O advogado Paulo Fernando Melo da Costa, especialista em direito eleitoral, atuou diretamente na criação do Partido Ecológico Nacional (PEN), que saiu do papel em junho do ano passado. Com base na experiência adquirida na empreitada, ele acredita que os "sonháticos" não vão conseguir registrar o novo partido em menos de oito meses. "São muitas exigências. E não basta coletar 495 mil assinaturas, já que elas não podem ser recolhidas aleatoriamente, mas por zona eleitoral. Essas assinaturas são conferidas uma a uma com base nos registros do eleitor e comparadas com as assinaturas deixadas nas eleições anteriores. Ou seja, quem assinar precisa ter votado na última eleição", diz o advogado.
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Legenda já convoca Marina Silva para a disputa presidencial no ano que vemDeputados do PT e do PDT participam do lançamento de partido de Marina SilvaPaulo Fernando explica que é preciso aprovar o pedido de criação do partido no Tribunal Regional Eleitoral (TRE) de cada um dos nove estados onde os políticos precisam coletar assinaturas. "O TRE tem que julgar os processos, qualquer desembargador pode pedir vista. E obviamente há influências políticas. Em alguns estados, tivemos que esperar quase um ano para que o TRE aprovasse o pedido", acrescenta o advogado. "No caso do PEN, esperamos quase três anos até cumprir todas as exigências legais", relembra. Ele estima em cerca de R$ 2 milhões o custo para tirar uma legenda do papel. Esse valor inclui a contratação de advogados nos estados, o aluguel de estruturas e comitês para coleta de assinaturas e o transporte de lideranças e assessores jurídicos para Brasília, onde é concluído o processo de registro. "Para fazer isso com tanta rapidez, o custo pode chegar a cerca de R$ 5 milhões. Só mesmo com muita mobilização para criar esse partido até outubro", avalia Paulo Fernando.
O especialista em direito eleitoral Alberto Rollo, que atuou na fundação do PSD em 2011, lembra que os parlamentares que migrarem para o novo partido de Marina terão que fazer a mudança em um prazo de até 30 dias, para que não sofram processo por infidelidade partidária. Para o advogado, Marina Silva deve ter mais facilidade para cooptar políticos do que o ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab, que tirou o PSD do papel. "O PSD já nasceu grande porque o Kassab tinha contato com lideranças políticas de vários estados. Mas a Marina Silva vai conseguir atrair muita gente porque é uma figura que tem a simpatia da população e conseguiu 20 milhões de votos nas eleições presidenciais. Isso é muito significativo", comenta o especialista. "As pessoas vão procurar o partido dela em busca de espaço. A Marina tem muito apelo, um poder de persuasão grande", enfatiza.
Mudanças podem agravar o quadro
Um dos principais empecilhos aos planos da ex-senadora e ex-ministra Marina Silva é o receio de alguns parlamentares em migrar para a nova legenda. Existem projetos que tramitam na Câmara dos Deputados para propor que novos partidos só tenham acesso ao Fundo Partidário e a tempo de TV depois das primeiras eleições nacionais. No caso do PSD, o TSE decidiu que a sigla teria direito aos recursos e a tempo de propaganda proporcionalmente ao número de deputados que migraram de outras legendas para o partido do ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab. Se não houver mudanças na legislação, o entendimento beneficiará novas agremiações partidárias, como a de Marina. Mas existe uma mobilização entre líderes partidários para que o Fundo e o tempo de televisão não sejam divididos logo após o lançamento das novas legendas. O tema deve ser debatido no Congresso nas próximas semanas.
O ex-ministro do TSE Arnaldo Versiani, que deixou a Corte eleitoral em novembro do ano passado, acredita que as dificuldades para tirar o novo partido serão "imensas". Ele lembra que na maioria dos casos o processo demora pelo menos dois anos. "No caso do PSD, havia muitos caciques, senadores, deputados e governadores que apoiavam a criação. A Marina terá que recolher quase meio milhão de assinaturas e depois isso é verificado na zona eleitoral em que o eleitor é cadastrado. É um processo bastante demorado" explica. Na votação que concedeu tempo de televisão e recursos do Fundo Partidário ao PSD antes mesmo que a legenda enfrentasse sua primeira eleição, Versiani foi contra. "Integrei a minoria que entendia que o partido teria que participar primeiro das eleições de 2012. Fui voto vencido, mas acredito que, como a decisão foi por ampla maioria e teve respaldo do Supremo, ela vai valer para outros partidos novos", explicou. (HM)