O tom mais duro adotado pela presidente Dilma Rousseff no pronunciamento feito para anunciar a queda do valor da conta de luz não foi casual. Ele foi resultado da avaliação feita dentro do Palácio do Planalto que identificou um risco para a imagem do governo e da própria Dilma e potencial prejuízo político que poderia se refletir até nas eleições de 2014.
Por causa disso, segundo interlocutores próximos da presidente, Dilma quis falar de forma mais veemente para não apenas conter as críticas da oposição, mas também para mostrar que o governo está trabalhando. A redução na conta de energia foi considerada a ação ideal para exibir um movimento pró-ativo do governo e de impacto imediato.
Marqueteiro
Como em todos os seus pronunciamentos oficiais, a presidente Dilma discutiu a maneira de falar diretamente com o marqueteiro João Santana e saiu convencida que era estratégico negar a possibilidade de falta de energia no País.
Além de poder mostrar imediatamente uma ação de seu governo - a queda na conta da luz -, Dilma e seus principais auxiliares também sabem que o tema energia é extremamente delicado. Em 2001 o PT ganhou muito espaço no seu discurso de oposição por causa do apagão ocorrido durante o governo Fernando Henrique Cardoso e que provocou racionamento de energia no País. Os petistas aproveitaram a situação e conseguiram um desgaste expressivo na imagem do governo tucano por esse problema. O assunto acabou sendo um ponto importante na campanha presidencial do ano seguinte, vencida pelo petista Luiz Inácio Lula da Silva.
No caso de Dilma, o tema é mais importante ainda já que seu nome começou a ganhar destaque no cenário político justamente por sua gestão eficiente como secretaria estadual de Minas e Energia do governo do Rio Grande do Sul no período do apagão. Essa atuação fez com que Lula a escolhesse para ocupar o Ministério de Minas e Energia, em 2003, abrindo o caminho para sua trajetória vitoriosa até a eleição presidencial de 2010.
Disposição
O pronunciamento mais forte de Dilma apontou ainda para sua disposição de concorrer à reeleição em 2014. O embate acirrado em torno da questão de energia e as críticas feitas aos adversários foi interpretado por integrantes da oposição como sinal de disposição da presidente em tentar um novo mandato presidencial. Tanto que o PSDB soltou uma nota oficial logo em seguida para criticar a presidente por aproveitar o espaço de cadeia nacional de televisão e rádio para fazer campanha política e antecipar a disputa eleitoral.
O governo prevê que a oposição vá insistir no tema, mas interlocutores diretos da presidente avaliam que o assunto poderá esfriar assim que o desconto na conta de luz comece a ser sentido no bolso dos consumidores brasileiros. Com isso, esperam que a crise de energia deixe de ser um ponto de fragilidade para o governo federal.