Jornal Estado de Minas

Polícia Federal identifica mais de mil ligações em esquema de fraudadores

A Polícia Federal identificou 1.169 telefonemas de um dos redutos da organização criminosa que fraudava pareces técnicos para um telefone do Partido da República (PR), no período entre 15 de junho de 2010 e 4 de abril de 2011. A PF também interceptou contatos diretos entre o diretor de Hidrologia da Agência Nacional de Águas (ANA), Paulo Rodrigues Vieira - apontado como chefe da quadrilha -, e o deputado Valdemar da Costa Neto, secretário-geral do PR, condenado pelo Supremo Tribunal Federal por corrupção passiva no julgamento do mensalão.

Os telefonemas partiram de um número cadastrado em nome de um restaurante da Alameda Joaquim Eugênio de Lima, em São Paulo, que tem como sócio o empresário Marcelo Rodrigues Vieira, irmão de Paulo. Os dois e um terceiro irmão, Rubens, diretor de Infraestrutura da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), são alvos da Operação Porto Seguro.

Em um organograma sobre os grampos a PF cita o Nippon Japanese Restaurantes-Yatai e o PR. O restaurante seria usado como base do grupo para corromper servidores públicos em troca de laudos forjados que atendiam interesses empresariais.

A PF apurou que em uma mesa do Yatai o auditor do TCU Cyonil da Cunha Borges de Farias Junior recebeu R$ 100 mil para fazer um parecer “sob encomenda”- depois, ele se arrependeu, devolveu o dinheiro e denunciou o caso.

Foram interceptados 10 mil e-mails entre integrantes do esquema. A PF pegou ainda escutas nas quais Costa Neto é citado. Isso levou a procuradora da República Suzana Fairbanks a requerer à Justiça Federal, em junho, a separação desses diálogos dos autos da Operação Porto Seguro “para posterior encaminhamento a quem possua atribuição funcional para tal”.

Suzana reforça sua preocupação em destacar as menções a detentores de prerrogativa de foro e menciona cinco situações que justificam a medida, quatro delas apontando nominalmente Costa Neto. Áudios de 24 e 28 de maio pegaram conversas da secretária do deputado com o escritório do empresário Carlos César Floriano, que atua na área portuária e sexta-feira (23) foi indiciado pela PF. O criminalista Alberto Zacharias Toron, defensor de Floriano, esclareceu que o empresário não foi preso, mas conduzido para depor.
“Floriano não tem participação alguma em atos ilícitos”, disse Toron.

A procuradora assinala telefonemas entre Paulo Vieira e Costa Neto. A 28 de maio Vieira pede “a indicação de um vereador de Santos para assinatura de representação junto ao TCU, sendo-lhe indicado Odair Gonzalez”. É citado áudio de 5 de junho “entre Tereza, secretária do ministro Pedro Britto (ex-ministro dos Portos) e Daniele, secretária de Floriano, quanto a pedido de patrocínio de evento a ocorrer no setor portuário em 2013”.

Por meio da assessoria do PR, Costa Neto informou que “é amigo e mantém relações próximas com Paulo Vieira há muitos anos”. Alega é um parlamentar muito bem votado em Cruzeiro (SP) e Paulo é dono de uma faculdade da cidade. “São relações normais, absolutamente cordiais, amistosas, mas destituídas de qualquer envolvimento institucional ou que se refira a gestão pública.”.