Paulo de Tarso Lyra
Brasília – Os irmãos Paulo Vieira e Rubens Vieira, indiciados pela Polícia Federal na Operação Porto Seguro, prestaram consultoria jurídica e processual ao deputado Valdemar Costa Neto (PR-SP) no julgamento do mensalão. Conversas telefônicas gravadas com autorização judicial mostram os irmãos Vieira preocupados com a situação do secretário-geral do PR, traçando estratégias para tentar diminuir a pena, propondo pesquisas para ver se, em caso de prescrição de crimes, Valdemar poderia ser enquadrado na Lei da Ficha Limpa. “A gente tem que afastar a (condenação) mais complicada”, disse Paulo Vieira, em deteminado trecho da conversa. Não deu certo. Valdemar acabou condenado a sete anos e 10 meses de prisão.
Eles reconhecem, em diálogo travado em 10 de abril que, se tentassem buscar a prescrição dos crimes para amenizar uma possível condenação, a estratégia não funcionaria para o caso de lavagem de dinheiro. “Rubens, esse da lavagem me assustou viu? A prescrição dele é um século”, comenta Paulo Vieira. “É, pela prescrição dele não dá”, admite Rubens. O Código Penal prevê pena de três a 10 anos de prisão.
Os dois irmãos demonstram familiaridade com o processo do mensalão, que começaria a ser julgado cinco meses depois no Supremo Tribunal Federal. Destrincham quais os crimes que serão examinados e quem está indiciado em cada um deles. Afirmam, por exemplo, que o ex-chefe da Casa Civil José Dirceu está enquadrado no crime de corrupção ativa. “O procurador (Roberto Gurgel) diz que o Zé Dirceu comprou o Valdemar e o Bispo Rodrigues (antigo líder do então PL na Câmara)”, explica Rubens. “Eu vi, mas o Valdemar está como corrupção passiva”, completa Paulo.
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Outra sugestão foi desconstruir a tese de formação de quadrilha. Pelo Código Penal, para que esse crime seja tipificado, são necessárias quatro pessoas. “Se um desses for absolvido, cai a tese de formação de quadrilha, né?”, indaga Paulo.
Os dois prosseguem o diálogo. Paulo, comprovando o fato de realmente ser próximo de Valdemar — o próprio parlamentar admitiu ao Estado de Minas que “eles são amigos e o irmão Vieira tem feito muita coisa por ele” —, preocupa-se com o estado emocional do padrinho político. Valdemar empenhou-se no partido para que Paulo Vieira pudesse ser indicado como diretor da Agência Nacional de Águas (ANA). “Eu acho que o trabalho aí é de duas linhas, eu já tenho uma ideia de como fazer esse trabalho. Agora, precisa segurar um pouco a onda dele, né?”, afirma o diretor da ANA. “Por quê?”, indaga Rubens. “Porque ele começa a ficar desesperado e pedir (ajuda) para muita gente, começa a fazer besteira”, prossegue Paulo.
Sem remuneração Em entrevista ao Estado de Minas na quarta-feira, no Salão Verde da Câmara, Valdemar admitiu que está vivendo “um verdadeiro inferno, uma tortura chinesa” e que “o julgamento do STF foi uma tragédia”.
A assessoria do PR confirmou que os irmãos Vieira prestaram “consultoria processual” ao réu do mensalão. Completou que isso não se restringiu a 2012, tendo iniciado no ano passado, desde o instante em que a denúncia contra os envolvidos no caso foi formalmente aceita pelo Supremo Tribunal Federal. Segundo apurou o Estado de Minas, Paulo Vieira auxiliou o advogado Marcelo Bessa, inclusive, na elaboração de memorias de defesa do parlamentar do PR.
De acordo com aliados do secretário-geral do PR, Paulo Vieira prestou serviços a Valdemar Costa Neto sem receber qualquer remuneração pela consultoria jurídica. Não fez isso por caridade e, sim, de olho em ganhos futuros. “Se você tem interesses políticos e se propõe a ajudar um cacique de qualquer legenda, não vai cobrar por isso. Vai esperar para pedir algo lá na frente”, declarou um dos participantes das conversas entre Paulo, Rubens e Valdemar. (Colaboraram Juliana Colares e Edson Luiz)
E-mails comprometem Rosemary
A Polícia Federal interceptou, durante investigações que resultaram na operação Porto Seguro, e-mails enviados entre 2009 e 2010 pela então chefe do escritório da Presidência em São Paulo, Rosemary Noronha, aos irmãos Paulo e Rubens Vieira, presos pela PF. O Jornal Nacional, da Rede Globo, teve acesso aos documentos e divulgou ontem que eles mostram que, no período, Rosemary disse aos irmãos que usaria a proximidade funcional com o presidente da República à época, Luiz Inácio Lula da Silva, para influenciar na nomeação de ambos para diretorias de duas agências reguladoras.
Inquérito da PF chega à Câmara
O presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS) afirmou ontem, ao chegar à posse do novo ministro do Supremo Tribunal Federal, Teori Zavascki, que já recebeu o documento sobre o envolvimento do deputado Valdemar Costa Neto (PR-SP) na Operação Porto Seguro. “Não fiz uma leitura aprofundada dos documentos, mas o que aparece são aquelas conversas envolvendo o deputado”, declarou. “Eu vou poder falar com mais segurança depois que passar pela análise técnica da Câmara, para onde já enviei o material e que poderá fazer uma leitura mais pormenorizada do documento”, completou.