Jornal Estado de Minas

Renan Calheiros testa no voto hoje a fidelidade dos colegas de Senado

Após uma série de acordos costurados nos bastidores, parlamentar alagoano oficializa a candidatura e é o favorito para voltar hoje à Presidência da Casa, apesar de pressões

Karla Correia
Renan (C) obteve o apoio dos 19 correligionários que discutiram a sucessão ontem e deve ser eleito para presidir o Senado - Foto: Monique Renne/CB/D.A Press
O senador Renan Calheiros (PMDB-AL) deve ser eleito nesta sexta-feira presidente do Senado com cerca de 60 dos 81 votos possíveis da Casa. A provável vitória avassaladora, contudo, não dá a dimensão do que poderá ser a gestão do peemedebista. Denunciado pelo Ministério Público Federal no Supremo Tribunal Federal (STF) pela emissão de notas frias para justificar o pagamento de despesas pessoais, Renan deixou para confirmar a candidatura na véspera da eleição. E segue se poupando: o anúncio foi feito pelo presidente do partido, senador Valdir Raupp (RO), e pelo futuro líder da bancada, Eunício Oliveira (CE).


Raupp negou dificuldades para o partido ou para o Senado durante a gestão de Renan Calheiros. “Essa candidatura vem sendo construída ao longo do tempo. A prerrogativa da candidatura cabe à bancada do PMDB e ela escolheu Renan”, disse. O parlamentar de Rondônia destacou que o colega de Alagoas foi aclamado na reunião interna da legenda, e, de acordo com os cálculos dos aliados, terá 19 dos 21 votos dos correligionários. As únicas dissidências devem ser de Pedro Simon (RS) e Jarbas Vasconcelos (PE).
Escolhido como líder da bancada, Eunício não demonstrou qualquer preocupação com a pressão externa contra a candidatura de Renan Calheiros. Na quinta-feira, manifestantes colocaram no gramado em frente do Congresso 81 vassouras formando a palavra SOS. Ainda corre na internet um abaixo-assinado contra a candidatura do peemedebista, que já conta com mais de 250 mil assinaturas. Informado do protesto, Eunício demonstrou pouco caso. “Ah, (a manifestação é) dos eleitores? Isso pode ter efeito externo, mas não aqui dentro”, desdenhou.

Renan costurou cuidadosamente os acordos para fazer a maioria no Senado e retomar o cargo do qual foi obrigado a renunciar em 2007. As primeiras articulações ocorreram dentro da própria bancada. No início da atual legislatura, em 2011, havia um grupo de peemedebistas que se posicionava contra a cúpula do partido. Renan foi realizando intervenções cirúrgicas. O primeiro gesto foi trabalhar para, com a destituição de Romero Jucá (RR) da liderança do governo no Congresso, apoiar a escolha de Eduardo Braga (AM) para a vaga. O grupo perdia uma das vozes mais articuladas. A operação prosseguiu e Renan indicou Vital do Rêgo (PB) para a Presidência da CPI do Cachoeira.

Outro dissidente, Roberto Requião (PR) foi premiado com a Presidência do Parlamento do Mercosul. A última operação para evitar surpresas internas surgiu da escolha de Eunício para a liderança do PMDB. Romero Jucá queria a vaga, mas Eunício mandou um recado claro: teria combinado com Renan em dezembro que sucederia o colega alagoano. Jucá teria tentado atravessar o acordo em janeiro, apresentando-se como alternativa para o cargo. Se Renan não interviesse, ele se lançaria como candidato avulso e atrairia os votos da oposição e de parte da bancada. Por fim, Eunício foi confirmado líder, na noite de anteontem, e Jucá teve que se contentar com a Segunda Vice-Presidência da Mesa.

LINHA DO TEMPO

Confira a trajetória política de Renan Calheiros

» Fim da década de 1970. Líder estudantil na adolescência, presidiu o diretório acadêmico da área de ciências humanas e sociais da Universidade Federal de Alagoas. Filiou-se ao MDB, de oposição ao regime militar.

» Em novembro de 1978, candidatou-se e foi eleito deputado estadual pelo MDB.

» Entre 1980 e 1981, após o fim do bipartidarismo, foi líder da bancada do PMDB na Assembleia do Estado de Alagoas. Chamava o então prefeito de Maceió, Fernando Collor de Melo, de “príncipe herdeiro da corrupção”.

» Em 1982, mudou-se para Brasília após ser eleito deputado federal e se formou em direito pela Universidade Federal de Alagoas.

» Em 1985, perdeu para Djalma Falcão a disputa interna para ser candidato à Prefeitura de Maceió. Virou presidente regional do partido, com o apoio do usineiro João Lyra.

» Reeleito em 1986 para deputado federal com a maior votação do estado.

» Em junho de 1988, tornou-se um dos fundadores do PSDB.

» Deixou o PSDB em 1989 para se filiar ao PRN e ser assessor pessoal da candidatura de Fernando Collor à Presidência da República.


» Em 1990, tornou-se líder do governo no Congresso. Perdeu para Geraldo Bulhões a disputa pelo governo de Alagoas. Acusou Bulhões, aliado de Collor, de fraude nas eleições estaduais de 1990. Paulo César Farias foi o tesoureiro de Bulhões. Abandonou o PRN, acusando Collor de traição.

» Em 1992, acusou PC Farias de montar um governo paralelo e ajudou no pedido de impeachment de Collor.


» Entre 1993 e 1994, tornou-se vice-presidente executivo da Petrobras Química SA (Petroquisa).

» Em outubro de 1994, elegeu-se senador, com 235.332 votos.

» Em abril de 1998, com o apoio do senador Jader Barbalho, tornou-se ministro da Justiça de Fernando Henrique Cardoso. Deixou o cargo em julho de 1999.

» Em 2002, com José Sarney, apoiou a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva.

» Em 2005, elegeu-se presidente do Senado.

» Em outubro de 2007, teve que renunciar ao cargo, após denúncias de que um lobista pagara contas pessoais. O capítulo final foi a apresentação de notas frias de vendas de cabeça de gado para justificar a renda. Fez o anúncio em rede nacional de tevê.

» Em 2010, reelegeu-se para mais oito anos no Senado.