Uma das consequências diretas da lentidão na remessa dos documentos foi a paralisação de inquérito policial instaurado pela Superintendência da Polícia Federal no Rio de Janeiro para investigar transações comerciais suspeitas da Delta Construções S.A, com sede naquela capital. De acordo com o relatório de Cunha, Cachoeira seria sócio oculto da empreiteira, com 45% de participação nos lucros dos contratos firmados pela regional Centro-Oeste da empresa. O trabalho de investigação dos policiais federais foi interrompido com a instalação da CPI e seria retomado a partir da remessa à PF de documentos fiscais e bancários que foram requeridos pela comissão. A superintendência do Rio não respondeu ao pedido de informação sobre a situação do inquérito. Por sua vez, o Departamento de Polícia Federal em Brasília disse, por meio de sua assessoria de comunicação, que a corporação ainda não recebeu qualquer documento.
Relator sugere aprofundamento
Em seu texto final sobre a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Cachoeira, o relator Odair Cunha ressalta a suspeita levantada durante os trabalhos de apuração de que a Delta Construções tenha ajudado a alimentar o esquema criminoso do contraventor Carlos Augusto de Almeida Ramos. A empresa teria financiado o pagamento de propinas e outras manobras.
Em um dos trechos das quase 5 mil folhas do relatório, Cunha afirma: “Fora do fato determinado que direcionou nosso trabalho, mas em sintonia de conexão com o objeto da investigação que fazíamos, identificamos outras supostas irregularidades também alimentadas financeiramente a partir da empresa Delta e diversas outras fora da Região Centro-Oeste. Não nos omitimos diante dessa realidade. Dentro das limitações constitucionais do nosso trabalho, identificamos todas essas empresas, os valores movimentados e as irregularidades que as caracterizam, de modo que também encaminharemos à Polícia Federal e ao Ministério Público Federal um trabalho bastante avançado, com um acervo investigativo que permitirá a continuidade e o aprofundamento das investigações.”
No entendimento do relator, o trabalho da CPI avançou na apuração e teria conseguido deixar claro os responsáveis, os beneficiários e o caminho do dinheiro da organização criminosa de Carlinhos Cachoeira. “Seguimos e identificamos todos os beneficiários (pessoas físicas e jurídicas) dos recursos oriundos dessas empresas de fachada, de modo que o caminho do dinheiro está apontado e deverá ser percorrido, como dito, pelos órgãos de investigação permanente do Estado. Localizamos diversos bens móveis e imóveis adquiridos com recursos da organização criminosa. E em parceria com o Ministério Público Federal conseguimos o sequestro e a indisponibilidade de um grande acervo patrimonial da quadrilha”, afirma.
Além da documentação produzida pela própria comissão, fazem parte do acervo milhares de documentos produzidos nas operações Monte Carlo e Saint-Michel e cópias de processo em andamento no Supremo Tribunal Federal. Desde que foi desencadeada a Operação Monte Carlo, que terminou por provocar a criação da CPI, a única punição efetiva relacionada ao caso Carlinhos Cachoeira foi sofrida pela senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO), cassado devido à sua estreita ligação com o contraventor. Integrante do Ministério Público de Goiás, ele foi ainda afastado de suas funções até a conclusão de sindicância.