Assessores do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva buscaram os holofotes ontem para afastar rumores sobre a possibilidade de ele tentar retornar ao Palácio do Planalto em 2014. “A nossa candidata em 2014 chama-se Dilma Rousseff”, afirmou o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, durante seminário organizado pela entidade para discutir a integração da América Latina.
De volta à carga na política nacional, o ex-presidente prepara uma espécie de reedição das Caravanas da Cidadania da década de 1990, quando percorreu o país pavimentando seu caminho para a corrida presidencial. Em tese, a série de viagens por municípios brasileiros que ele pretende começar neste ano servirá para fortalecer o PT em regiões consideradas estratégicas pelo partido e fazer frente ao provável maior adversário de Dilma nas eleições de 2014, o senador tucano Aécio Neves (MG).
O próprio Lula aproveitou seu discurso de abertura do evento para enfatizar seu papel de “auxiliar” de Dilma, credenciando-se, de uma só vez, como um articulador político de seu governo e formulador de propostas nas relações externas do país. Não deixou de creditar, contudo, a eleição da presidente ao sucesso obtido em seus oito anos de governo.
“É um desafio extraordinário a gente aprender a ser ex-presidente da República”, disse Lula. “E eu tinha um pacto comigo mesmo de mostrar que é possível ser ex-presidente sem se intrometer no exercício da Presidência. Mesmo quando a pessoa que está exercendo a Presidência foi minha ministra, uma companheira da mais extraordinária confiança e que foi eleita graças ao sucesso do nosso governo.”
Imagem negativa
Mesmo com o discurso de não interferência na gestão Dilma, o seminário organizado pelo Instituto Lula não escapou de causar uma saia justa com o Planalto. Reservadamente, a presidente havia pedido cautela a seus ministros em uma eventual participação no encontro promovido por Lula.
No Planalto, ainda ecoa a imagem negativa gerada pela presença do ex-presidente em reunião entre o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, e secretários municipais, na semana passada. A ministros próximos, Dilma não escondeu o desconforto que lhe causaria a presença de integrantes da sua equipe em um encontro em que Lula discutiria caminhos para a política externa de seu governo.
Ainda assim, compareceram ao evento o ministro da Defesa, Celso Amorim; o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho; e o assessor especial da Presidência, Marco Aurélio Garcia.
Diante deles, o ex-presidente ressuscitou bandeiras de sua administração, ao defender a busca de novos caminhos para uma maior integração entre os países da América Latina, e destacou a importância do meio acadêmico em desenvolver esse intercâmbio regional. “Queremos aprender com vocês, saber o que vocês estão pensando sobre esse tema na academia para que sejam criados instrumentos para avançar na integração”, disse Lula aos intelectuais reunidos no evento.