Jornal Estado de Minas

Governador da Bahia pede 'tranquilidade' após decisão do STF

Após a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de cassar o mandato dos deputados condenados no processo do mensalão, o governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), pediu que os críticos da decisão do tribunal mantenham a calma e aguardem a publicação dos acórdãos das condenações e a apresentação dos recursos da defesa para discutir a questão da perda dos mandatos. "É óbvio que o episódio é traumático, mas creio que devemos ter tranquilidade. Todo mundo tem que ter calma. Então, acho que é melhor esperar a publicação e (o julgamento dos) embargos", disse Wagner, antes de encontro nesta terça-feira com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em São Paulo.

O governador da Bahia disse que considera prerrogativa da Câmara dos Deputados a cassação de mandatos. "Pertence à Câmara proclamar a perda do mandato", afirmou. Wagner também criticou os que afirmam que a democracia está comprometida após a decisão do STF sobre a cassação de mandatos. "Não tem quebra de democracia porque não tem nenhum golpe de Estado", avaliou.

Wagner condenou a repercussão das novas declarações do empresário Marcos Valério ao Ministério Público Federal (MPF), na qual revelou que o esquema do mensalão pagou despesas pessoais do ex-presidente Lula. "Declaração por declaração, todo mundo dá a que quer", minimizou, enfatizando que Marcos Valério estaria "fragilizado" com sua condenação pelo STF.
Segundo ele, há grupos interessados em desmontar a popularidade de Lula. "Existe uma vontade de quem trabalha contra um ícone com 80% de popularidade para desmontar essa popularidade, por motivos maiores ou menores. É óbvio que há", afirmou.

Para o governador, as condenações no processo do mensalão geram "traumas", que geram oportunidade de reflexão e aprendizado. "As coisas se fazem com traumas, infelizmente. Mas é no trauma que a gente aprende", disse o petista, defendendo que o episódio servia de estímulo para a reforma política e a criação de um sistema de financiamento público de campanha eleitoral.

Presente em parte da reunião em que oito governadores prestaram solidariedade a Lula, o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, também defendeu o financiamento público de campanhas políticas. "É um problema sério que tem de ser discutido, que leva muitos candidatos a cometer deslizes e praticar ilegalidades", comentou Okamotto, que foi o tesoureiro da campanha de Lula à presidência da República, em 1989.

"Muitas vezes neste processo há troca de cargos, de pontos do programa de governo (nas coligações de segundo turno) e também se compromete a ajudar a pagar a dívida de campanha. Isso acontece no Brasil desde quando se fundou a República", afirmou.
"Acho um absurdo o PT não ter feito desde o começo um cavalo de batalha para fazer o financiamento público de campanha. Não é que vai acabar com os problemas e a corrupção, mas vai acabar com a desculpa de muitos políticos que são obrigados a arrumar recursos antes do processo eleitoral."

Críticas

No novo depoimento ao Ministério Público Federal (MPF) em setembro, Marcos Valério acusou Okamotto de tê-lo ameaçado. Na tarde desta terça, Okamotto disse a um grupo de jornalistas que o teor do depoimento, publicado com exclusividade pelo jornal O Estado de S.Paulo, teria sido "roubado" ou obtido de forma ilegal. Em seguida, Okamotto voltou atrás da declaração ao ouvir esclarecimentos dos jornalistas presentes sobre a forma como as notícias são apuradas. Ele, no entanto, reclamou da divulgação pelo jornal do conteúdo do depoimento do empresário ao Ministério Público. "Essa é uma peça que não tem credibilidade, não tem fundamento. Não estou nem um pouco preocupado com isso", reiterou Okamotto.

Okamotto admitiu que, após o julgamento do processo do mensalão, os petistas pagam o preço hoje pelo envolvimento no passado com Marcos Valério. "Acho que, se você ver o resultado do julgamento você pode concluir que isso aconteceu.
Pessoas que buscaram recursos para pagar campanha, que usaram esses recursos e que não sabiam, acabaram pagando", disse..