O senador Renan Calheiros (PMDB-AL) deve ser eleito nesta sexta-feira presidente do Senado com cerca de 60 dos 81 votos possíveis da Casa. A provável vitória avassaladora, contudo, não dá a dimensão do que poderá ser a gestão do peemedebista. Denunciado pelo Ministério Público Federal no Supremo Tribunal Federal (STF) pela emissão de notas frias para justificar o pagamento de despesas pessoais, Renan deixou para confirmar a candidatura na véspera da eleição. E segue se poupando: o anúncio foi feito pelo presidente do partido, senador Valdir Raupp (RO), e pelo futuro líder da bancada, Eunício Oliveira (CE).
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Outro dissidente, Roberto Requião (PR) foi premiado com a Presidência do Parlamento do Mercosul. A última operação para evitar surpresas internas surgiu da escolha de Eunício para a liderança do PMDB. Romero Jucá queria a vaga, mas Eunício mandou um recado claro: teria combinado com Renan em dezembro que sucederia o colega alagoano. Jucá teria tentado atravessar o acordo em janeiro, apresentando-se como alternativa para o cargo. Se Renan não interviesse, ele se lançaria como candidato avulso e atrairia os votos da oposição e de parte da bancada. Por fim, Eunício foi confirmado líder, na noite de anteontem, e Jucá teve que se contentar com a Segunda Vice-Presidência da Mesa.
LINHA DO TEMPO
Confira a trajetória política de Renan Calheiros
» Fim da década de 1970. Líder estudantil na adolescência, presidiu o diretório acadêmico da área de ciências humanas e sociais da Universidade Federal de Alagoas. Filiou-se ao MDB, de oposição ao regime militar.
» Em novembro de 1978, candidatou-se e foi eleito deputado estadual pelo MDB.
» Entre 1980 e 1981, após o fim do bipartidarismo, foi líder da bancada do PMDB na Assembleia do Estado de Alagoas. Chamava o então prefeito de Maceió, Fernando Collor de Melo, de “príncipe herdeiro da corrupção”.
» Em 1982, mudou-se para Brasília após ser eleito deputado federal e se formou em direito pela Universidade Federal de Alagoas.
» Em 1985, perdeu para Djalma Falcão a disputa interna para ser candidato à Prefeitura de Maceió. Virou presidente regional do partido, com o apoio do usineiro João Lyra.
» Reeleito em 1986 para deputado federal com a maior votação do estado.
» Em junho de 1988, tornou-se um dos fundadores do PSDB.
» Deixou o PSDB em 1989 para se filiar ao PRN e ser assessor pessoal da candidatura de Fernando Collor à Presidência da República.
» Em 1990, tornou-se líder do governo no Congresso. Perdeu para Geraldo Bulhões a disputa pelo governo de Alagoas. Acusou Bulhões, aliado de Collor, de fraude nas eleições estaduais de 1990. Paulo César Farias foi o tesoureiro de Bulhões. Abandonou o PRN, acusando Collor de traição.
» Em 1992, acusou PC Farias de montar um governo paralelo e ajudou no pedido de impeachment de Collor.
» Entre 1993 e 1994, tornou-se vice-presidente executivo da Petrobras Química SA (Petroquisa).
» Em outubro de 1994, elegeu-se senador, com 235.332 votos.
» Em abril de 1998, com o apoio do senador Jader Barbalho, tornou-se ministro da Justiça de Fernando Henrique Cardoso. Deixou o cargo em julho de 1999.
» Em 2002, com José Sarney, apoiou a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva.
» Em 2005, elegeu-se presidente do Senado.
» Em outubro de 2007, teve que renunciar ao cargo, após denúncias de que um lobista pagara contas pessoais. O capítulo final foi a apresentação de notas frias de vendas de cabeça de gado para justificar a renda. Fez o anúncio em rede nacional de tevê.
» Em 2010, reelegeu-se para mais oito anos no Senado.