Carro do almoxarifado da prefeitura totalmente sucateado, banheiro depredado e contas no vermelho são alguns dos problemas enfrentados pelo recém-empossado prefeito de Carandaí, professor Pelé - Foto: Leandro Couri/EM/D.A Press Quando Antônio Sebastião de Andrade, o professor Pelé (PR), assumiu a Prefeitura de Carandaí, na Região Central, a 137 quilômetros de Belo Horizonte, no primeiro dia do ano, encontrou um cenário de devastação. As escadarias da prefeitura estavam sujas de fezes, parte da fiação elétrica arrancada, os computadores sem dados e vários veículos danificados. “Minha equipe está terminando de fazer um levantamento das contas. Até agora foi apurada uma dívida de R$ 2 milhões. Vou decretar o estado de emergência amanhã (hoje)”, afirma o prefeito. Na avaliação do professor Pelé, a cidade está “inadministrável”. Ele venceu uma eleição apertadíssima batendo por apenas 148 votos o ex-prefeito Clairton Dutra Costa Vieira (PPS), o Kiko. Carandaí tem 25 mil habitantes e 18 mil eleitores. Meses após a eleição, o clima de embate político na cidade ainda é visível. Várias casas ostentam bandeiras amarelas ou verdes, além de muitas serem pintadas nesses tons.

As cores simbolizam os dois grupos políticos da cidade: os “mandruvás”, da cor verde, e os “canários”, que adotam o amarelo. Pelé é “canário”, mas as últimas administrações foram “mandruvá”. Para Kiko, apoiado pela secular família Andrada, da vizinha Barbacena, as denúncias do atual mandatário são motivadas pelas diferenças políticas. “Essa rivalidade prejudica muito. Vira um Cruzeiro x Atlético”, lamenta o candidato derrotado, que já tem um novo emprego: foi nomeado secretário de Desenvolvimento Econômico do prefeito Antônio Andrada (PSDB), em Barbacena.

Os danos, na visão de Pelé, vão além do patrimônio físico. Quando assumiu, descobriu que mais de 300 funcionários do poder municipal eram contratados sem concurso, e tiveram o contrato encerrado. Na sede da administração municipal, um prédio de cinco andares, restaram apenas 13 funcionários de carreira. Além disso, o prefeito afirma que a folha de pagamento de dezembro não foi paga e também não restou dinheiro em caixa para a quitação. As dívidas se acumulam: R$ 22 mil de conta de energia elétrica; R$ 408 mil com o fundo previdenciário e R$ 7 mil de internet. “Estou perplexo. Falo como cidadão e não como prefeito, mas não confio mais nos políticos”, afirma.

O novo diretor do Hospital Municipal de Sant’ana de Carandaí, Felipe Teixeira, revela que, em média, a prefeitura repassa R$ 400 mil para a instituição todo mês. “Estranhamente repassaram R$ 940 mil em dezembro e não fizeram prestação de contas, ficando em caixa apenas R$ 100 mil”, informa. Na oficina da prefeitura, quase uma dezena de veículos, entre caminhões, tratores, escavadeiras, ônibus escolares e ambulâncias aguardam reparos.

Fotos

O ex-prefeito Kiko enviou ao Estado de Minas dezenas de fotos do prédio da prefeitura intacto, com as salas em perfeito estado de conservação e completamente equipadas, enviou também imagens de veículos em funcionamento e atendendo a população. “Eu sabia que eles (“canários”) fariam isso. Por isso mandei fotografar tudo”, afirma Kiko, que garante não ter sabotado nenhum bem público. Ele listou  as obras que fez durante o período em que governou.

Aliás, na entrada da prefeitura três placas foram colocadas no mês passado, anunciando o início de três obras (a pavimentação de uma estrada até Lagoa Dourada, a construção de uma farmácia popular e uma unidade móvel de saúde) que ainda não saíram do papel e existem apenas nas placas. Nem o governador Antonio Anastasia (PSDB), do partido que apoiou os “mandruvás” foi poupado: o retrato oficial do governador foi pichado.

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