Maria Clara Prates
O Supremo Tribunal Federal (STF) encerra nas sessões de quarta e quinta-feira o julgamento do caso do mensalão, mas sem escapar de polêmicas, como vem acontecendo desde agosto. Sobre o colo dos ministros do STF estão questões delicadas, como a decisão de cassar os mandatos dos três parlamentares condenados, sem que isso se transforme numa interferência em outro poder da República, o Legislativo. Além disso, será analisado o pedido feito pela Procuradoria-Geral de República de prisão imediata de todos os condenados pela Corte, em razão de envolvimento no esquema de pagamento de propina a parlamentares da base aliada do governo Luiz Inácio Lula da Silva em troca de apoio político. As declarações ontem do deputado Marco Maia (PT-RS), presidente da Câmara, demonstraram que o tema cassação terá que ser tratado com cuidado. O parlamentar bateu o martelo e disse que caberá ao Congresso a decisão de cassar o mandato dos atuais ocupantes de suas cadeiras, independentemente da decisão dos ministros do Supremo.
‘MUITO CLARA’ Já preparado para enfrentar possíveis percalços nesse caminho, Marco Maia afirmou: “A Constituição é muito clara. Determina que, em julgamentos criminais, a decisão final é da Câmara ou do Senado, dependendo do caso. Mas vamos discutir isso se tiver uma posição por parte do STF contrária a esse preceito constitucional. Se olharem a votação dessa matéria, vão ver que ela foi discutida no plenário e teve 407 votos favoráveis. Nas notas taquigráficas, está bem clara a intenção do constituinte: em caso de condenação criminal em qualquer instância, a palavra final é da Câmara ou do Senado”. A Corte vai decidir sobre a perda dos direitos políticos dos deputados João Paulo Cunha (PT-SP), Valdemar Costa Neto (PR-SP) e Pedro Henry (PP-MT). O presidente da Câmara tratou do tema espinhoso logo depois de deixar o STF, onde participou da posse do novo ministro da Corte, Teori Zavascki, que assumiu ontem a vaga deixada pela aposentadoria de Carlos Ayres Britto.
O entendimento de Velloso e do próprio presidente da Câmara, encontra eco entre outros constitucionalistas. O advogado Ronaldo Garcia – que participou do julgamento do mensalão para defender o ex-deputado federal Romeu Queiroz (PTB-MG), condenado a seis anos e seis meses de prisão – explica que, caso o STF decida pela execução das cassações, “estará sendo quebrado um paradigma jurídico e se tornando um paradigma político. O Supremo não pode agir como um poder acima de todos os outros. Isso seria uma hipertrofia dos demais”.
O advogado Leonardo Yarochewsky – responsável pela defesa de Simone Vasconcelos, diretora de uma das agências de Marcos Valério e condenada a 12 anos, sete meses e 20 dias – lembrou ainda que o efeito de uma possível cassação só pode ser considerado a partir do trânsito em julgado da decisão dos ministros. Ou seja, depois de analisado os embargos de declaração ou os infringentes que devem ser apresentados pelas defesas.