Jornal Estado de Minas

Prefeitos mais experientes evitam parcerias com o governo federal

Juliana Cipriani

O prefeito de Ipuiúna, no Sul de Minas, Elder Cássio de Souza Oliva (PR), presidente da Associação dos Municípios do Alto Rio Pardo, tem hoje poucos convênios com o governo federal. E promete levantar a voz durante o encontro dos novos gestores para falar do descrédito que o levou a evitar as parcerias com a União. “Não assinei mais porque perdi a confiança. Tive três convênios, um para construir campos de futebol e dois para pavimentação, que não saíram do papel. Era para conseguir em torno de R$ 800 mil em 2009, 2010 e 2011, mas a documentação é muito complicada e a maioria de nós deve ao INSS, então não conseguimos pegar a certidão para buscar mais verba”, conta.
A cobrança de Elder será por mais sensibilidade. “Como sou reeleito, posso dizer que o que queremos é que o governo federal cumpra o que promete e não enrole mais os municípios”, afirmou. O maior problema da cidade hoje é uma dívida de mais de R$ 2 milhões com o INSS, acumulada em mais de 20 anos. Na cidade, com cerca de 10 mil habitantes, a falta de recursos para investimento e as obras não feitas são cobradas diretamente na porta do prefeito. “Tem prefeito na região que não consegue pagar a folha, com o dinheiro bloqueado. Então, o que esperamos é seriedade. Não pode pagar R$ 1 milhão? Ofereça R$ 500 mil, mas pague”, reclamou.

Também em segundo mandato, José Barcia Neto (PSDB) teve de aumentar impostos em 15% logo que chegou pela primeira vez à Prefeitura de São Lourenço, no Sul do estado, para conseguir trabalhar. “Isso que está me dando fôlego, mas não é a realidade dos meus vizinhos. São cerca de 100 cidades em situação complicadíssima. A maioria vai ter de fechar serviços básicos por falta de verba para custeio”, conta. A vantagem de São Lourenço é ser uma cidade turística e, por isso, ter arrecadação própria. O último parcelamento da dívida com o INSS, para ele, foi pior que o anterior, o que fez com que muitos preferissem não mudar. Da presidente Dilma, o prefeito pretende cobrar uma solução para o Rio Verde, que precisa ter o fluxo de água regularizado para evitar enchentes nos cerca de 40 municípios que o rodeiam.

Entre os novatos, as queixas são praticamente as mesmas. Caixa vazio e dificuldade de cumprir convênios. O piso salarial dos professores e o aumento do salário mínimo, segundo o prefeito Geraldo Antônio da Silva (PSD), de Carmópolis de Minas, no Centro-Oeste, vão deixar o município com dificuldade de cumprir a folha de pagamento do funcionalismo. Ainda sem a contabilidade de dezembro, ele não sabe qual a dívida do município, mas encontrou a frota de veículos sucateada e excesso de funcionários na folha. “Vamos buscar convênios, pois não sobrevivemos sem, mas primeiro observando a contrapartida”, disse.

Em Pimenta, também no Centro-Oeste, o prefeito estreante Ailton Costa (PR) diz estar endividado em cerca de R$ 6 milhões. Depois que conseguiu as chaves da prefeitura, descobriu que faltava pagar R$ 800 mil dos salários de dezembro e o 13º do funcionalismo; R$ 600 mil a fornecedores; e R$ 793 mil em precatórios. O rombo com o INSS é de R$ 2,6 milhões. A conta de luz do hospital quase foi cortada por falta de pagamento. “A gente esperava que o governo visse a situação e disponibilizasse uma parcela extra para os municípios pequenos. Está muito difícil. Tem funcionário com dinheiro para receber nos procurando para pedir dinheiro para comprar leite”, afirma Costa. Ainda assim, o prefeito está esperançoso do encontro com a presidente Dilma e pretende pedir ajuda para comprar uma máquina niveladora para o município e para a construção de uma ponte. “Estamos precisando é de socorro”, resumiu.