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Estado de Minas

Tortura na era Vargas é relatada oficialmente pela primeira vez

Empresário preso em 1952 por ligações com comunistas faz o 1º relato à Comissão da Verdade de violação por motivo político fora da ditadura


postado em 12/01/2013 06:00 / atualizado em 12/01/2013 09:25

Boris Tabacof passou 400 dias na prisão: nem mesmo sua família sabia da história (foto: Marcelo Oliveira/Ascom/CNV)
Boris Tabacof passou 400 dias na prisão: nem mesmo sua família sabia da história (foto: Marcelo Oliveira/Ascom/CNV)
O empresário Boris Tabacof, de 84 anos, foi preso e torturado por motivos políticos em 1952, na Bahia. Ele é a primeira pessoa a relatar à Comissão Nacional da Verdade violações de direitos humanos fora do período da ditadura militar (1964-1985). O depoimento foi dado em novembro. A prisão ocorreu durante o governo Getúlio Vargas. Tabacof era à época membro do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e dava suporte a militantes que atuavam dentro das Forças Armadas.

"Fui secretário de organização do Comitê do PCB na Bahia, o segundo cargo do partido no estado. É aí que entra como eu tenho a ver com todo esse movimento, dentro da esfera militar", disse o empresário. Ele que fornecia material ideológico para os militares comunistas. "Eu só tinha contato com uma pessoa, um cabo do Exército cujo nome de guerra era Plínio", acrescentou. Ele contou ter sido obrigado a ficar nu durante vários dias. “A única coisa que tinha nesse cubículo era um balde para as necessidades, e esse balde não era retirado. Então, eu tinha que dormir no chão e, de vez em quando, chegava um soldado e jogava água", afirmou Tabacof no depoimento.

Em 20 de outubro de 1952, Tabacof foi preso dentro de um ônibus. "Foram bofetadas de todo jeito e me arrancaram do ônibus, colocaram-me em uma caminhonete e ela foi direto para o Forte do Barbalho (em Salvador)”, contou. No local, começou o período de 400 dias de prisão ao qual foi submetido. Segundo o empresário, as grades das celas do forte eram cobertas com tábuas "para ninguém ver o que estava acontecendo".

Segundo a psicanalista Maria Rita Kehl, um dos integrantes da comissão presentes ao depoimento de Tabacof, o empresário é a única pessoa entrevistada até agora a relatar tortura dentro do período investigado pelo grupo – de 1946 a 1988 – que não foi vítima da ditadura, mas do governo Getúlio Vargas (1951-1954). Além dele, foram presos na operação para desmantelar a infiltração comunista nas Forças Armadas mais um civil e 28 militares.

De acordo com o empresário, os agentes do governo de Getúlio queriam provar que havia um complô comunista simpático à União Soviética para assumir o poder no Brasil. "Como eu não estava contando nada que eles queriam nem queria assinar, eles foram piorando as coisas. Eu fiquei alguns dias de pé, com um soldado (armado) de baioneta ao meu lado, que não deixava que eu me sentasse." O período de cárcere incluiu 50 dias de isolamento em uma penitenciária em Sergipe.

Ao final, o empresário acabou assinando uma confissão com os demais presos. Ele respondeu a processo até julho de 1954, quando foi solto após o julgamento. O trauma impediu que Tabacof revelasse sua história até mesmo para a família, que só recentemente soube desses eventos. "Era uma coisa de humilhação que ele não conseguia contar", afirmou Kehl.

Homenagem proibida

Uma lei publicada no Diário Oficial da União de ontem proíbe que pessoa condenada pela exploração de mão de obra escrava seja homenageada na denominação de bens públicos. O texto da Lei 12.781, que altera a de número 6.454, de 24 de outubro de 1977, entrou em vigor ontem em todo o território nacional. O texto da lei, aprovada pelo Congresso e sancionada pela presidente Dilma Rousseff, veda o uso do nome de pessoas condenadas e notabilizadas pelo uso de trabalho escravo. A norma dispõe sobre nomes de ruas, obras, serviços e monumentos públicos. Em maio, a Câmara aprovou, em segundo turno, a PEC do Trabalho Escravo, que prevê a expropriação, sem pagamento de indenização, de propriedades rurais ou urbanas onde se constate trabalho escravo.




 


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