Jornal Estado de Minas

CPI ouvirá acusados de tráfico de pessoas na região da usina de Belo Monte

Funcionários de boate foram presos sob acusação de integrar um esquema de prostituição para atender o canteiro de obras da hidrelétrica. Deputado afirma que há outros casos ainda não descobertos pela polícia

Agência Câmara
Altamira, no Pará, recebeu um fluxo de 50 mil pessoas em poucos meses - Foto: Reuters/Handout
A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Tráfico de Pessoas deverá aprovar, na próxima terça-feira (19), a convocação de um garçom e do gerente da boate Xingu, de Altamira (PA), presos pela polícia local sob acusação de integrar um esquema de prostituição ilegal para atender principalmente trabalhadores do canteiro de obras da usina hidrelétrica de Belo Monte.
Durante a operação, segundo a polícia, foram libertadas seis mulheres que estariam sendo mantidas em cárcere privado. Outras dez mulheres disseram que estavam lá por vontade própria. A operação policial ocorreu em razão de denúncia de uma adolescente de 16 anos ao Conselho Tutelar. Ela disse que estava presa no local e que havia conseguido fugir.

A data dos depoimentos ainda será marcada. O presidente da CPI, deputado Arnaldo Jordy (PPS-PA), disse que duas das vítimas também deverão ser ouvidas no mesmo dia. Ele considera que o envolvimento da CPI nas investigações se justifica pelo fato de haver indícios de uma rede de tráfico de pessoas, que seriam mantidas em cárcere privado e obrigadas a se prostituir para pagar supostas despesas.

Rede criminosa
“Essas moças são do Rio Grande do Sul, do Paraná e de Santa Catarina. Foram de van para Altamira. Ficaram seis dias na estrada para chegar até Altamira. Portanto, há todos os indícios de que há uma rede criminosa extremamente organizada operando esse tipo de aliciamento, esse tipo de crime”, disse Jordy.

O deputado afirma também que há outros casos ainda não descobertos pela polícia. “Nós temos notícias de que não é um caso isolado. Depois da implantação do projeto de Belo Monte em Altamira, na região do Xingu, o número de boates dessa natureza, boate/prostíbulo, quase que quintuplicou. Nós tínhamos – segundo os movimentos sociais de lá, que nos informaram ontem à noite – umas duas, três, talvez quatro boates dessa natureza, e hoje há mais de 20”, afirmou.

Para Arnaldo Jordy, está ocorrendo em Altamira uma “tragédia anunciada”. Segundo ele, o governo federal havia sido alertado de que ocorreriam problemas desse tipo, mas não tomou providências.

Grande fluxo migratório
“Uma cidade de 82 mil habitantes no entorno de Altamira, que é um município-polo, de repente recebe, em seis meses, 50 mil pessoas no fluxo migratório, o que duraria historicamente de 10 a 15 anos para acontecer, sendo a grande maioria – 80% – de homens. No estado, o número de policiais, de assistentes sociais, de médicos, de colégios é o mesmo, enfim, a estrutura logística do estado é a mesma, e a cidade recebe 50 mil pessoas de uma hora para a outra. Evidente que o caos vai ser instalado”, observou.

Depois de ouvir os depoimentos, em Brasília, integrantes da CPI pretendem ir a Altamira para prosseguir as investigações. O objetivo da comissão, segundo o deputado Jordy, é auxiliar a investigação policial e alertar o governo sobre os efeitos colaterais negativos das grandes obras, para evitar que se repitam no futuro.

“Armação”
O empresário Adão Rodrigues, dono da boate denunciada, afirmou, em entrevista à imprensa local, que a operação foi "armação" por não ter permitido que a adolescente autora da denúncia trabalhasse no estabelecimento, ao descobrir que ela era menor de 18 anos. Considerado foragido pela polícia, ele disse que vai se apresentar quando seu advogado chegar à cidade.