Jornal Estado de Minas

Cargos amarrados a projetos

Lacerda deverá definir nomes para a administração municipal a conta-gotas

Negociações vão envolver a busca de apoio na Câmara para matérias de interesse da Prefeitura de BH

Bertha Maakaroun - enviada especial
De férias, Lacerda volta hoje a BH: projetos de mudança da legislação urbanística deverão ser sua prova de fogo na relação com os vereadores - Foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press - 27/12/12 O prefeito Marcio Lacerda (PSB) não tem pressa em promover mudanças no primeiro e no segundo escalão da administração municipal. As alterações serão feitas a conta-gotas, a maior parte delas a partir de fevereiro, depois de terem sido enviados à Câmara Municipal projetos de interesse da Prefeitura de Belo Horizonte.
Alguns são projetos de mudança da legislação urbanística, que mobilizam segmentos com forte poder de pressão. Para neutralizar essa influência, a articulação política do prefeito se sentará com os partidos políticos e, se considerar que eles não têm influência sobre as bancadas, buscará negociar diretamente com os vereadores. Antes, contudo, é intenção da Prefeitura de Belo Horizonte abrir os projetos ao debate com a sociedade por meio de entidades de classe e vereadores com atuação voltada para os temas tratados, em busca de apoio político e menor desgaste.

“A caneta está na mão do prefeito”, avalia um interlocutor próximo de Marcio Lacerda. Essa caneta poderá ser usada, se necessário, para reunir maioria na Câmara Municipal. No mandato passado, os projetos de interesse da PBH já eram negociados caso a caso diretamente com os parlamentares. Para isso, desta vez, Lacerda segura as modificações que promoverá na administração para acomodar os aliados. Depois de reservar os cargos que considera de preenchimento mais “técnico”, entre eles a Secretaria Municipal de Planejamento e a Secretaria Municipal de Obras, pleito do PSDB, o prefeito pretende costurar a sua base política no Legislativo.

O teste de fogo de Marcio Lacerda junto à nova Câmara Municipal serão os projetos que seguirão no mês que vem. Um deles, a exemplo do que foi feito para hotéis, amplia o quociente de aproveitamento do solo para a construção de hospitais na cidade. Os projetos que alteram a legislação urbanística acirram sempre os ânimos porque envolvem, necessariamente, a ocupação do solo num contexto em que já não há  terrenos vagos, principalmente nas regiões mais nobres da cidade. Em recentes declarações, alguns vereadores, já sinalizando o alvo de sua atuação neste mandato, afirmaram que a Lei de Uso e Ocupação do Solo foi votada a toque de caixa. Como a PBH tende a conter a verticalização em algumas regiões, esta é uma temática que poderá se tornar um cavalo de batalha entre a Mesa Diretora e a PBH.

Há outro projeto que trata de uma parceria público-privada (PPP) para a construção de um centro de logística na região do Jardim Canadá, retirando da BR- 040 o trânsito de grandes caminhões. Há ainda matérias relacionadas à legislação urbana na região central do Barreiro.

As conversas com os partidos políticos para o início da composição do governo se darão na semana que vem. Necessariamente, a interlocução tenderá a se iniciar com a pergunta: “A cidade tem interesse em aprovar alguns projetos. De sua bancada na Câmara, quantos votos pode assegurar?”. Em desdobramento ao problema colocado, a discussão deverá se deslocar para os vereadores que, como se evidenciou na sucessão da Mesa Diretora, não acompanharam os partidos políticos.

Com três vereadores, o PSDB lançou dois candidatos: Henrique Braga, em acordo com a direção do PSDB, em negociação conduzida pelo deputado federal Eduardo Azeredo (PSDB) e acompanhada pelo presidente estadual, Marcus Pestana; e a candidatura vitoriosa de Leo Burguês (PSDB), apoiada pelo secretário de Estado de Governo, Danilo de Castro, que participou da articulação e atraiu votos de vereadores de pequenas legendas, sobre as quais exerce influência.

Não apenas no PSDB, mas nenhuma outra legenda votou inteira com uma das chapas. Nem o próprio PSB. Dos seis vereadores do partido, cinco apoiaram Henrique Braga, acompanhando Lacerda. Mas Alexandre Gomes não apareceu na hora de se manifestar na urna. Também o PV, legenda do vice-prefeito Délio Malheiros, teve um de seus vereadores, Leonardo Mattos, apoiando Leo Burguês e outro, Sérgio Fernando, ao lado de Henrique Braga.

Sem ter tirado férias no ano passado, Marcio Lacerda elegeu as duas primeiras semanas de janeiro para descansar. Nos primeiros dias do ano, foi a Escarpas do Lago. Hoje, estará de volta à capital mineira, mas pela próxima semana ainda acompanhará as grandes questões da PBH de sua casa.