Paulo de Tarso Lyra e Adriana Caitano
Brasília – A expectativa do governo de que a crise política provocada pela Operação Porto Seguro arrefecesse no fim de semana não se concretizou e a base aliada terá que se desdobrar novamente esta semana para evitar o convite para que a ex-chefe de gabinete da Presidência Rosemary Noronha vá ao Congresso explicar suas conexões com a quadrilha e com pessoas influentes no PT, como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Governistas temem ainda que a situação se agrave ainda mais se os ministros da Justiça, José Eduardo Cardozo, e da Advocacia-Geral da União (AGU), Luís Inácio Adams, não forem convincentes em suas explicações aos parlamentares.
A oposição vai manter a tática de guerrilha adotada na semana passada à espera de um cochilo do governo. Na semana passada a estratégia deu certo, com o convite feito ao ex-diretor da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) Rubens Vieira, um dos indiciados pela Polícia Federal na Operação Porto Seguro. A proposta foi aprovada na Comissão de Infraestrutura do Senado.
Em diversas comissões da Câmara foram espalhados pelo menos cinco requerimentos de convite a Rose. Dois deles são direcionados diretamente à ex-chefe de gabinete. Outro pede a presença do ex-marido dela José Claudio Noronha, que conseguiu, com o auxílio de Rose, uma nomeação para a Brasilprev e para a BB Seguros. Outros dois requerem informações do governo sobre a emissão do passaporte especial de Rosemary – ela fez 24 viagens internacionais ao lado do ex-presidente. Além disso, os deputados querem explicações sobre a contratação de uma empreiteira da família de Rose pelo Banco do Brasil.
O líder do PT na Câmara, Jilmar Tatto (SP), reforça a tese governista de que não há necessidade de convite ou convocação de pessoas acusadas de integrar o esquema. “Os funcionários citados já foram demitidos pela presidente e os integrantes das agências reguladoras afastados, ou seja, as medidas já foram tomadas, deixa a polícia apurar o restante”, minimizou. Tatto sinaliza que a base continuará tentando a todo custo blindar principalmente Rosemary. “A Câmara não pode virar palco político de delegacia e vamos tomar providências no sentido de evitar que isso aconteça.”
EXPLICAÇÕES A Comissão de Ética Pública da Presidência da República definiu ontem que quatro indiciados pela Polícia Federal na Operação Porto Seguro deverão enviar explicações ao colegiado. Rosemary Noronha; o ex-advogado adjunto da Advocacia-Geral da União José Weber Holanda; e os irmãos Paulo e Rubens Vieira poderão sofrer censura pública da comissão caso as justificativas sejam rejeitadas. Eles terão 10 dias, após serem notificados, para se pronunciar. A próxima reunião da comissão, que também decidiu pedir informações à 5ª Vara Criminal de São Paulo para obter o inquérito da Operação Porto Seguro, deverá ocorrer dia 16.
Nessa segunda-feira, a AGU apresentou o resultado do levantamento realizado nos atos assinados por José Weber. O “pente-fino” identificou 23 pedidos de audiência a José Weber pelo ex-diretor da Agência Nacional de Águas (ANA) Paulo Vieira. Foram detectados ainda dois agendamentos com o ex-senador Gilberto Miranda. No entanto, não é possível certificar se esses encontros de fato ocorreram. (Colaborou Leandro Kleber)