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Estado de Minas

Quadrilha investigada pela Operação Porto Seguro ajudou no mensalão

Presos pela Polícia Federal, irmãos Vieira prestaram consultoria jurídica ao deputado Valdemar Costa Neto, antes do início do julgamento no Supremo Tribunal Federal


postado em 30/11/2012 04:02 / atualizado em 30/11/2012 08:18

Deputado federal Valdemar Costa Neto(foto: Marcelo Camargo/Folhapress BRASILIA, DF, 28.09.2011)
Deputado federal Valdemar Costa Neto (foto: Marcelo Camargo/Folhapress BRASILIA, DF, 28.09.2011)

Paulo de Tarso Lyra

Brasília – Os irmãos Paulo Vieira e Rubens Vieira, indiciados pela Polícia Federal na Operação Porto Seguro, prestaram consultoria jurídica e processual ao deputado Valdemar Costa Neto (PR-SP) no julgamento do mensalão. Conversas telefônicas gravadas com autorização judicial mostram os irmãos Vieira preocupados com a situação do secretário-geral do PR, traçando estratégias para tentar diminuir a pena, propondo pesquisas para ver se, em caso de prescrição de crimes, Valdemar poderia ser enquadrado na Lei da Ficha Limpa. “A gente tem que afastar a (condenação) mais complicada”, disse Paulo Vieira, em deteminado trecho da conversa. Não deu certo. Valdemar acabou condenado a sete anos e 10 meses de prisão.

Eles reconhecem, em diálogo travado em 10 de abril que, se tentassem buscar a prescrição dos crimes para amenizar uma possível condenação, a estratégia não funcionaria para o caso de lavagem de dinheiro. “Rubens, esse da lavagem me assustou viu? A prescrição dele é um século”, comenta Paulo Vieira. “É, pela prescrição dele não dá”, admite Rubens. O Código Penal prevê pena de três a 10 anos de prisão. Em caso de punição máxima, a condenação por esse delito prescreveria apenas em 2023, no caso de Valdemar Costa Neto.

Os dois irmãos demonstram familiaridade com o processo do mensalão, que começaria a ser julgado cinco meses depois no Supremo Tribunal Federal. Destrincham quais os crimes que serão examinados e quem está indiciado em cada um deles. Afirmam, por exemplo, que o ex-chefe da Casa Civil José Dirceu está enquadrado no crime de corrupção ativa. “O procurador (Roberto Gurgel) diz que o Zé Dirceu comprou o Valdemar e o Bispo Rodrigues (antigo líder do então PL na Câmara)”, explica Rubens. “Eu vi, mas o Valdemar está como corrupção passiva”, completa Paulo.

Um pouco antes, eles destrincham por que Zé Dirceu precisava “comprar” Valdemar e Bispo Rodrigues. “Supostamente eles teriam aceitado essa promessa (receber recursos em troca de votar a favor das reformas tributária e previdenciária), não é isso?”, indaga Paulo Vieira. “Isso”, responde Rubens, laconicamente.

Os dois debatem até quais os argumentos políticos que os advogados de Valdemar deveriam apresentar ao Supremo para comprovar que não fazia sentido o PL ser acusado de se vender para aprovar as duas reformas. “Eu não sei se eles já levaram esse argumento de que não precisamos comprar ele, ele é o governo (sic)”, questiona Rubens. “Esse aí (o argumento) já foi levado”, responde Paulo. “Foi levado?”, insiste Rubens. “Foi, com certeza”, completa Paulo.

Outra sugestão foi desconstruir a tese de formação de quadrilha. Pelo Código Penal, para que esse crime seja tipificado, são necessárias quatro pessoas. “Se um desses for absolvido, cai a tese de formação de quadrilha, né?”, indaga Paulo. “Cai”, concorda Rubens. No caso, os quatro seriam Valdemar, Bispo Rodrigues, Jacinto Lamas (ex-servidor do PL) e Lúcio Bologna Funaro, doleiro utilizado por Valdemar para lavar o dinheiro do mensalão. A corretora parceira foi a Garanhuns, comandada por José Carlos Batista.

Os dois prosseguem o diálogo. Paulo, comprovando o fato de realmente ser próximo de Valdemar — o próprio parlamentar admitiu ao Estado de Minas que “eles são amigos e o irmão Vieira tem feito muita coisa por ele” —, preocupa-se com o estado emocional do padrinho político. Valdemar empenhou-se no partido para que Paulo Vieira pudesse ser indicado como diretor da Agência Nacional de Águas (ANA). “Eu acho que o trabalho aí é de duas linhas, eu já tenho uma ideia de como fazer esse trabalho. Agora, precisa segurar um pouco a onda dele, né?”, afirma o diretor da ANA. “Por quê?”, indaga Rubens. “Porque ele começa a ficar desesperado e pedir (ajuda) para muita gente, começa a fazer besteira”, prossegue Paulo.

Sem remuneração Em entrevista ao Estado de Minas na quarta-feira, no Salão Verde da Câmara, Valdemar admitiu que está vivendo “um verdadeiro inferno, uma tortura chinesa” e que “o julgamento do STF foi uma tragédia”. Reconheceu o vínculo que tem com Paulo Vieira. “É meu amigo de longa data e tem me ajudado muito”, completou.

A assessoria do PR confirmou que os irmãos Vieira prestaram “consultoria processual” ao réu do mensalão. Completou que isso não se restringiu a 2012, tendo iniciado no ano passado, desde o instante em que a denúncia contra os envolvidos no caso foi formalmente aceita pelo Supremo Tribunal Federal. Segundo apurou o Estado de Minas, Paulo Vieira auxiliou o advogado Marcelo Bessa, inclusive, na elaboração de memorias de defesa do parlamentar do PR.

De acordo com aliados do secretário-geral do PR, Paulo Vieira prestou serviços a Valdemar Costa Neto sem receber qualquer remuneração pela consultoria jurídica. Não fez isso por caridade e, sim, de olho em ganhos futuros. “Se você tem interesses políticos e se propõe a ajudar um cacique de qualquer legenda, não vai cobrar por isso. Vai esperar para pedir algo lá na frente”, declarou um dos participantes das conversas entre Paulo, Rubens e Valdemar. (Colaboraram Juliana Colares e Edson Luiz)

 

E-mails comprometem Rosemary

A Polícia Federal interceptou, durante investigações que resultaram na operação Porto Seguro, e-mails enviados entre 2009 e 2010 pela então chefe do escritório da Presidência em São Paulo, Rosemary Noronha, aos irmãos Paulo e Rubens Vieira, presos pela PF. O Jornal Nacional, da Rede Globo, teve acesso aos documentos e divulgou ontem que eles mostram que, no período, Rosemary disse aos irmãos que usaria a proximidade funcional com o presidente da República à época, Luiz Inácio Lula da Silva, para influenciar na nomeação de ambos para diretorias de duas agências reguladoras. O conteúdo dos e-mails está entre os 11 volumes de documentos que reúnem todos os detalhes da investigação da PF.

 

Inquérito da PF chega à Câmara

O presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS) afirmou ontem, ao chegar à posse do novo ministro do Supremo Tribunal Federal, Teori Zavascki, que já recebeu o documento sobre o envolvimento do deputado Valdemar Costa Neto (PR-SP) na Operação Porto Seguro. “Não fiz uma leitura aprofundada dos documentos, mas o que aparece são aquelas conversas envolvendo o deputado”, declarou. “Eu vou poder falar com mais segurança depois que passar pela análise técnica da Câmara, para onde já enviei o material e que poderá fazer uma leitura mais pormenorizada do documento”, completou.


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