Brasília – O artista plástico paranaense radicado em São Paulo, Elifas Andreato, inauguranesta quinta-feira um painel sobre a tortura na ditadura militar, chamado A Verdade Ainda que Tardia, montado no corredor de acesso ao plenário da Câmara dos Deputados. A obra faz parte da exposição Parlamento Mutilado: Deputados Federais Cassados pela Ditadura de 1964 , que homenageia os 173 deputados que tiveram seus mandatos cassados no período.
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Câmara devolve simbolicamente mandato de deputados cassados pela ditaduraComissão da Verdade começa a analisar atuação das igrejas na ditadura militarBrasil receberá da Itália arquivos do combate à ditaduraAnastasia promete avaliar pedido de criação de dois memoriais da ditadura em MinasTortura na era Vargas é relatada oficialmente pela primeira vezSenado homenageia oito parlamentares cassados na ditadura ao devolver mandatosApós participar de encontros que investigaram a Operação Condor, uma aliança político-militar entre o Brasil, Paraguai, Uruguai, Chile, a Argentina e Bolívia, criada com o objetivo de coordenar a repressão a opositores das ditaduras militares desses países, Andreato recebeu a encomenda da deputada Luiza Erundina (PSB-SP), da Comissão Parlamentar Memória, Verdade e Justiça, que tem o objetivo de investigar violações de direitos humanos por agentes do Estado brasileiro entre os anos 1946 e 1988. O painel é uma doação para a comissão e ficará na Câmara após o encerramento da mostra, no dia 14 de dezembro.
Para pintar o painel, Andreato - que fez parte da geração que lutou contra o regime, foi preso e teve problemas ao fazer jornalismo e artes gráficas - passou a estudar as práticas de tortura. “As revelações foram muito impressionantes para mim.
Para ilustrar a obra, o artista fez a coroa de Cristo, que perfurava o crânio das pessoas ao ser apertada com um parafuso, em um homem sentado na “cadeira do dragão”, espécie de cadeira elétrica. Outro indivíduo encontra-se crucificado. “Eu fiz questão de ter essa associação com o suplício de Cristo, porque eles tinham isso nesses processos”, disse o pintor. O painel ainda traz a inscrição do nome Dodora, codinome de Maria Auxiliadora Lara Barcelos e companheira de cela da presidenta Dilma Rousseff quando esta foi presa pela ditadura. Dodora suicidou-se na Alemanha, na década de 1970.
“Comoveu-me muito a história de Dodora porque ela foi barbaramente espancada e estuprada pelo capitão Guimarães ”, disse Andreato, que, para retratar o ambiente sujo e ensanguentado, utilizou a cor ocre, uma variação do marrom. “Fiz isso também para dar uma unidade ao painel, que foi pintado em três partes.
Filho mais velho de uma família de baixa renda, Andreato imigrou do campo paranaense para a cidade de São Paulo. Aos 14 anos, foi chamado para decorar o salão de baile da fábrica onde aprendia o ofício de torneiro mecânico. Lá, ele transformou Aquarela do Brasil e outras composições de Ary Barroso em interpretações visuais.
No fim dos anos 1960, Andreato trabalhou na Editora Abril como diretor de arte. Fez a arte da Nova História da Música Popular Brasileira, uma coleção com 48 fascículos, acompanhados de um LP (disco de vinil) de 10 polegadas de compositores brasileiros. A publicação lhe rendeu convites para elaborar a arte de capas e a iluminação de palco para músicos como Paulinho da Viola e Martinho da Vila.
Em 1972, seu pensamento político materializou-se quando desenhou para o jornal Opinião, um semanário político do Rio de Janeiro de oposição ao regime. Em São Paulo, fez o jornal Movimento com a mesma ideia. “Eu tive amigos que sumiram, que foram espancados e fiz o que tinha que fazer”, acrescentou..