Jornal Estado de Minas

Mais da metade dos estados toma "bomba" na transparência dos gastos públicos

Mais da metade dos estados brasileiros ou 16 deles tomaram “bomba” no quesito transparência na prestação das contas públicas. Em uma escala de 0 a 10, oito obtiveram notas abaixo de 5, enquanto a outra parte não superou a casa dos 6 pontos. A avaliação é a da ONG Associação Contas Abertas, com sede em Brasília, que divulga nesta terça-feira um ranking com as notas obtidas por todos os 26 estados, além do Distrito Federal, nos portais que mantêm a partir de 2009, ano que passou a vigorar a determinação para que governos estaduais criassem portais para divulgação, em tempo real, na internet, de todas as informações sobre os governos estaduais. A partir de maio do ano que vê, a obrigação vai alcançar todas as 5.568 prefeituras do país.

Veja o ranking de 2012 e o ranking de 2010

O secretário-geral da ONG Associação Contas Abertas, Gil Castello Branco, explica que foram selecionados 110 itens focados no conteúdo (quantidade e qualidade da informação), na série histórica (há quanto tempo a informação é disponibilizada) e, também na usabilidade do portal ( ou seja, a facilidade para acessar os dados).

Dos 26 estados analisados, além do Distrito Federal, apesar apenas o estado de São Paulo está próximo de alcançar o grau de excelência idealizado por um grupo de profissionais da iniciativa privada e do serviço público, com formação em economia, gestão pública, ciência política, direito e jornalismo.

“O que nos preocupa é que a transparência é pressuposto para o controle social dos gastos dos governos. Sem acesso à informação é impossível fazer esse controle”, avalia o secretário da ONG Associação Contas Abertas, economista Gil Castello Branco. Apesar do desempenho sofrível de boa parte do estados, desde a primeira e última medição, em 2010, a transparência das contas públicas, nesses portais, aumentou nos últimos anos. Neste ano, a média foi de 5,74, contra 4,88, verificado há dois anos.

Na primeira edição, em 2010, 13 estados ficaram com notas inferiores a cinco. Em contrapartida, este ano número caiu para oito, que não passaram de ano - Acre, Bahia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará, Piauí, Roraima e Sergipe.
Minas Gerais, mateve o quinto lugar no ranking, porèm aumentou a pontuação de 5,60, em 2010, para 7,88, em 2012.
Dos 27 avaliados, 18 portais aumentaram suas notas entre 2010 e 2012. Por outro lado, apenas nove sofreram alguma redução de nota. Em média, os avanços foram maiores do que as quedas: enquanto apenas um estado (Mato Grosso do Sul) perdeu mais do que um ponto, 10 portais de transparência ganharam, pelo menos, a mesma pontuação.

A principal explicação para a redução das notas de alguns portais foi a aplicação mais rigorosa dos critérios do Índice de Transparência. Na edição 2010, como a LC 131 estava em vigor há pouco tempo, foram pontuados até mesmo aqueles portais de transparência que possuíam apenas os relatórios da Lei de Responsabilidade Fiscal.

Melhores e Piores de 2012


Estado mais rico e populoso do país, São Paulo ficou na primeira colocação do Índice de Transparência 2012 – assim como havia ocorrido na edição de 2010. Com a nota 9,29, o estado, além de ter mantido a liderança, foi o quarto que mais aumentou a própria nota: ganhou 2,33 pontos (de 6,96 para 9,29).

Se a primeira posição foi mantida, a lanterna mudou de mãos: agora, a última posição pertence ao Mato Grosso do Sul, que obteve 2,98 pontos. O estado registrou queda de 1,46 ponto, a mais significativa entre todos os avaliados, e substituiu o Piauí como último colocado no ranking.

São Paulo foi o único estado a superar os nove pontos. O Espírito Santo, oitavo colocado em 2010, isolou-se na vice-liderança, com 8,73 pontos.
Logo atrás, Pernambuco, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rondônia e Ceará – todos com notas entre sete e oito. Completam o “top 10” Santa Catarina, Paraíba e Rio Grande do Sul.
Na outra ponta da tabela, o Mato Grosso do Sul foi o único a receber nota inferior a três. Ordenados da nota mais baixa para a mais alta, o grupo dos dez piores ainda inclui Mato Grosso, Sergipe, Piauí, Roraima, Pará, Acre, Bahia, Amapá e Amazonas.

ES e CE são os que mais sobem; MS e PR, os que mais caem


O portal de transparência do Espírito Santo foi o que mais cresceu no Índice entre 2010 e 2012. O estado, que havia obtido nota 5,36 em 2010, somou 3,37 pontos ao seu desempenho e subiu para a vice-liderança do ranking, com 8,73 pontos. Foi o maior aumento de nota que o Índice de Transparência 2012 registrou.
A evolução do estado incluiu melhorias como disponibilização de download das consultas individuais e do banco de dados completo, publicação dos salários dos servidores estaduais de forma nominal, apresentação de lista completa dos beneficiários de pagamentos e maior transparência a respeito das receitas do estado. O portal capixaba não possuía nada disso na avaliação de 2010.

Outro avanço digno de menção foi o do Ceará. O portal de transparência cearense havia alcançado apenas a 20ª posição no Índice de Transparência 2010. De lá para cá, cresceu 2,91 pontos: saiu de 4,18 para 7,09, nota que o credenciou à sétima posição neste ano.

O salto de 13 lugares na classificação foi o maior: nenhum outro estado ganhou tantas colocações de uma vez só.
Entre os avanços efetuados pelo Ceará estão disponibilização de download das consultas individuais, aumento da delimitação temporal de consulta e inclusão de todas as informações relativas à classificação orçamentária da despesa.
Em matéria de crescimento de nota, alguns outros estados que apresentaram boa evolução foram: Rio de Janeiro (4º colocado, 2,71 pontos a mais), São Paulo (1º colocado, 2,33 pontos a mais) e Rio Grande do Norte (11º colocado, 2,25 pontos a mais).

Em relação a saltos de posição, outros estados que avançaram muitos espaços na classificação foram: Rio Grande do Norte (12 posições ganhas), Rio de Janeiro (9 posições ganhas) e Paraíba (9º colocado, 5 posições ganhas).
Na contramão da tendência geral, houve estados que se saíram pior no Índice 2012 do que no Índice 2010, tanto na nota quanto no posicionamento. O principal caso é o do Mato Grosso do Sul: o estado era o 18º colocado, com pouco menos de 4,44 pontos, e caiu para a lanterna no ranking, registrando 2,98 pontos agora. A perda de 1,46 ponto de rendimento foi a mais severa entre todos os avaliados.

Avaliado como o portal menos transparente, o site sul-matogrossense possui entre suas principais deficiências a impossibilidade de download das informações, a pequena série história (apenas três anos), o pouco detalhamento da execução orçamentária e a ausência de informações sobre servidores, contratos convênios e licitações (neste último quesito a ausência não é total, mas há poucos dados disponíveis).

A queda de posição mais significativa foi do Paraná. O estado perdeu 10 posições entre 2010 (4º colocado) e 2012 (14º colocado). A redução numérica da nota não foi tão grande (0,49 ponto), mas, como a maioria dos estados cresceu, o impacto de um desempenho negativo mostrou-se maior.

O principal motivo para a queda do portal paranaense foi a retirada da divulgação nominal dos salários dos servidores estaduais. Em 2010, o estado era o único a apresentar essa informação, mas, em 2012, essa não constava mais no site. Questionados, os responsáveis explicaram que uma liminar judicial proibiu esse tipo de divulgação.

Como o portal de Mato Grosso do Sul foi o único a perder mais de um ponto entre 2010 e 2012, evidencia-se que, no geral, as reduções, quando ocorreram, não foram grandes. Outros estados que perderam nota foram, por exemplo, Sergipe (25º colocado, 0,84 ponto a menos), Mato Grosso (26º colocado, 0,55 ponto a menos) e Pará (22º colocado, 0,50 ponto a menos).

Já entre os estados que mais perderam posições estão ainda Amazonas (18º colocado, 9 posições perdidas), Maranhão (17º colocado, 8 posições perdidas) e Rio Grande do Sul (10º colocado, 7 posições perdidas).

O Índice


O Índice de Transparência utiliza como base a Lei Complementar 131 (LC 131), posteriormente regulamentada pelo Decreto 7.185. A LC 131 determinou que todos os entes da federação das três esferas de poder disponibilizem na internet, em tempo real, informações pormenorizadas sobre a execução orçamentária e financeira. Porém, como as diretrizes da legislação são vagas, o Contas Abertas achou necessário criar critérios e formas de avaliação das informações eventualmente disponibilizadas pela União, estados e municípios.

Com base em parâmetros técnicos, comitê reunido pela Associação Contas Abertas, formado por especialistas em finanças e contas públicas, desenvolveu o Índice de Transparência, cujo objetivo é criar um ranking, com notas de zero a dez, que elenca sites com menor ou maior grau de transparência.
As notas são formadas após análise de mais de 100 parâmetros, divididos em três grandes temas: Conteúdo (60% da nota final), Usabilidade (33%) e Série Histórica e Frequência de Atualização (7%). O Índice de Transparência é, portanto, um meio de informar ao cidadão o nível de transparência das contas públicas e tem como objetivo criar uma competição saudável entre os gestores públicos em prol da transparência e do controle social.

 

Com informações do site Índice de Transparência

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