Alice Maciel
Seis meses depois da publicação do decreto que regulamentou a Lei de Acesso à Informação pelo governo do estado, 1,8 mil servidores conseguiram na Justiça liminar para retirar seus nomes e os respectivos salários do portal da transparência. Foram beneficiados pela decisão os filiados à Associação dos Funcionários Fiscais do Estado de Minas Gerais (Affemg), à Associação dos Exatores do Estado de Minas Gerais (Asseminas), uma servidora da Secretaria da Fazenda e 11 funcionários que entraram com mandado de segurança coletivo solicitando a exclusão de seus nomes da internet. O governo recorreu da decisão. Para a subcontroladora da informação institucional e da transparência do estado, Margareth Travessoni, a retirada dos dados do portal é um retrocesso. Na outra ponta, as entidades defendem a privacidade e segurança dos servidores.
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Cidadãos passam a denunciar servidores que levam vida luxuosa e incompatível com a rendaLei que efetivou cerca de 98 mil servidores em MG é inconstitucional, dizem juristasQuase 100 mil servidores do governo de Minas podem perder o empregoFuncionalismo vai à Justiça contra divulgação de salárioFicha Limpa pode ser estendida ao funcionalismo mineiroReajuste dos salários do Tribunal de Justiça e Ministério Público de Minas segue o SupremoSenado aprova projetos de reajustes de servidores públicos e ministros do SupremoJustiça manda servidora da Assembleia Legislativa de Minas devolver saláriosVereadores de BH querem reajustar o próprio salário ainda este ano em mais de 60%Câmara aprova reajuste para servidores públicos federaisReajuste salarial de vereadores entra de novo na pauta da Câmara de BHSegundo ela, as tentativas de estelionato com os servidores associados à Affemg quadruplicou e o assédio de operadoras de cartão de crédito e de imobiliárias também cresceu, a partir da divulgação nominal dos salários, em 31 de julho. Maria Aparecida ressaltou que várias relações familiares ficaram problemáticas depois da exposição dos vencimentos. “Mas o pior é que o servidor passou a pertencer ao cardápio da criminalidade”, observou. O sentimento de insegurança foi o principal fator que motivou também a Asseminas a entrar com o mandado de segurança, segundo a advogada da entidade, Paula Junqueira Dorella. “A gente concorda com o princípio da publicidade da administração pública, mas o princípio da privacidade do servidor e a sua segurança têm que ser levados em consideração”, defendeu Dorella.
Denúncias
Se a divulgação está servindo para facilitar o crime, está ajudando também a combater a corrupção. A subcontroladora da informação institucional e da transparência informou que o estado passou a receber denúncias de funcionários com patrimônio incompatível com o salário.
A Justiça mineira emitiu quatro decisões favoráveis aos servidores. O desembargador do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) Eupídio Donizetti declarou na decisão que beneficou a Asseminas: “De um lado, impedir por completo a divulgação dos vencimentos consistiria em solapar o projeto de ampla transparência da administração pública. Por outro lado, a exposição minuciosa e nominal das remunerações não atende de fato ao objeto público da segurança, servindo apenas à curiosidade”.
Já há decisões no Supremo Tribunal Federal (STF) a favor da divulgação. O ex-presidente do STF Carlos Ayres Britto atendeu pedido da Advocacia-Geral da União (AGU) em julho, suspendendo as liminares que proibiam a publicação na internet dos rendimentos dos funcionários antes do fim do julgamento do mérito dos processos. Segundo ele, a remuneração dos agentes públicos está relacionada a dois direitos fundamentais da Constituição: o acesso à informação pública e a transparência da administração. “Para além da simples publicidade do agir de toda a administração pública (esse princípio) propicia o controle da atividade estatal até mesmo pelos cidadãos”, escreveu o ministro na decisão.