Jornal Estado de Minas

Envolvimento de Lula está 'desmentido', diz Cardozo

O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, negou o envolvimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas irregularidades investigadas na Operação Porto Seguro. A suspeita foi levantada pelo deputado Anthony Garotinho (PDT-RJ), pelo fato de Lula ser amigo íntimo de Rosemary Noronha e de tê-la nomeada chefe do escritório da Presidência em São Paulo desde seu primeiro governo. "Imaginar que o ex-presidente estivesse envolvido por trás disso está ao meu ver desmentido". Rose, como é conhecida, foi indiciada na operação por corrupção, tráfico de influência e falsidade ideológica.

Em depoimento na Comissão de Segurança da Câmara, Cardozo disse que a suspeição sobre Lula foi construída a partir de uma interpretação forçada em cima de e-mails pinçados seletivamente pela imprensa do inquérito, que soma 11 mil páginas. Ele disse que as autoridades que conduziram o inquérito são sérias, agiram tecnicamente e nada indica que Lula teve qualquer relação com os fatos. "Os delegados não sofreram nenhuma injunção política e à luz da lei penal, não havia como enquadrar Rose por formação de quadrilha, nem Lula com os fatos apurados", garantiu.

O que se sabe sobre a amiga do ex-presidente é que "ela tinha contatos ilegais, relações indevidas e foi duramente enquadrada em três tipos criminais, mas não participava do núcleo central da quadrilha, ao contrário, foi escanteada pelos seus membros, como mostram alguns diálogos interceptados", explicou. "O que ela fazia era, usando sua condição de chefe do escritório, facilitar contatos de membros da quadrilha em troca da favores", acrescentou.

Cardozo minimizou o e-mail em que Rose, falando com um membro da quadrilha, o manda "se aproximar do PR" e lhe promete que depois disso "eu caio matando". Segundo ele, os delegados "foram extremamente criteriosos" e teriam dado outra interpretação se assim entendessem.

Adams


Cardozo também defendeu a permanência no cargo do advogado-geral da União, Luís Adams.
Ele rechaçou a suspeita, levantada pelo deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS), de envolvimento de Adams no esquema de venda de pareceres em órgãos do governo, pelo fato de ter nomeado como seu adjunto o advogado José Weber de Holanda Alves, um dos indiciados pela Operação Porto Seguro. "Não podemos jamais ser tão implacáveis. As escolhas humanas geram situações que nos decepcionam. Até nas nossas famílias ocorrem decepções", afirmou.

Segundo o ministro, quando Adams nomeou Weber, "certamente avaliou que fosse uma pessoa séria", observou. "Não posso fazer imputações a Luís Adams, ele escolheu alguém em quem confiou e foi traído", emendou. Cardozo disse que se confiasse em Weber como Adams, também o nomearia. "Eu já nomeei pessoa sob processo por engano", acrescentou.
"No caso do Weber, nem condenação ele tinha. Às vezes nos enganamos com escolhas. Seria injusto condenar o chefe da AGU por isso", defendeu.

Acusado pela oposição de ter agido seletivamente em favor da chefe do escritório da Presidência em São Paulo, Rosemary Noronha, que não foi indiciada em formação de quadrilha, nem teve o sigilo telefônico quebrado, Cardozo afirmou que a decisão foi técnica e submetida ao crivo do Ministério Público e do Judiciário. "Se errou a PF, erraram também o MP e a juíza que presidiu o inquérito", afirmou.

Cardozo pontuou que Rose está indiciada em três crimes graves: falsidade ideológica, tráfico de influência e corrupção ativa. Mas não foi indiciada por formação de quadrilha, a seu ver, por uma avaliação estritamente técnica de quem conduziu a investigação. "Não posso dizer o que o inquérito não revela. Ela (Rose) não era membro da quadrilha. Essa é a conclusão de quem avaliou tecnicamente as tipificações.
Não se pode pensar politicamente quando se fala de crime", observou..