A oposição desmoronou a blindagem da base aliada no Senado e aprovou um convite para que o ex-diretor da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) Rubens Vieira compareça à Comissão de Infraestrutura, na semana que vem, para prestar esclarecimentos sobre a Operação Porto Seguro. Vieira está preso desde sexta-feira, quando a Polícia Federal deflagrou a ação. Os senadores também convocaram o diretor da Anac Marcelo Guaranys. E só não conseguiram emplacar a convocação da ex-chefe de gabinete da Presidência em São Paulo Rosemary Noronha porque o requerimento não foi colocado em votação.
Pinheiro disse que a base concorda com a presença de Marcelo Guaranys. “Sobre Rubens, deixa para o Alvaro (Alvaro Dias, senador tucano responsável pelo requerimento) o trabalho para tirá-lo da cadeia e trazer para cá”, prosseguiu o petista. Tanto ele quanto o líder do governo no Congresso, senador José Pimentel (PT-CE), não estavam na Comissão de Infraestrutura quando o requerimento foi aprovado. “Aproveitamos que não tinha ninguém e aprovamos a vinda de Rubens em votação simbólica”, comemorou Álvaro Dias.
DEVER DE CASA Derrotada no Senado, a base aliada fez o dever de casa na Câmara. Foi montada uma força-tarefa para impedir novas convocações. Somente na Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado, havia seis requerimentos para que ministros e pessoas citadas pela investigação prestassem esclarecimentos. Além de Cardozo, os documentos, apresentados pelos deputados Efraim Filho (DEM-PB) e Onyx Lorenzoni (DEM-RS), pediam a presença de Adams; do delator do caso, Cyonil da Cunha Borges; dos irmãos Rubens Vieira e Paulo Rodrigues Vieira (ex-diretor de Hidrologia da Agência Nacional de Águas); José Weber Holanda (ex-número dois da Advocacia-Geral da União); e dos ministros Gilberto Carvalho (Secretaria Geral da República) e Gleisi Hoffmann (Casa Civil)
A estratégia usada pelo governo para evitar as convocações e os convites foi encher a sessão de aliados, tirando da oposição qualquer chance de aprovar um dos requerimentos sem o aval da base. Com a presença em peso de vice-líderes governistas, apenas a ida de Cardozo acabou referendada. O ministro estará na Câmara na terça-feira, em sessão conjunta das comissões de Segurança e Fiscalização Financeira e Controle. Os demais pedidos poderão ser analisados apenas caso o colegiado compreenda que o depoimento do ministro não foi esclarecedor. “As palavras de Cardozo, que é o responsável direto pela Polícia Federal, serão suficientes para sabermos sobre os desdobramentos da operação e trazer qualquer outra autoridade não faz tem nenhum efeito neste momento”, argumentou o vice-líder do governo Hugo Leal (PSC-RJ).
Os integrantes da oposição, porém, garantem que vão insistir na presença dos envolvidos no esquema desvendado pela PF. O troféu em disputa ainda é Rosemary Noronha. Dentro do PT e no círculo mais próximo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, existe o receio de que ela possa “dizer coisas inapropriadas” diante dos senadores. Rosemary não é vista como a principal figura da quadrilha indiciada pela Polícia Federal, mas como alguém que gozava de prestígio e trânsito junto a Lula e ao ex-chefe da Casa Civil José Dirceu. “Essa quadrilha atuava no submundo. Nesse sentido, Rosemary tinha destaque porque era íntima do poder”, completou um aliado de, José Dirceu.
O diretor afastado da Agência Nacional de Águas (ANA), Paulo Rodrigues Vieira, foi transferido ontem do presídio da Papuda, em Brasília, para uma cela especial na sala do Estado Maior no Batalhão de Choque de São Paulo, na região central.
VIAGEM CANCELADA Apesar de ainda não confirmar oficialmente, a presidente Dilma Rousseff decidiu cancelar sua viagem ao Peru, marcada para amanhã. Ela iria participar da 6ª Reunião Ordinária do Conselho de Chefes de Estado e de Governo da Unasul, bloco formado por países da América do Sul, mas avaliou ser melhor permanecer no país nesse momento de crise. No lugar dela, vai o vice-presidente Michel Temer, que a princípio estaria no México, para a posse do presidente Peña Nieto, acompanhado do ministro de Relações Exteriores, Antônio Patriota. (Colaborou Juliana Braga e Edson Luiz)
Reclamação de Dirceu
O ex-ministro da Casa Civil José Dirceu publicou em seu blog, ontem, reclamações sobre a vinculação de seu nome com denúncias de irregularidades no governo. A última delas, referente à Operação Porto Seguro, da Polícia Federal. Segundo gravações da PF, o ex-auditor do Tribunal de Contas da União (TCU) Cyonil Borges, responsável pela delação do esquema, cita o ex-parlamentar como um dos supostos interessados nas negociações envolvendo as agências reguladoras. No blog, Dirceu menciona diversos outros casos em que é arrolado, como o do assassinato de Celso Daniel, ex-prefeito de Santo André (SP), a Operação Satiagraha e o mensalão. “Agora, a história se repete”, afirma Dirceu.