem salário, praças abandonadas e obras foram suspensas. Nem mesmo a saúde, o combate à seca e o transporte escolar escaparam do descaso dos gestores que vão deixar os cargos. Essa é a situação dos moradores de Matozinhos e Santa Luzia, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, de Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha, e de Engenheiro Navarro, Glaucilândia, Bonito de Minas e Januária, no Norte do estado.
Em Glaucilândia, o prefeito Marcelo Ferrante Maia (PSDB), que perdeu a disputa para Geraldo de Alzira (PSB), cortou o serviço de ônibus que levava os estudantes para universidades em Montes Claros. O serviço foi interrompido logo após o resultado das urnas, denuncia a enfermeira Maria de Fátima Araújo Soares Barbosa, secretária da Associação dos Moradores de Glaucilândia (Amoglau), que assumiu o deslocamento de parte dos alunos, entre eles um de seus filhos. “Como são muitos alunos e não tem lugar para todos, alguns vão sentados no chão do carro. Eles não podem perder o semestre por causa de uma irresponsabilidade da prefeitura”, conta.
Além disso, segundo ela, foram suspensos os serviços de fonoaudiologia, nutrição, fisioterapia e psicologia que eram prestados na Unidade Básica de Saúde, que também enfrenta falta de medicamentos. A manutenção das praças e jardins foi cancelada e o campo de futebol inaugurado em 2010 está completamente abandonado. A reportagem tentou falar com Ferrante, mas ele não foi localizado na prefeitura. Segundo informações da telefonista, ele estava em Belo Horizonte e não tinha como ser localizado.
Em Bonito de Minas, posto de saúde fechado e praça abandonada - Foto: Beto Magalhães/EM/D.A PRESS Em Januária a luz da rodoviária foi cortada e o fornecimento de energia está sendo feito por um gerador instalado em cima de um caminhão, afirma Fábio Oliva, da Associação dos Amigos de Januária (Asajan). Segundo ele, obras foram paralisadas e servidores estão sem receber. Até a Câmara Municipal de Januária entrou no facão da prefeitura.
O Legislativo não recebe os repasses obrigatórios para sua manutenção desde outubro. E a situação vai piorar, pois o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) determinou ontem o bloqueio da conta da prefeitura para garantir a transferência dos valores devidos para a Câmara. O prefeito derrotado Maurílio Arruda (PTC) não foi localizado pela reportagem para comentar a situação. Na ação movida pela Câmara a prefeitura alega não ter feito o repasse em função do bloqueio pela Receita Federal dos recursos do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) por causa de dívidas previdenciárias.
Seca
Castigada por uma das piores secas das últimas décadas, a população de Araçuaí, que disse não à reeleição do prefeito Aécio Silva Jardim (PDT), sofre agora também com o abandono das áreas sociais pela administração municipal, às vésperas do fim da gestão. O fornecimento de caminhões-pipa que garantiam água potável para 30 comunidades rurais foi suspenso, imediatamente após o domingo de eleição, de acordo com o presidente da Câmara Municipal, vereador Carlindo Dourado (PP). “Foi a chuva que salvou pelo menos 2 mil famílias de agricultores que estavam entregues à própria sorte desde 7 de outubro. Há oito dias está chovendo.” Segundo Dourado, o prefeito afirma que foi obrigado a suspender o fornecimento porque deixou de receber os recursos da Defesa Civil Estadual para o pagamento dos transportadores da água. “A coincidência é que tudo aconteceu depois da eleição.” Além da falta d’água, o vereador diz que o funcionamento da policlínica municipal foi inviabilizado depois da derrota nas urnas.
Durante toda a tarde de ontem, o Estado de Minas tentou falar com o prefeito, mas ninguém atendeu o telefone na sede do município.
Em Engenheiro Navarro, o lixo parou de ser recolhido, afirma o vereador Aelson da Silva (PP), que apoiou a eleição em 2008 do atual prefeito Sileno Lopes (PSD), que não conseguiu mais um mandato. “A prefeitura já avisou que este ano não tem mais coleta de lixo”. Uma funcionária da Câmara disse que o carro do Conselho Tutelar não roda mais por falta de gasolina e que a ambulância que atendia a zona rural não circula mais. Em Bonito de Minas, a prefeitura suspendeu o pagamento de funcionários da saúde e abandonou várias obras, entre elas a do Centro de Saúde. A suspensão começou no final de setembro, poucos dias antes da eleição, informa o dentista Rafael Castro Mota, servidor do município. .