Jornal Estado de Minas

Dilma procura reforçar os laços com a base aliada no Congresso

Após promover jantares para PMDB, PSB, PP e PSD, Dilma Rousseff dá sequência às reuniões com aliados em mais um capítulo que marca o novo estilo da presidente para distensionar as relações da base com o Planalto. Na quarta-feira, ela tem agenda com os senadores do bloco PTB-PR-PSC e PTL, no Palácio do Planalto. O convite feito ao grupo mostra o esforço de Dilma para imprimir um novo ritmo de articulação política nos dois anos que restam para terminar o seu primeiro mandato – críticos para o projeto de reeleição em 2014

Nas últimas duas semanas, ela convidou quatro legendas para jantares reservados no Palácio da Alvorada: PMDB, PSB, PSD e PP. Em todos os encontros, tem mostrado disposição para ampliar a relação com a base, ressaltado a importância da fidelidade para enfrentar as crises internacionais e reforçando os laços para que todos estejam no mesmo projeto daqui a dois anos.

A mudança de estilo é confirmada até pela organização dos eventos. Há mais de um ano, quando Dilma enfrentava uma crise de relacionamento com os partidos da coalizão governista, ela pediu à ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, que agendasse encontros com os líderes e presidentes das legendas que apoiam o Planalto. Nas reuniões deste ano, Ideli é apenas “mais uma das convidadas”, segundo apurou o Estado de Minas. A definição de quem é chamado, qual pauta entrará no cardápio e quem serão os convidados para os demais encontros é de total responsabilidade da presidente.

Quem conhece Dilma há bastante tempo vê uma presidente mudada. “Ela está mais alegre, mais solta.
Conheço a presidente desde o início do governo Dilma. Nunca a vi tão bem-humorada como está atualmente”, disse ao EM o vice-presidente do PSB, Roberto Amaral. O dirigente pessebista, que esteve presente em um dos jantares no Alvorada ao lado do governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB, Eduardo Campos, enxerga duas motivações para as reuniões políticas: cicatrizar as mágoas e pavimentar a aliança governista. “Ela despertou para a necessidade de ter uma relação mais próxima com a base”, afirmou.

Dilma não abre mão da consultoria do mentor político, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nas conversas. Antes da reunião com o PMDB, por exemplo, conversou por quase três horas com Lula no Palácio da Alvorada. Na última quarta-feira, novo encontro, dessa vez no escritório da Presidência da República em São Paulo para uma avaliação das conversas com os aliados realizadas até o momento.

As consultas informais não significam, contudo, que a presidente queira terceirizar o diálogo com os aliados. “O foco dela continua sendo a economia e os riscos que o país enfrenta com a crise financeira internacional.
Mas a política ganha muito com esse novo papel que a presidente passou a exercer”, elogiou o líder do PMDB na Câmara e candidato à presidência da Casa em 2013, deputado Henrique Eduardo Alves (RN). “A capacidade técnica começa a se aliar à capacidade política”, completou o peemedebista.

Ela também é cirúrgica na hora de tocar nos assuntos que interessam aos partidos. Ao PMDB, assegurou o apoio à eleição de Renan Calheiros (AL) para a Presidência do Senado e de Henrique Alves na Câmara. Para o PSD, agradecimentos pelo apoio no Congresso. Ao PP, a garantia de que o partido continuará com a pasta de Cidades. “Ela está craque. Quem quiser discordar dela, melhor nem conversar. Senão ela convence”, elogiou o presidente nacional do PP, senador Francisco Dornelles (RJ).

EX-MINISTRO
Se todos os parlamentares do bloco liderado pelo PTB marcarem presença na reunião de quarta, Dilma se encontrará com um grupo heterogêneo, que inclui Alfredo Nascimento (PR-AM), Blairo Maggi (MT), Fernando Collor de Mello (PTB-AL) e Gim Argello (PTB-DF).
Será a primeira vez que a presidente estará à mesa com Nascimento desde que o senador foi exonerado do Ministério dos Transportes, em julho do ano passado.

A presidente afastou o então ministro por causa de denúncias de superfaturamentos e aditivos em obras de construção e pavimentação de rodovias que seriam usados para abastecer o caixa do PR. No lugar de Alfredo, foi nomeado Paulo Sérgio Passos, secretário executivo da pasta e também filiado à legenda. Mas, por não ter vida partidária orgânica, ele não foi considerado uma indicação do PR, e a sigla passou a adotar uma postura de independência no Congresso.

BASE NA ESPLANADA
Veja como está a relação dos partidos aliados com o Planalto

PMDB: manutenção de Michel Temer como vice-presidente e apoio à eleição de Henrique Eduardo Alves (RN) e Renan Calheiros (AL) para as presidências da Câmara e do Senado, respectivamente. Gabriel Chalita (SP) é cotado para a Esplanada.
PSD: Dilma quer o partido na base de apoio do governo no Congresso. Deve dar um ministério para a sigla, provavelmente o de Micro e Pequena Empresa, ou a Secretaria de Aviação Civil.
PP: o partido será mantido no comando do Ministério das Cidades.
PSB: o governo não vai levar em conta o resultado das eleições municipais para definir o relacionamento com o partido no plano federal, e a tendência é que não ganhe pastas.

Com quem Dilma inda não conversou
Bloco PTB-PR-PSC-PTL: reunião marcada para 21 de novembro.
PCdoB: comanda o Ministério do Esporte..