Os municípios mineiros tiveram em 2011, quando foi apurado o último balanço da Secretaria do Tesouro Nacional usado no estudo, uma receita de R$ 36,056 bilhões, o que corresponde a 9,76% dos orçamentos somados de todos os municípios brasileiros. Enquanto isso, a despesa com serviços de responsabilidade das esferas estadual e federal, de R$ 2,090 bilhões, corresponde a 10,77% do que gastou a soma das prefeituras do país. Em relação à receita orçamentária das cidades mineiras, o valor gasto com funções alheias representa em média 5,8% do total, mas nos municípios menores esse percentual pode chegar a mais de 10%.
Ainda de acordo com o estudo, 79,13% dos municípios mineiros – que são aqueles com até 20 mil habitantes – gastam mais com rubricas que seriam da União ou do estado do que a própria arrecadação tributária. Essa é a realidade de 675 cidades, que tiveram receita própria em média de R$ 2,234 milhões e somaram gastos médios de R$ 4,628 milhões com serviços que não eram de sua competência. Segundo o responsável pelo estudo, François Bremaeker, os dados de 2112 só estarão disponíveis no segundo semestre, mas foi observada uma tendência de crescimento das despesas em comparação com o ano anterior. “O que mais tem aumentado de gastos ultimamente é a guarda municipal, que acaba fazendo o serviço de segurança das ruas, que seria dos policiais militares (do estado)”, afirmou.
De acordo com Bremaeker, a Lei de Responsabilidade Fiscal permite que os municípios façam esses gastos complementares, desde que eles estejam previstos na Lei de Diretrizes Orçamentárias, mas isso acaba ocorrendo mesmo sem essa previsão. O levantamento, segundo o pesquisador, foi feito com base nos gastos por área declarados. De acordo com Bremaeker, o maior peso é com serviços que seriam da esfera estadual.
Convênios O presidente da Associação Mineira de Municípios (AMM), Ângelo Roncalli, confirma que essa é uma dificuldade nas finanças municipais e lembra que orientou os novos prefeitos a não assumirem convênios sem que a União ou o estado repassem os recursos para custear as ações. “É uma realidade perversa que os municípios têm enfrentado nos últimos anos. Essa observação de que a maioria gasta mais com obrigações que não são dela do que arrecadam em receitas tributárias é um dado chocante”, afirmou. O dirigente conta que a situação já foi encaminhada ao governo do estado e à União em 2011, mas até agora poucas medidas foram tomadas
Segundo o presidente da AMM, enquanto os encargos aumentam para os prefeitos, o repasse do Fundo de Participação de Municípios (FPM) vem caindo. Em 2011, quando eram previstos R$ 7,419 bilhões no ano para Minas Gerais, foram realizados somente R$ 6,597 bilhões, uma diferença de R$ 822 milhões ou 11% do que foi colocado inicialmente na lei orçamentária.
Em nota, o governo de Minas Gerais disse que o Brasil vive uma situação delicada em função da concentração de tributos nas mãos da União, o que tem prejudicado estados e municípios, obrigando-os a se ajudar mutuamente. A assessoria informou que o governo mineiro doou 10 mil unidades de materiais como pontes, bueiros e mata-burros a 403 municípios e celebrou 2.117 convênios com prefeituras em 2011 e 2012. Na área da segurança, o estado informa que tem investido 13% de sua receita e alega que não tem havido contribuição da União, que tem contingenciado as verbas para o setor.