Jornal Estado de Minas

Repercussão

Em nota, Renan comenta manifestos na internet

No texto, ele diz que o movimento é "lícito e saudável". Sobrinha de Joaquim Barbosa foi demitida após publicar comentário referente ao presidente do Senado

- Foto: Wilson Dias/ABR O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), comentou, em nota oficial, o manifesto na internet que pede a sua saída do cargo. No texto, ele diz que o movimento é "lícito e saudável" e "indica que a sociedade quer um Congresso mais ágil e preocupado com os problemas dos cidadãos".
A nota quebra o silêncio do Senado sobre diversas manifestações contra o presidente. Além de petições que circulam em redes sociais, ganhou repercussão uma publicação considerada ofensiva que levou, na última semana, à demissão de duas estagiárias da Casa.

As estudantes, uma delas sobrinha do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, receberam a punição depois de publicarem no Facebook que Renan Calheiros seria um "problema" para o Senado. A demissão das estagiárias repercutiu entre funcionários da Casa: servidores que haviam compartilhado críticas, abaixo-assinados ou qualquer outro comentário sobre a eleição do presidente do Senado se apressaram em apagar qualquer vestígio das publicações.

Veja a íntegra da nota:

"A mobilização na Internet é lícita e saudável, principalmente, entre os jovens. Fui líder estudantil, todos sabem, e também usei as ferramentas da época para pressionar. O número de assinaturas não é tão importante quanto a mensagem, o que importa é saber que a sociedade quer um Congresso mais ágil e preocupado com os problemas dos cidadãos. E assim o será.

O Congresso Nacional vai trabalhar para garantir o maior desenvolvimento do Brasil. Vou conversar na segunda-feira com o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, para que possamos colocar em votação as matérias necessárias ao crescimento do país, de forma sustentável e duradoura.

Temos que tornar o Brasil mais fácil, fazer a reforma tributária, política, propor medidas de combate à criminalidade, enfrentar a questão dos vetos.

Do ponto de vista administrativo, teremos no Senado uma gestão austera, com corte de gastos, transparência e o fim da redundância de estruturas.

Vamos convidar o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, para avaliar como, juntos, poderemos ajudar a economia do país, ajudar na geração de empregos e renda e afastar o fantasma da inflação.

Nas últimas décadas, o Brasil avançou bastante nos conceitos modernos, ganhamos prestígio internacional. E o Congresso Nacional teve papel decisivo nesse processo. Não podemos recuar no tempo e abrir mão dos avanços conquistados.

Renan Calheiros
Presidente do Senado Federal"

Estagiárias demitidas
Renan Calheiros assumiu o cargo há duas semanas e, desde então, é um dos alvos preferidos dos internautas brasileiros. Nas redes sociais, os insatisfeitos com a eleição do cacique do PMDB divulgam uma petição contra o senador, que, na manhã de ontem, já somava 1,5 milhão de assinaturas.

Já o episódio que levou à demissão das duas jovens aconteceu no dia 6. As estudantes estagiavam no Serviço de Administração da Secretaria de Recursos Humanos do Senado. Na manhã daquela quarta-feira pré-carnaval, as estagiárias e os colegas foram surpreendidos com a presença de um rato no meio do setor, que fica no prédio da Gráfica do Senado.

Repercussão da publicação de estagiárias levou funcionários a apagar registros em redes sociais - Foto: Reprodução de Internet / Correio Braziliense

Uma copeira matou o roedor com a ajuda de um calendário de papelão. O cadáver do bicho ficou por alguns minutos no chão e as duas jovens decidiram fotografá-lo. Uma delas postou a imagem no Facebook com uma legenda que dizia: "E a gente que achou que o único problema aqui fosse o Renan Calheiros". A colega, que é filha da irmã de Joaquim Barbosa, publicou a foto com comentário semelhante.

As duas estudantes demitidas estão assustadas com a polêmica e com receio de aparecer. A sobrinha de Barbosa, que estuda direito e era estagiária do Senado havia quase dois anos, não quis comentar a decisão. Ela cancelou sua conta no Facebook logo depois de ser demitida. Mas a colega contou ao Estado de Minas os detalhes do episódio, com a condição de ficar no anonimato. Depois de deixar o Senado naquela manhã, Karen (nome fictício) recebeu um telefonema do chefe, que pedia explicações sobre a foto publicada na rede social. O responsável pelo serviço de administração de RH marcou uma reunião com as duas estagiárias para a manhã seguinte. "Quando a gente chegou, o chefe colocou a foto que havíamos postado na internet sobre a mesa e, em cima, pôs a carta de demissão para assinarmos. Levei um susto, não imaginei que fossem tomar uma medida tão radical. Não fizemos nenhuma associação do senador Renan Calheiros ao rato. Acho que foi um mal-entendido", comenta Karen. "Vários servidores do Senado compartilharam o abaixo-assinado contra Renan nas redes sociais, eu mesma havia feito isso semanas antes", acrescenta a estudante de administração.

Segundo Karen, ela também teve reuniões na Diretoria de Recursos Humanos. "Eles explicaram que a nossa demissão era uma determinação da Diretoria Geral. Alguém imprimiu a foto que postamos na internet e saiu mandando para a chefia. Disseram que o Renan era quem pagava nosso salário e que a gente não podia falar mal dele. Mas eu respondi que quem pagava nosso salário era o povo, e não o senador", lembra a estagiária demitida. Elas recebiam R$ 820 mensais, além de R$ 130 de ajuda para transporte. Cerca de 2 mil estudantes fazem estágio no Senado. As duas jovens faziam despachos de pedidos de aposentadoria e de solicitações de adicionais de especialização. Karen entrou no Senado em setembro. Já a estudante de direito foi contratada em maio de 2011. Antes de chegar ao setor de Recursos Humanos, ela havia realizado estágio no Arquivo do Senado.

“Indisciplina”
A Secretaria de Comunicação Social do Senado divulgou nota em que classificou a atitude das estagiárias demitidas como um "ato de indisciplina". "Nesse contexto, a administração tem o dever de agir de acordo com o termo de compromisso assinado pelas estagiárias. Nos termos da lei, o estágio não cria vínculo empregatício e o desligamento não se condiciona à abertura de processo disciplinar", explicou o Senado. "Além do conteúdo ofensivo da matéria, vale registrar que as estudantes postaram-na durante o horário de expediente, utilizando ferramentas de trabalho", diz outro trecho da nota oficial.

A assessoria de imprensa do presidente do Senado, Renan Calheiros, informou que ele não tinha conhecimento das demissões e que o caso só poderia ser tratado na Diretoria Geral. A assessoria do presidente do Supremo, Joaquim Barbosa, informou que ele não comentaria o episódio, mas confirmou o parentesco com a estagiária demitida. Nos próximos meses, o Supremo deve analisar a denúncia apresentada pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel, contra Renan. O senador é acusado dos crimes de peculato, falsidade ideológica e uso de documentos falsos. Segundo o MPF, Renan apresentou ao Senado notas frias para explicar a origem de recursos usados para custear despesas pessoais.

Com Agência Senado