Jornal Estado de Minas

Haddad com abacaxi nas mãos

Novo prefeito de São Paulo toma posse e destaca em seu discurso o principal desafio: solucionar a dívida do município com a União, que, de acordo com ele, é insustentável

Estado de Minas
São Paulo – Para um plenário lotado, o novo prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), procurou exaltar o amor à cidade em seu discurso de posse na Câmara Municipal, mas focou no principal problema que vai enfrentar: a dívida do município, que, segundo ele, é “insustentável”. O novo prefeito afirmou que, apesar do orçamento bilionário, a cidade perdeu a capacidade de investimento. “Não há condições de levar para frente sem repactuar (a dívida)”, disse Haddad, cobrando ações do Congresso Nacional e do ministro da Fazenda, Guido Mantega, para que essa repactuação seja estendida a estados e municípios. “A dívida é de 200% da arrecadação (de R$ 40 bilhões), o que compromete a capacidade de investimento. Não bastará apenas a troca do indexador da dívida, temos de buscar as parcerias necessárias com os governos federal e estadual, no âmbito das parcerias público-privadas (PPPs), com empreendedores, para recuperar os investimentos”, afirmou Haddad.
Falando ao governador Geraldo Alckmin (PSDB), Haddad, que concorreu à sua primeira eleição e venceu, pregou "um pacto federativo" com a "mudança de postura da própria classe política em relação a ela mesma". Ainda para o governador, ele afirmou: “Não posso, não devo, não farei e não recusarei um único centavo do governo do estado, do governo federal que é de direito do cidadão paulistano, independentemente de partido.” E continuou: “Quero dar as mãos ao senhor para trazer os benefícios que o povo de São Paulo tanto merece e anseia”.

Antes do discurso de pouco mais de 20 minutos, ainda na transmissão de cargo, Haddad recusou a caneta oferecida por Kassab e preferiu utilizar a sua própria. Apesar de citar a dívida da cidade, no pronunciamento, Haddad elencou como prioridade o enfrentamento da miséria extrema. “Não é possível viver com tanta desigualdade, mazelas, com crianças brincando em esgoto a céu aberto e trabalhadores desamparados. Existe ainda muita miséria na cidade de São Paulo”, afirmou o prefeito, que pediu uma “busca ativa” para identificar as pessoas que precisam de ajuda.

Em resposta, o governador Geraldo Alckmin afirmou, em seu discurso, que os interesses da cidade estão acima dos interesses partidários, numa referência à disputa entre os partidos de ambos. “Você poderá sempre contar com o apoio do governo do estado naquilo que for de competência e interesse de São Paulo”, disse Alckmin. O governador concordou que o desafio dos prefeitos paulistas é “ultrapassar as dificuldades que atingem a qualidade de vida da população”. “Governar a cidade de São Paulo é um enorme desafio, é por isso que é tão estimulante.”

‘OUTRA FREGUESIA’ Em sua despedida, o ex-prefeito Gilberto Kassab (PSD) disse que deixa o cargo com a sensação de dever cumprido e “com a cabeça erguida”. Citando o poeta Mário Quintana, Kassab disse que agora vai alçar novos voos em sua carreira política. “Vou cantar em outra freguesia”, afirmou, muito emocionado. Em um discurso de aproximadamente 15 minutos, Kassab disse que passou os últimos dias entregando obras e que, neste momento, “começa a sentir o vazio” de deixar o posto. Ele ainda recomendou ao novo prefeito uma atenção especial com as finanças municipais, mencionando diretamente a dívida da prefeitura com o governo federal. “A dívida com a União é impagável.”

Entre os presentes na transmissão de cargo de Kassab para Haddad estavam o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e o presidente nacional do PT, Rui Falcão.

VEREADORES O vereador Toninho Paiva (PR) foi internado e não pode presidir a sessão de cerimônia de posse do prefeito Fernando Haddad (PT) e dos vereadores. Não foi informada a doença dele. Aos 70 anos, Paiva deveria dar posse aos 52 dos 55 parlamentares eleitos em outubro. A sessão foi presidida por Gilson Barreto (PSDB).

O grande ausente

O ex-presidente  Lula não foi à posse do prefeito Fernando Haddad (PT). Segundo a assessoria de imprensa do PT, o padrinho político do prefeito está em viagem com a ex-primeira-dama Marisa Letícia. Os assessores do ex-presidente disseram que “Lula nunca cogitou ir à posse de Haddad”. Ele faltou também  à  posse de seu filho, Marcos Lula (PT), que assumiu uma cadeira na Câmara Municipal de São Bernardo do Campo (Grande São Paulo).