O deputado federal Odair Cunha (PT-MG), relator da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Cachoeira, se fechou em silêncio para evitar vazamentos, depois de adiar para esta quarta-feira a leitura do relatório final sobre o esquema de exploração de jogos e corrupção comandado pelo bicheiro Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira. Em seu blog sobre a CPMI, Cunha manteve o mistério, mas atiçou a curiosidade: "Mais uma semana intensa de trabalho. Estou a poucos dias de apresentar o relatório final da CPMI do Cachoeira no plenário da comissão. Posso adiantar que ele será bastante contundente e que será solicitado o indiciamento dos depoentes que se recusaram a falar na CPMI ", afirmou.
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Supremo autoriza Perillo a não depor na CPI do CachoeiraMPF em Goiás pede a condenação de Cachoeira por quatro crimes cometidos 17 vezesParlamentares insatisfeitos com investigações da CPI do Cachoeira preparam relatório paraleloRelator da CPI do Cachoeira diz que documento "será bastante contundente"Celebridades que viraram deputados desfazem preconceitosCachoeira deixa presídio da Papuda, em BrasíliaCachoeira é condenado a cinco anos no DF e pode ser soltoRelatório da CPI do Cachoeira deve ser divulgado amanhãA ala dissidente da CPMI chegou a marcar reunião com o procurador-geral da República, Roberto Gurguel, para amanhã, mas recuou para aguardar a leitura do relatório oficial. De acordo com a assessoria de Odair Cunha, o adiamento da leitura marcada para hoje atendeu a um pedido da secretaria da comissão, em razão do curto prazo para impressão de cópias do documento com cerca de 3 mil páginas, para serem distribuídas aos parlamentares durante a sessão de leitura. O petista, que se dedica aos ajustes finais do texto, afirmou em seu blog ter analisado 69.694 páginas referentes a sigilos bancários, 11.333 folhas relativas a quebras de sigilo fiscal de 75 pessoas físicas e jurídicas e, ainda, 45.594 páginas de extratos de ligações telefônicas.
Pista Seguindo a pista deixada pelo relator, entre os que optaram pelo silêncio está o próprio contraventor Cachoeira – preso na penitenciária da Papuda, no Distrito Federal –, sua mulher, Andressa Mendonça, além de seus colaboradores no esquema criminoso, como o ex-diretor regional da Delta e responsável pelas atividades da empresa no Centro-Oeste, Cláudio Abreu; o ex-presidente do Departamento de Trânsito de Goiás (Detran-GO), Edivaldo Cardoso de Paula – acusado de favorecer o grupo criminoso –; o ex-sargento da Aeronáutica suspeito de atuar como “araponga” do grupo, Idalberto Matias de Araújo, o Dadá; além de Gleyb Ferreira da Cruz, suposto “laranja”, e José Olímpio de Queiroga Neto, apontado como gerente da organização.
80 anos de prisão
O procurador Daniel Resende Salgado, do Ministério Público de Goiás, requereu em suas alegações finais que o contraventor Carlinhos Cachoeira seja condenado a 80 anos de prisão, de acordo com o juiz federal Alderico Rocha Santos, da 11ª Vara da Justiça Federal, que preside o processo referente à Operação Monte Carlo. O procurador defende que Cachoeira teria cometido vários crimes de corrupção, violação de sigilo e quadrilha. Uma das supostas tentativas de corrupção do grupo de Cachoeira teria sido cometida pela mulher do contraventor, Andressa Mendonça, e denunciada pelo próprio juiz em 30 de julho, depois de tentar suborná-lo em troca de um alvará de soltura.
A CPMI foi instalada no Congresso em abril, para investigar relações do contraventor com políticos, agentes públicos e privados, depois que as investigações da Polícia Federal apontaram que Cachoeira atuava como lobista e "sócio oculto" da construtora Delta, que teria repassado valores a empresas de fachada. Cachoeira está preso desde 29 de fevereiro, quando foi deflagrada a Operação Monte Carlo. Desde maio, a comissão ouviu governadores, policiais e empresários sobre a denúncia de que o bicheiro mantinha um esquema de exploração do jogo ilegal em Goiás e forte esquema de corrupção, culminando na cassação do então senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO). .