O que era para ser apenas a inauguração de mais um estádio da Copa’ 2014 se tornou, ontem, cenário de outra disputa que se desenha para aquele ano: a Presidência da República, entre a presidente Dilma Rousseff (PT) e o senador Aécio Neves (PSDB). Na inauguração do novo Mineirão, em Belo Horizonte, com os dois reunidos pela primeira vez depois que o senador foi lançado por líderes tucanos como nome do PSDB, a briga foi para destacar o protagonismo de cada um deles na conclusão da reforma. De um lado, o dinheiro do governo federal e, do outro, a eficácia da gestão estadual.
Participando apenas como convidado e, portanto, sem discursar, o senador Aécio Neves teve o prefeito Marcio Lacerda (PSB) e o governador Antonio Anastasia (PSDB) como porta-vozes. Ambos o homenagearam e fizeram com que o tucano fosse aplaudido de pé pela plateia. “Aproveito para homenagear a pessoa do senador Aécio Neves e do governador Anastasia, pioneiros na modernização da administração de Minas Gerais. Este novo Mineirão simboliza com muita propriedade um momento de profunda transformação que nossa BH está vivendo”, afirmou o prefeito, acrescentando que a cidade está em ritmo acelerado para conclusão das obras para as copas das Confederações e do Mundo.
Lacerda, que teve Dilma no palanque do seu adversário, Patrus Ananias (PT), durante a campanha pela reeleição não mencionou a presidente. Após o discurso, em entrevista coletiva à imprensa, o prefeito explicou que quis homenagear Aécio e Anastasia, pois eles foram protagonistas “de uma revolução do modo de tocar o governo do estado”.
Em seu discurso, Anastasia fez questão de ressaltar a posição de destaque de Minas Gerais em vários aspectos para depois elogiar seu padrinho político: “Me permitam fazer uma homenagem especial àquele que iniciou esta obra, àquele que iniciou esta nova Minas, o governador do início das nossas obras do nosso estádio do Mineirão, e por isso faço saudação ao nosso senador Aécio Neves”. O governador também afirmou que Minas entregou a obra no prazo e com o mesmo orçamento indicados quando o contrato foi assinado. O governador agradeceu parcerias com os governos federal, municipal e com os empresários.
De vermelho Dilma, bem descontraída e com seu tradicional blazer vermelho – cor do seu partido –, iniciou o discurso cantando “ô, o Mineirão voltou”, repetindo o coro de um grupo musical que se apresentou durante a cerimônia. A presidente também marcou território, enfatizando em seu discurso que a reforma do Mineirão foi feita com financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). “Aqui nós tivemos R$ 400 milhões através do BNDES – o custo total foi R$ 665 milhões – com juros subsidiados e tivemos parceria do governo Anastasia e a parceria público-privada (PPP).
Desta vez sem dizer que era mineira (assunto que criou polêmica durante a última campanha eleitoral), a petista enfatizou sua relação com Belo Horizonte, cidade em que nasceu, e com o estádio. “Ao ver o Mineirão da minha juventude estava calculando ali junto do Aldo (Aldo Rebelo, ministro do Esporte) há quantos anos me sentei pela primeira vez em uma cadeira deste estádio e o tempo é longo. Foi há 50 anos”, relembrou.
A presidente frisou que o Mineirão foi o segundo estádio a ser inaugurado para a Copa do Mundo, depois do Castelão, em Fortaleza (CE), e disse que a entrega da obra mostra ao mundo a capacidade de realização dos mineiros e brasileiros. Dilma fez referências ao prefeito e ao governador, mencionando Aécio somente nos agradecimentos protocolares, quando citou também o nome do outro senador que participava do evento, o ex-presidente do Cruzeiro Zezé Perrella (PDT).
Memória
Farpas de campanha
A disputa sutil entre Dilma Rousseff (PT) e o senador Aécio Neves (PSDB) foi bem diferente do que ocorreu da última vez que a presidente esteve em Belo Horizonte, em 3 de outubro, durante a campanha municipal. Na ocasião, Dilma pedia votos para Patrus Ananias (PT) e Aécio para o prefeito Marcio Lacerda (PSB). Em comício no Barreiro, Dilma respondeu às críticas de Aécio, que dias antes havia dito que a "população de BH conhece melhor que qualquer estrangeiro" em quem deve votar. “Nunca antes na história do nosso estado a política foi tão pequena quanto esses que me chamam de estrangeira por não ser do partido deles. Sei que eles são mineiros. Respeito todos eles”, discursou a presidente.