COMISSÃO Em visitas realizadas pelo órgão a mais de 10 unidades da Federação, foram verificadas ilegalidades graves, como funcionários de tribunais e até magistrados negociando o pagamento de precatórios em troca de comissão, além de uma desorganização generalizada na gestão dos débitos. Foram resgatados casos da primeira metade do século passado, como o da família Vilela, esquecidos nos escaninhos do Judiciário. Para o advogado João Paulo Vilela, um dos beneficiários da indenização que Aparício, seu tio-avô, tinha direito por ter sido preso injustamente, a demora em cumprir uma decisão judicial representa “o maior sintoma do definhamento do direito e da democracia”. “Nossa família buscou durante todo o decorrer do processo aquilo que nos cabia antes do evento danoso, apenas a justiça”.
Outro exemplo flagrante teve início ainda em 1906, quando o coronel Generoso Paes Leme de Souza Ponce comprou lotes em Diamantino (MT). Dois anos depois, a transação foi anulada administrativamente para dar espaço a empresas, inclusive estrangeiras, de extração de látex para fabricação de borracha. A briga pela propriedade se arrastou até a Justiça reconhecer o direito a perdas e danos. Em 1959, os herdeiros do coronel requereram a liquidação da sentença. Até hoje, porém, o caso está pendente, tendo chegado ao Supremo Tribunal Federal, segundo informou o Tribunal de Justiça do Mato Grosso (TJMT). Na Suprema Corte, discute-se quem são os verdadeiros beneficiários.
Isso porque, no caso da indenização devida ao coronel Paes Leme, o crédito teria sido vendido pelos herdeiros, beneficiários primários, a terceiros. Apesar de aceito pela legislação brasileira, o expediente decorre da falta de perspectivas de receber, levando a prejuízos graves. “As pessoas vendem com deságios altos, de 90%, porque sabem que vão morrer sem ver seu direito cumprido. Com a lista pública de precatórios, o credor pelo menos tem ideia de quando vai receber. Com isso, acreditamos que essa cessão do crédito diminuirá”, diz Agamenilde.
Em uma previsão otimista, segundo a magistrada, o Estado tem demorado, em média, 10 anos para honrar seus débitos, depois de sentença judicial transitada em julgado determinando o pagamento. Governos estaduais têm a maior fatia da dívida em precatórios. Devem R$ 48 bilhões – ou 55% dos quase R$ 95 bilhões. Sobre as prefeituras, pesam débitos que somam R$ 32,5 bilhões. Já autarquias e órgãos da administração indireta têm compromissos de R$ 6,8 bilhões para honrar. Quase 130 mil processos originaram os precatórios pendentes de pagamentos no Brasil, segundo dados do CNJ referentes a julho de 2012.