O senador Aécio Neves (PSDB-MG) criticou nessa quarta-feira o que ele tachou de “fracassos das gestões petistas” e disse que falta ao partido da presidente Dilma Rousseff “autocrítica” e “humildade”. “Essas são algumas das matéria-primas fundamentais do fazer diário da política e que, infelizmente, parecem estar sempre em falta na prática dos nossos adversários”, disse o tucano em discurso de 23 minutos ontem da tribuna do Senado. Nele, o pré-candidato do PSDB à sucessão de Dilma aponta 13 insucessos do PT, numa referência ao número da legenda nas urnas, em seus 10 anos de poder e 33 de existência. A fala de Aécio, alardeada desde a semana passada, foi uma resposta à cartilha elaborada pelos petistas comparando números da gestão petista com os oito anos do governo Fernando Henrique Cardoso (1995–2002) e que foi distribuída ontem durante a festa de comemoração do aniversário do PT, com a presença da presidente e do antecessor dela, Luiz Inácio Lula da Silva.
Irônico, o senador disse que se sentia extremamente à vontade para falar do PT na sua festa de aniversário por causa da decisão da legenda de transformar o PSDB em “convidado de honra” das comemorações. “Aceito o convite, até porque temos muito o que dizer aos nossos anfitriões”, cutucou o Aécio, antes de começar a listar os desacertos do PT. Ele não se ateve aos acontecimentos atuais e buscou nos anos 1980, quando o partido começava sua trajetória, fatos que marcaram a história petista, como a decisão de não apoiar a eleição de Tancredo Neves (PMDB) – avô do senador –, depois do insucesso da campanha das Diretas Já em 1984.
O tucano lembrou também que o PT não avalizou a Constituição federal de 1988, se recusou a participar do governo de Itamar Franco (então no PMDB), que assumiu logo após a queda de Fernando Collor (então no PRN), se opôs ao Plano Real e à Lei de Responsabilidade Fiscal, aprovada durante o governo FHC. “Onde esteve o PT em momentos cruciais, que ajudaram o Brasil a ser o que é hoje?”, questionou. Para o senador, todas as vezes em que teve que optar entre legenda ou o Brasil, o partido “escolheu o PT”.
Aécio repetiu o discurso que vem sendo feito por diversas lideranças do PSDB, principalmente pelo ex-presidente Fernando Henrique, de que o Brasil “não foi inventado em 2003”, quando o PT assumiu o poder. Para ele, o que o PT fez quando conquistou o Planalto foi dar continuidade às políticas criadas e implantadas por Fernando Henrique, sem jamais reconhecer sua importância para as conquistas alcançadas pelo atual governo.
Ética
O senador disse que não foi fácil escolher os “13 dos maiores fracassos” e “graves ameaças” ao futuro do país produzidos por Lula e Dilma. Entre os itens enumerados está o baixo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), a paralisia do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a falta de investimentos em infraestrutura no país, o sucateamento da indústria, o risco do apagão e o aumento da inflação.
O senador também não deixou passar em branco os casos de corrupção envolvendo integrantes do governo federal, entre eles o mensalão, julgado no ano passado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Sem citar diretamente nenhum desses casos, Aécio colocou a “defesa dos malfeitos e a complacência com os desvios éticos” como o “décimo terceiro fracasso do PT”. “Ao transformar a ética em componente menor da ação política, o PT presta enorme desserviço ao país, em especial às novas gerações”. O senador encerrou seu discurso dizendo que hoje quem governa o país não é mais a presidente, “é a lógica da reeleição”.
A lista de Aécio Neves
1) O comprometimento do nosso desenvolvimento
2) A paralisia do país: o PAC da propaganda e do marketing
3) O tempo perdido: a indústria sucateada
4) Inflação em alta: a estabilidade ameaçada
5) Perda da credibilidade: a contabilidade criativa
6) A destruição do patrimônio nacional: a derrocada da Petrobras e o desmonte das estatais
7) O eterno país do futuro: o mito da autossuficiência e a implosão do etanol
8) Ausência de planejamento: o risco de apagão
9) Desmantelamento da Federação: interesses do país subjugados a um projeto de poder
10) Brasil inseguro: (In)segurança pública e o flagelo das drogas
11) Descaso na saúde, frustração na educação
12) O mau exemplo: o estímulo à intolerância e o autoritarismo
13) A defesa dos maus feitos: a complacência com os desvios éticos