Nos discursos que antecedem a eleição para a escolha do novo presidente do Senado nesta sexta-feira, aliados do candidato Renan Calheiros (PMDB/AL) defenderam o critério da proporcionalidade, tradição da Casa, segundo a qual o partido com maior número de parlamentares indicam o nome de quem ocupará a cadeira de presidente. Enquanto isso, oposicionistas alegaram a necessidade de melhorar a imagem da Casa com uma opção nova, partindo em auxílio de Pedro Taques (PDT/MT), o candidato do bloco independente, que ontem conquistou o apoio do PSDB, PSB e PSOL.
Sérgio Souza, no entanto, não acredita que as denúncias diminuam a credibilidade do colega de partido, a quem chamou de "irmão". "Temos certeza de que vossa excelência (Renan) está capacitado para gerir e administrar esta Casa. Eu peço um voto de confiança um voto na competência desse nosso irmão, senador Renan Calheiros."
O líder do PSDB, Álvaro Dias (PR), reiterou a decisão de apoiar Taques. "Somos aqui todos transitórios, passageiros, substituíveis. Respeitada deve ser a instituição, acima dos interesses pessoais que podem ser legítimos. Não creio que alguém aqui entre nós deve estar feliz com o conceito que nós desfrutamos junto à sociedade brasileira." Dias leu uma lista de sugestões que, ontem, após firmar apoio, entregaram ao candidato socialista e destacou a confiança tucana no candidato do bloco dos independentes. "O PSDB confia plenamente na capacidade e sobretudo na postura ética do senador Pedro traques para verbalizar as nossas aspirações e as do povo brasileiro."
A líder do PSB, senadora Lídice da Mata (BA), reiterou a nota que o partido divulgou na última quarta-feira (30/01) em que critica o processo de votação na Casa. "Reconhecemos que o Senado tem uma prática de que o partido majoritário apresente a candidatura, mas acreditamos que a forma como esse partido conduziu a discussão fez um debate inexistente". Até a noite de ontem (31/01), havia rumores de que o bloco dos independentes abriria mão da candidatura do senador Pedro Taques (PDT/MT) para apoiar o socialista Antonio Carlos Valadares (SE). No entanto, o PSB, que já havia decidido não apoiar a candidatura do peemedebista Renan Calheiros (LA), resolveu pelo apoio a Taques.
Em crítica direta à gestão do atual presidente José Sarney (PMDB/AL), o pedetista Cristovam Buarque (DF) afirmou que é preciso reconhecer que a imagem da Casa, hoje, não está melhor que há dois anos. Para ele, isso se deve à prática de submissão ao Executivo, bem como a uma "sucessão de erros" com o Judiciário. "Aqui há um sentimento e uma necessidade de renovação. O nome para levar essa Casa para a renovação é o nome do Pedro Taques", defendeu o senado. "Primeiro por ser a novidade, com a juventude, com a visão olhando muito mais o futuro do que alguns vícios que vamos aqui adquirindo ao longo do tempo. Segundo a sua convicção de lutar de uma maneira radical pela ética em todos os lugares que ele passou."
Aliado de Renan Calheiros, o novato na Casa Vital do Rêgo (PMDB-PB) se opôs ao discurso de Cristovam e teceu uma série de elogios a Sarney. "Vossa excelência trouxe modernidade, transparência e acessibilidade", disse. Vital pediu que os senadores elejam Renan Calheiros para que se respeite o chamado princípio da proporcionalidade, segundo o qual a maior bancada, o PMDB (com 20 senadores), tem direito a indicar o novo presidente. "Queremos que esta Casa obedeça o princípio da proporcionalidade para que nenhum gesto contamine a eleição da Mesa", afirmou.
Em defesa da candidatura de Pedro Taques, Rodrigo Rollemberg (PSB-DF) afirmou que o Brasil quer mudanças de posturas e o Congresso tem "responsabilidades imensas de fortalecer a democracia". "O Senado precisa de um ambiente de tranquilidade para apreciar e aprovar a agenda de interesse do País." Num discurso lido, o também socialista João Capiberibe (AP) disse que "quer a mudança".
"Não é possível aceitar práticas não republicanas e jogo de cartas marcadas", afirmou. Para ele, o Senado está desmoralizado diante das duas outras instituições: "refém do Executivo e vendo o Judiciário consertando os nossos erros". "É hora de nos insubordinarmos", destacou o senador, que saiu em defesa da criação de uma frente suprapartidária dos senadores para "oxigenar" as práticas do Legislativo.