Jornal Estado de Minas

Depois de provocar tensão entre tucanos, Lacerda ensaia paz com o PSDB

Quando a folia passar, o prefeito de BH deve voltar a conversar com caciques do PSDB para tentar pôr fim aos ressentimentos que foram criados com a escolha do secretariado

Leonardo Augusto

Depois de se negar a atender pelo menos dois pedidos por cargos no governo municipal feitos diretamente pelo senador Aécio Neves (PSDB), o prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda (PSB), resolveu hastear a bandeira branca na relação com o cacique. Quer, depois do carnaval, voltar a conversar com os tucanos da “estaca zero, relevando erros”. Ressentidos, Aécio e seus correligionários afirmam já ter feito tudo o que podiam para permanecer ao lado do prefeito e que o sucesso de uma retomada das negociações depende exclusivamente de Lacerda.
Porém, ao menos por enquanto, nada de contato com as principais lideranças tucanas em Minas, como o governador Antonio Augusto Anastasia e Aécio. O primeiro encontro para discutir a participação dos tucanos na prefeitura será com o presidente estadual da legenda, deputado federal Marcus Pestana. No primeiro mandato de Lacerda (2009/2012) os principais cargos do PSDB na prefeitura eram a Presidência da BHTrans e o comando da Secretaria de Saúde. Como um primeiro gesto de “boa vontade”, o prefeito, que tratava pessoalmente das indicações, pediu a participação do secretário de Estado de Governo, Danilo de Castro, um dos principais articuladores de Aécio, nas conversas.

Um dos pedidos do senador negados por Lacerda foi a entrega da Secretaria de Obras e Infraestrutura para o deputado estadual João Leite (PSDB). O prefeito disse que estava satisfeito com a atuação de José Lauro Nogueira Terror – ex-funcionário de empresas no setor de telefonia que o prefeito tinha antes de entrar para a vida pública – à frente da pasta e que não faria mudanças.

O outro foi a ida de Paulo Bregunci, pai do secretário-geral-adjunto da Governadoria do Governo de Minas, Thiago Bregunci, para a Companhia Urbanizadora e de Habitação de Belo Horizonte (Urbel). Ao receber Breguci para uma conversa, no entanto, o prefeito disse que as atribuições da Urbel seriam transferidas para a Secretaria de Obras. Afirmou ainda ser exigente, que cobrava muito e tem por hábito mandar embora quem não corresponde às suas expectativas.

Aécio pediu mais um cargo, o comando da Sudecap, que seria entregue ao diretor de irrigação da Copasa, Reinaldo Alves Costa. Ao receber a solicitação, o prefeito passou a reclamar da indicação a interlocutores e, novamente, não atendeu ao pedido do senador.

Retirada

Os tucanos afirmam que Lacerda foi ingrato ao se negar a entregar os cargos pedidos pelo senador. “Aécio foi o principal responsável pela vitória de Lacerda no segundo turno. Foi o parlamentar quem negociou a retirada da disputa de Eros Biondini (PTB) e Délio Malheiros (PV)”, afirmam. Os dois eram pré-candidatos à prefeitura e, se continuassem no páreo, poderiam levar a eleição para o segundo turno. Por sua vez, aliados de Lacerda dizem que foi o próprio Aécio quem articulou as candidaturas de Biondini e Malheiros, quando ainda não tinha certeza de que Lacerda ficaria ao seu lado contra seu principal rival nas eleições, o ex-ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Patrus Ananias. No acordo, Malheiros virou vice de Lacerda e Biondini assumiu a Secretaria de Estado de Esportes e Juventude.