Às vésperas do anúncio pelo governo das medidas de estímulo ao setor portuário, o Tribunal de Contas da União (TCU) retirou da pauta um processo que aponta irregularidades na atuação de quatro terminais privativos no País. O adiamento, segundo apurou a Agência Estado, foi uma determinação do governo para evitar ruídos que tumultuassem a divulgação do pacote.
Uma fonte no gabinete do relator admite a intervenção do governo no julgamento do TCU. O adiamento foi decidido após um telefonema da ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann (PT-PR), ao relator do processo, o ministro do TCU Raimundo Carreiro. “É uma questão de não perder tempo. Imagina se o TCU faz uma série de recomendações e a MP já as contempla? É técnico. Perde o objeto. Por isso o ministro atendeu o pedido”, diz a fonte.
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Em nota, o TCU confirmou que foi informado pelo ministério sobre o pacote e diante de uma possível alternação no desfecho do processo, optou por aguardar o novo marco regulatório. Essa foi a segunda vez que o caso foi retirado de pauta pelo relator desde setembro, quando a área técnica do TCU concluiu o parecer sobre a ilegalidade das atividades nesses portos. Fontes no setor argumentam que o relatório técnico está bem completo e não haveria motivos para a demora no julgamento. Os alvos do TCU são os terminais de Empresa Brasileira de Terminais Portuários (Embraport, SP),Portonave (SC), Cotegipe (BA) e Itapoá (SC).
O assunto foi encaminhado ao TCU pela Federação Nacional dos Portuários (FNP), em 2009. A briga de entidades como a Associação Brasileira dos Terminais de Contêineres Públicos (Abratec) contra esses terminais privativos de uso misto (TUPM) é antiga.
Mesmo sem comprovar a operação de carga própria relevante, esses terminais de uso misto operam sob regras mais flexíveis, enquanto os terminais públicos arrendados à iniciativa privada têm ônus, como pagar arrendamento à União.
A interferência da ministra do julgamento do TCU ocorreu algumas semanas após o escândalo da máfia dos pareceres, desvendado pela Operação Porto Seguro, ter vindo à tona. Um dos maiores negócios flagrados na investigação foi o complexo portuário da Ilha de Bagres (São Paulo) do ex-senador Gilberto Miranda. No cargo de advogado geral adjunto da União, José Weber Holanda, teria ajudado o ex-senador na aprovação do projeto de um complexo portuário de R$ 2 bilhões na ilha de Bagres, área de proteção permanente ao lado do porto de Santos..