Maria Clara Prates
A reedição da queda de braço entre o ministro Joaquim Barbosa – relator do processo do mensalão e presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) –, e o ministro Ricardo Lewandowski – revisor do caso e vice-presidente –, adiou para a segunda-feira, a decisão sobre a cassação dos mandatos dos parlamentares condenados por envolvimento no esquema de pagamento de propina em troca do apoio político durante o primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ficaram para a próxima semana também outras decisões importantes, como o ajuste das penas de multa e o pedido de prisão imediata dos 23 condenados à pena restritiva de liberdade. A demora em encerrar o caso foi admitida pelo próprio presidente da Corte, que afirmou: "A nação não aguenta mais esse julgamento. Está na hora de acabar. Como dizem os ingleses, let's move on (vamos seguir em frente)”.
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Relator do processo do mensalão declara extinta punição a ex-secretário-geral do PTSTF abre julgamento do mensalão hoje com proposta de Lewandowsk para reavaliar multasSupremo rejeita corte nas penas de réus do mensalãoAbsolvido no julgamento do mensalão, Duda anuncia fusão de sua agênciaSTF deve concluir até quarta-feira julgamento do mensalãoCritérios Na verdade, a discordância entre revisor e relator teve início com a apresentação de Lewandowski da revisão de seu voto em relação às multas aplicadas aos condenados na Ação Penal nº 470, por considerar que houve “distorções claras e evidentes nas penas pecuniárias”. Segundo o revisor, não houve critério para o cálculo o que poderia gerar uma enxurrada de embargos por parte dos advogados de defesa. Barbosa não gostou nada e disse: “Se for examinar uma por uma a situação de cada um dos réus nós invadiremos o mês de fevereiro”. "Eu procurei como relator desse caso, ser o mais claro e transparente possível. Distribui meus votos em todas as votações e no final, quando está encerrando, o tribunal volta a se debruçar sobre alterações matemáticas", disparou Barbosa.
No começo da sessão, o revisor afirmou que reformaria seu voto em relação às multas para corrigir distorções. As sanções aplicadas somam R$ 22,373 milhões, em valores ainda sem correções. O ministro apresentou aos colegas uma tabela propondo valores máximos e mínimos para as multas, proporcional à pena de prisão.
Nem 10 minutos "Posso estar enganado, mas ouvi vossa excelência aplicar uma regra de três. Isso não é possível para fixação da multa. O critério fundamental é a condição financeira. Então, nós não podemos estabelecer essa proporcionalidade. Isso foi levado em conta nas propostas de multa que eu fiz e que foram acolhidas aqui”, reagiu Lewandowski.
O voto de Joaquim Barbosa, que defendeu a cassação dos mandatos dos parlamentares, foi apresentado somente depois do intervalo. Para o presidente da Corte, a decisão do Supremo é definitiva e deverá ser executada pela Câmara dos Deputados, que será apenas comunicada. “A decisão da Casa Legislativa tem efeito meramente declaratório, não podendo rever nem tornar sem efeito a decisão condenatória final proferida por essa Suprema Corte”, afirmou. Diante do entendimento distinto do revisor, Barbosa foi taxativo: “A Constituição fixou (o Judiciário) instância de juízo de certeza de condenação criminal, evidentemente, depois de transitada em julgado. Revê-lo é pôr em jogo a autoridade do Supremo Tribunal Federal, desacreditaria a República”..