A eleição para presidente da Câmara dos Deputados será influenciada por duas paixões nacionais: a culinária e o futebol. Dois dos protagonistas na disputa para o cargo mais importante da Casa, ambos deputados eleitos por Minas Gerais, ganharam a simpatia dos colegas fora do Congresso Nacional por trabalharem como promotores do forno e da bola. Fábio Ramalho (PV), principal cabo eleitoral do líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), abre seu apartamento em Brasília pelo menos uma vez por semana, geralmente às quartas-feiras, para receber colegas de todos os partidos oferecendo leitão à pururuca, costela de porco, torresmo, cachaça, cerveja e uísque. Rival de Ramalho, Júlio Delgado (PSB), candidato a presidente da Casa, há 10 anos organiza, também semanalmente, uma partida de futebol entre os deputados. O resultado da comilança e das peladas, dentro do parlamento, será conhecido amanhã, dia da eleição.
Ramalho já chegou a reunir 120 parlamentares em seu apartamento. As visitas são de todos os partidos e estados. Deputado em segundo mandato nascido em Brasília, mas com vida política iniciada em Malacacheta, no Vale do Jequitinhonha, onde foi prefeito, Ramalho afirma já estar organizando o jantar de comemoração para o novo presidente. “Já participei de três disputas para presidentes da Câmara. Venci todas. Uma com Michel Temer (PMDB-SP), outra com Arlindo Chinaglia (PT-SP), e a terceira com Marco Maia (PT-RS). E posso garantir: vamos ganhar disparado”, afirma.
Temer, hoje vice-presidente da República, era um dos mais assíduos convidados de Ramalho. “Criei um círculo de amizades muito grande aqui”, diz o parlamentar. Outro grande amigo do deputado é Paulo Maluf (PP-SP), que usa apartamento funcional no mesmo andar em que está o de Ramalho. “Ele sempre vota comigo”, conta. Além de frequentar a casa de Ramalho, Maluf frequentemente ganha do deputado mineiro galinha e ovos caipiras, tudo enviado de Malacacheta, de onde parte também toda a comida oferecida nos jantares do parlamentar do PV.
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PMDB garante o comando do Senado e deve levar a Câmara, mas enfrenta disputas internas Retorno do Congresso ao plenário é aguardado com "bombas" Disputa pela Presidência da Câmara dos Deputados tem quatro candidatosDepois de ganhar no Senado, PMDB deve faturar também a Presidência da CâmaraCandidatos à presidência da Câmara tem até hoje para fazer registroPlanalto já calcula o preço a pagar ao fortalecido PMDBCRAQUE Um dos mais conhecidos participantes da pelada é o deputado federal pelo Rio de Janeiro Romário (PSB), ex-jogador de futebol, campeão mundial em 1994, nos Estados Unidos. Os jogos, no entanto, não são realizados apenas em Brasília. Os deputados realizam partidas em outros estados, com times locais, para ajudar vítimas da seca no Nordeste ou de enchentes no Norte, por exemplo. “Temos convites para jogar em Maceió, São Luís, Belém e Curitiba, sempre por alguma causa beneficente”, comenta Delgado. Assim como nos jantares de Ramalho, o futebol dos deputados reúne parlamentares de todas as legendas. “Fizemos uma partida no Rio Grande do Norte e o filho do Henrique Alves participou”, lembra o deputado mineiro.
Apesar de toda a civilidade na organização e participação dos deputados nos jantares de Ramalho e no futebol de Delgado, em época de eleição não há como aparecer uma ou outra farpa. Para o parlamentar do PSB, o cabo eleitoral de seu rival na disputa pela Presidência da Câmara não tem coragem de entrar em uma disputa como a sua para a Presidência da Casa. Ramalho, por sua vez, diz que poderia vencer qualquer disputa, mas que respeita o princípio da proporcionalidade que existe na Casa. O deputado se refere a um acordo entre os parlamentares no sentido de que os partidos com maior bancada fazem rodízio na ocupação do cargo mais importante da Casa. Além de Henrique Alves e Júlio Delgado, é candidata à Presidência da Câmara a deputada federal Rose de Freitas (PMDB-ES).
Caravana solidária
A pedido do ex-jogador de futebol Romário (PSB-RJ), que venceu a eleição para a Câmara dos Deputados em 2010, os parlamentares passaram a viajar pelos estados também para ajudar entidades de apoio a familiares e portadores da síndrome de Down. Romário tem uma filha portadora da doença. “Com o ex-jogador há sempre a certeza de que as arquibancadas estarão cheias”, afirma Júlio Delgado.