Jornal Estado de Minas

Lacerda encontra dificuldades para arranjar líder de governo na Câmara de BH

Prefeito Marcio Lacerda tem menos de 15 dias para escolher seu representante na Câmara. O problema é que, até entre aliados, está difícil achar alguém que queira assumir o posto

Alice Maciel
A escolha do líder de governo na Câmara Municipal de Belo Horizonte poderá ser definitiva para garantir a governabilidade do prefeito Marcio Lacerda (PSB). O difícil será achar entre os aliados quem queira assumir o cargo. Com a vitória da Mesa Diretora, liderada pelo tucano Léo Burguês, contra o grupo apoiado pelo prefeito, corre nos bastidores da Casa que nem mesmo os parlamentares do partido de Lacerda estariam dispostos a enfrentar o embate para aprovar projetos de interesse do Executivo. O conselho que aliados deram ao prefeito é para que ele indique um nome ligado aos novos dirigentes. No entanto, o socialista estaria resistente e sua estratégia seria a de se aproximar do novo comando. Para isso, ele está tentando fechar um acordo com os vereadores, conforme contaram membros da Mesa. O prefeito tem menos de 15 dias para escolher seu novo representante no Legislativo. Dia 4 acontece a primeira reunião em plenário da atual legislatura.


O ex-líder de governo Ronaldo Gontijo (PPS) e os dois ex-vice-líderes Daniel Nepomuceno (PSB) e Bruno Miranda (PDT) confidenciaram a colegas que não querem o cargo “de jeito nenhum”, prevendo a dificuldade de negociação com os novos dirigentes. Depois de derrotados pelo grupo que elegeu Léo Burguês e sem cargos de relevância na Câmara, Gontijo e Nepomuceno estariam mais interessados em um lugar na prefeitura. Segundo informações de bastidores, Ronaldo quer a Secretaria de Educação. Dirigentes do seu partido se reuniram na semana passada para levar a reivindicação ao prefeito. Por sua vez, Daniel estaria tentando um cargo no governo do estado.
Outra opção para Lacerda no PSB, entre os veteranos, é o vereador Alexandre Gomes (PSB), mas o parlamentar ficou mal com o prefeito ao se ausentar da votação para a Presidência na Câmara. Ainda no PSB, sobram quatro novatos, porém, é costume o cargo ser ocupado por parlamentares mais experientes. O PSDB até poderia levar o cargo, mas tanto Henrique Braga quanto Pablito ficaram aborrecidos com a maneira com a qual Lacerda encaminhou as articulações para a Presidência da Casa, tentando emplacar Bruno Miranda (PDT) até o último minuto. Além disso, Lacerda não está querendo dar o mesmo espaço aos tucanos que deu aos petistas na gestão anterior. Bruno Miranda, apesar de ter manifestado não estar muito disposto a assumir a liderança, pode acabar sofrendo uma pressão para assumir o posto.

Dificuldades

Ser líder na Casa não vai ser tarefa fácil, pelo menos se for considerado o cenário atual da Câmara. A nova Mesa Diretora assumiu um discurso de independência e já demonstrou que não vai facilitar a vida de Marcio Lacerda. Além de negociar com o novo comando, o representante da prefeitura terá de enfrentar neste mandato uma bancada de sete vereadores na oposição. Conforme mostrou reportagem do Estado de Minas na sexta-feira, sete parlamentares se autodeclaram independentes, sendo que os dois vereadores do PCdoB – “dependendo das atitudes do prefeito nos primeiros meses” – ainda podem mudar para a bancada dos adversários ao governo.

Com a garantia de menos de um terço de vereadores do seu lado, Lacerda terá dificuldade para aprovar, por exemplo, projetos de empréstimos, gratuidade de serviço público, alteração do Código Tributário, na Lei de Uso e Ocupação do Solo e no Plano Diretor, que precisam de quórum qualificado, ou seja, de 28 votos. No momento, 27 dos 41 vereadores se definem da base de governo. Em votações de quórum comum, a vida de Lacerda fica um pouco mais fácil: são necessários 21 votos.

O discurso dos parlamentares independentes e até mesmo dos novos dirigentes pode mudar depois da distribuição de cargos na prefeitura. No mandato passado, o prefeito segurou os vereadores na base, principalmente com cargos no Executivo. Ele conseguiu aprovar todos os projetos de seu interesse.

Enquanto isso, quem está em uma situação confortável com todo esse suspense em torno do nome do novo líder são os adversários de Lacerda. Isso porque a oposição declarada ao prefeito, formada pelos seis vereadores do PT e pelo único do PMDB, Iran Barbosa, pode ser fortalecida com o racha da base aliada.

 

Você se lembra?

"Agradeço o esforço pessoal e profissional do vereador (...),  lealdade e a convergência com os objetivos do governo, tendo como preocupação constante os interesses de Belo Horizonte"

Marcio Lacerda, prefeito de Belo Horizonte, em carta direcionada a seu ex-líder na Câmara, o petista Tarcísio Caixeta, em 11/7/2012

 

Memória

Rompimento

Antes de Ronaldo Gontijo (PPS), o líder do Executivo municipal era o vereador Tarcísio Caixeta (PT). Porém, quando PT e PSB romperam a aliança, Caixeta teve que deixar o cargo, mesmo sendo muito ligado ao prefeito Marcio Lacerda (PSB). Petistas e socialistas romperam a aliança após o PSB decidir que não iria coligar na disputa pelas 41 cadeiras de vereador nas eleições do ano passado. A decisão levou os petistas a lançar candidato próprio para a prefeitura. Apesar da pressão do partido para que abandonasse o posto logo após o rompimento, Caixeta esperou o encerramento do semestre e a aprovação dos projetos de interesse do Executivo para renunciar. Caixeta se reelegeu e hoje integra a bancada de oposição ao prefeito. Antes dele, o líder também era petista, Paulo Lamac, que, eleito deputado estadual em 2010, deixou a Câmara para assumir a cadeira na Assembleia Legislativa no ano seguinte.