Dois dias depois de apresentar o relatório final com o pedido de indiciamento e responsabilização criminal de 46 pessoas, o deputado Odair Cunha (PT-MG) recuou nesta quinta-feira e decidiu negociar a aprovação de um novo texto com as conclusões das investigações da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Cachoeira.
À exceção do PT, o relatório desagradou a todos os partidos da base aliada que ameaçam se unir à oposição e derrubar o parecer de Cunha. Diante da derrota iminente, o relator resolveu adiar a leitura do relatório para a próxima quarta-feira, dia 28, e tentar até lá negociar um texto mais palatável.
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Gurgel considera "retaliação" pedido de seu indiciamento na CPI do CachoeiraSenadores pedem que Procuradoria-Geral da República continue a investigar CachoeiraRelator adia, mais uma vez, leitura do relatório da CPI do Cachoeira"O governo quis usar a CPI para vinganças, para retaliação. Este relatório foi produzido pela Executiva do PT", afirmou o senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB). "O relatório tem de certa maneira um critério de vingança. Ele não é inteiro assim. Na parte da imprensa e do procurador-geral tem esse critério", corroborou o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ). Para ele, o relator tenta construir uma estratégia de negociação política a fim de vencer as resistências da comissão e aprovar seu relatório, com modificações de pontos críticos do texto.
Além da onda de reclamações dos aliados e da oposição, Cunha também adiou a leitura do relatório por ter se sentido "abandonado" pela cúpula do PT, que não fez uma defesa veemente de seu texto. Com a transferência da leitura do relatório para a próxima semana, ele espera ganhar tempo até a votação do texto, que deverá ocorrer somente na primeira semana de dezembro. Até lá, ele quer negociar mudanças no parecer que podem representar a retirada ou até a inclusão de pessoas da lista de pedidos de indiciamento.
A oposição e os aliados consideraram uma "vingança" do PT a inclusão do procurador-geral no relatório final e o indiciamento do jornalista Policarpo Júnior. Gurgel foi o responsável por defender a condenação das principais personalidades petistas envolvidas no escândalo do mensalão, como o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu e o ex-presidente do partido José Genoino. Além do jornalista da Veja, que fez uma série de matérias contra o PT, Cunha também sugeriu o indiciamento por formação de quadrilha de outros quatro jornalistas de Goiás: Wagner Relâmpago, Patrícia Moraes, João Unes e Carlos Antônio Nogueira.
"Não pode constar na proposta do relator qualquer coisa relativa à Procuradoria Geral da República como se tivéssemos tentando incriminar o procurador-geral", defendeu Miro Teixeira. Ele argumentou ainda que o pedido de convocação de Policarpo Júnior para ir à CPI não foi sequer votado e o jornalista não foi investigado pela comissão de inquérito.
No relatório, Cunha propõe a responsabilização criminal do governador de Goiás, o tucano Marconi Perillo, por seis crimes: formação de quadrilha, corrupção passiva, advocacia administrativa, tráfico de influência, falso testemunho e lavagem de dinheiro. Essa tipificação foi considerada um "excesso" até mesmo por aliados. "Ele foi injusto com o Perillo" afirmou um governista, ao avisar que votará contra todo o relatório..