Parlamentar mais antigo da Câmara e favorito para presidir a Casa, o deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) enfrenta, nas eleições desta segunda-feira, sequelas do racha na escolha do líder de seu próprio partido. Aliados de Eduardo Cunha (RJ), que saiu vitorioso, e do derrotado Sandro Mabel (GO) admitiam nesse domingo, nos bastidores, que a disputa interna poderia ter como efeito colateral o desembarque da candidatura de Alves, em protesto pela condução do processo pelo governo.
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Depois de ganhar no Senado, PMDB deve faturar também a Presidência da CâmaraEleição na Câmara dos Deputados hoje tem indefinição apenas para dois cargosDisputa pela Presidência da Câmara dos Deputados tem quatro candidatosHenrique Alves tenta conter desafetos para alinhar Câmara dos Deputados ao PlanaltoCandidato à presidente da Câmara, Júlio Delgado é denunciado por crime eleitoralHenrique Alves fala em "honradez e lealdade" ao pedir votos para presidir a CâmaraA disputa pela liderança do PMDB chegou ao segundo turno e Cunha foi eleito com 46 votos, contra 32 do adversário, apesar da resistência velada do Planalto. Aliados de Mabel ameaçaram questionar na Justiça a posse de dois suplentes - Marcelo Guimarães Filho (BA) e Leonardo Quintanilha (TO) -, que assumiram para votar em Cunha, sem formalização em plenário. Em reação, o grupo ligado ao novo líder avisou que poderia votar hoje em Rose de Freitas (PMDB-ES) ou Júlio Delgado (PSB-MG), que tentam desidratar o favoritismo do candidato do governo.
O vice-presidente Michel Temer (PMDB-SP) interveio para evitar a crise, pedindo a Mabel que desistisse da manobra na Justiça. Após o racha, Alves tentou minimizar o impacto na eleição e assegurou que a bancada vai ao plenário unida. Cunha enfrenta resistências no Planalto. A presidente o vê com desconfiança, sobretudo após apadrinhados dele em Furnas terem sido suspeitos de irregularidades. Com a eleição, recupera prestígio e poder de barganha para negociar cargos na Esplanada. Nesse domingo, Cunha deu o tom do que será sua gestão: pediu mais cargos para o PMDB.
No Rio, o parlamentar enfrentou três inquéritos no Tribunal de Contas do Estado, sobre supostas fraudes quando presidiu a Companhia de Habitação do Estado, entre 1999 e 2000. O caso foi arquivado. O deputado é alvo de inquérito no Supremo Tribunal Federal que investiga suposto tráfico de influência em favor de um ex-diretor da Refinaria de Manguinhos. Ele nega qualquer ação ilegal.
Investigado
Mabel expressou a divisão interna. “Quando você é intitulado candidato de governo, fica um pouco mais difícil, tendo uma bancada que tem uma porção de coisas que não são assentidas. O discurso dele, mais forte, se posicionando contra o governo, o ajudou.”
Os dois adversários de Alves passaram o dia em conversas com representantes do partido e das demais legendas. Para Rose, a candidatura do colega de partido é de inteira submissão ao Planalto. “Somos base, mas uma coisa é ser base e outra é você se submeter a qualquer pauta, a qualquer política do Executivo”, criticou. “Ele foi líder por sete anos e nunca dividiu a relatoria de uma medida provisória. E está sendo investigado.”
Caso eleito, Alves assumirá sob questionamentos. Na Câmara desde 1971, ele tenta se livrar de ação de enriquecimento ilícito, supostamente por manter dinheiro no exterior. A ação corre em sigilo na Justiça Federal em Brasília. A denúncia partiu da ex-mulher do deputado Mônica Infante de Azambuja, que, ao pleitear pensão alimentícia maior, disse em 2002 que Alves mantinha US$ 15 milhões não declarados em paraísos fiscais.