Brasília – Presidentes e ex-presidentes são unânimes em afirmar que o exercício do poder é solitário. Isolados no gabinete presidencial, os donos da cadeira são obrigados a tomar decisões que afetam a vida de milhares de brasileiros. Mas até que chegue esse momento, ocorrem muitas reuniões, consultas e conversas, além da contribuição da própria bagagem intelectual, acumulada ao longo dos anos anteriores a posse. Embora a decisão final seja sempre pessoal, tanto a atual presidente, Dilma Rousseff, quanto os seus possíveis concorrentes no ano que vem — Aécio Neves (PSDB-MG) e Eduardo Campos (PSB-PE) — têm seus formadores de opinião e colegas preferenciais para a troca de ideias.
Formada em economia, Dilma tem controle maior sobre o assunto. Palpita e conduz os debates com mais propriedade que Lula, o que torna, sem dúvida, a vida do principal interlocutor, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, bem mais difícil. Dilma exige explicações diárias e, até hoje, não engoliu o péssimo resultado do Produto Interno Bruto (PIB) de 2012, que depois das promessas de 4%, mal deve chegar a 1%. O economista Delfim Netto, por outro lado, tão influente na gestão Lula, perdeu prestígio. Continua sendo consultado, mas deixou de ser decisivo.
No governo, dois ministros ganharam status de consultores múltiplos da presidente: o titular do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), Fernando Pimentel, e o ministro da Educação, Aloizio Mercadante. No campo internacional, a crise deflagrada a partir da saída do Paraguai do Mercosul foi fundamental para resgatar o assessor especial para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia.
Oposição O senador Aécio Neves, de olho na elaboração de uma proposta econômica alternativa ao modelo adotado pelo PT nos últimos 10 anos, intensificou, em 2012, as reuniões com os formuladores do Plano Real, responsáveis pelo controle da inflação e pelo êxito do PSDB nas eleições presidenciais de 1994 e 1998. Desse grupo, fazem parte os economistas Pérsio Arida, André Lara Rezende e Edmar Bacha. Foram agregados ainda o ex-ministro da Fazenda Pedro Malan e o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga.
Neto de Tancredo Neves, Aécio tem a política no sangue e no DNA. Por isso mesmo, não abdica de conversas ao pé do ouvido com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que o estimulou a retomar o contato com os economistas tucanos. No plano internacional, os preferidos de Aécio são os ministros das Relações Exteriores de FHC Celso Lafer e Sérgio Amaral, e o embaixador Rubens Barbosa.
Outro que bebe da fonte familiar é o governador de Pernambuco, Eduardo Campos. Neto de Miguel Arraes, um dos ícones do combate ao regime militar, adotou o pensamento do avô como algo estrutural em sua formação. Mas o próprio Arraes, que escolheu o neto para integrar o seu governo em 1994, pontuava as diferenças entre ambos. “Eu nasci em 1916, no sertão do Ceará. Ele nasceu em 1965, no Recife. É claro que somos diferentes”, resumia ele. Eduardo resgatou práticas que, na época das gestões do avô, eram consideradas limitadas e tacanhas, como o microcrédito e as bolsas assistenciais para ajudar no combate à pobreza. Adotou, entretanto, um discurso de gestão voltado ao empresariado, inimaginável na cartilha política de Miguel Arraes. No campo econômico, Campos gaba-se de consultar um amplo espectro de economistas, que inclui o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, o ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) Carlos Lessa e o atual, Luciano Coutinho, além da ex-economista da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) Tânia Bacelar.