Jornal Estado de Minas

Ministério Público investiga contratações irregulares na Câmara de BH

Para cada servidor aprovado em concurso na Câmara de BH há quase dois que estão lá por indicação dos vereadores. Inquérito do MP apura supostas irregularidades em contratações

Alice Maciel
Na contramão de decisões judiciais que pregam a redução dos cargos sem concurso nos órgãos públicos, a Câmara Municipal de Belo Horizonte tem atualmente 673 servidores comissionados, quase o dobro dos efetivos, 340. E a diferença pode aumentar, pois há mais 96 cargos em comissão que podem ser preenchidos a qualquer momento por indicação política. O custo com os servidores de confiança pode chegar a R$ 2,3 milhões por mês. O número de terceirizados também chama a atenção, são 283.

O Legislativo da capital mineira está na mira do Ministério Público de Minas Gerais, que abriu um inquérito civil, ao qual o Estado de Minas teve acesso com exclusividade, para apurar supostas irregularidades relativas às contratações na Casa. Segundo o promotor de Justiça do Patrimônio Público, Eduardo Nepomuceno, o excesso de cargos comissionados fere os princípios da proporcionalidade. “A regra geral é contratar servidores por concurso”, ressaltou.

Só nos gabinetes, cada vereador conta com uma verba de R$ 42.661 para contratar até 15 funcionários. Os salários nos escritórios dos parlamentares variam de R$ 653,10 – referente ao cargo de auxiliar legislativo e assessor de relações comunitárias, assistente de comissões III e assistente de relações institucionais I – a R$ 9.625,34, que é o quanto recebe um assessor técnico.

Como se não bastasse o número elevado de cargos de confiança, um projeto da Mesa Diretora da Câmara aprovado no fim de 2011 criou mais 12 cargos sem concurso. Ao ano, o gasto com eles será de R$ 1.162.578,33. A lei foi sancionada pelo prefeito Marcio Lacerda (PSB) em janeiro do ano passado.

A assessoria de imprensa da Câmara argumentou que a Constituição Federal não estabelece proporção ou porcentagem entre efetivos e comissionados. “Nem existe uma lei municipal ou estadual prevendo a proporção que regulamenta essas nomeações”, informou. A justificativa do Legislativo para o alto número de cargos em comissão é que os 41 vereadores têm seu corpo de diretores e que os comissionados podem ser nomeados, conforme prevê a Constituição, para cargos de direção, chefia e assessoramento. Ainda de acordo com a assessoria, a Casa ainda não foi notificada a respeito da investigação do MP.

Não é de hoje que o número de comissionados predomina na Câmara Municipal de BH em relação ao de concursados. Uma ação civil pública foi aberta pelo Ministério Público em 2003 com o objetivo de declarar nulas as nomeações de assessores parlamentares. Portanto, ela foi extinta sem julgamento. Na época, o promotor responsável desistiu da ação a partir de um acordo feito com os vereadores. “Reabri a investigação porque a situação continua a mesma da época”, comentou Nepomuceno, que já ouviu vários servidores da Câmara.

DECISÃO No fim de 2011, o Supremo Tribunal Federal (STF) entendeu que a Câmara de Blumenau, em Santa Catarina, não poderia ter mais funcionários em comissão, de livre nomeação, do que servidores concursados. A sentença criou jurisprudência para ações que exijam a demissão do excesso de comissionados nas câmaras. O tolerável, segundo a interpretação da sentença do Supremo, seria uma quantidade igual de servidores comissionados e efetivos – o que não ocorre no Legislativo da capital mineira.

Enquanto isso...

… Projeto exige seleção


Começou a tramitar na Câmara Municipal de BH na semana passada projeto de lei de autoria do vereador Adriano Ventura (PT) que autoriza a Prefeitura de Belo Horizonte a criar o programa BH transparência pública e cargos públicos de recrutamento amplo. O objetivo, conforme o texto, é dar transparência para as nomeações dos cargos comissionados na administração pública das organizações direta e indireta da PBH. A proposta é criar critérios para as nomeações, como a instalação de comissão técnica junto ao gabinete do prefeito para apreciar os aspectos técnicos e éticos dos profissionais, avaliar currículos e entrevistar os candidatos. Além disso, eles teriam de fazer prova de conhecimento técnico e específico para a área e passar por dinâmica de grupo e teste psicológico.